Animação tem fórmula irresistível para as crianças, mas tem elementos para os adultos também.
2016 está sendo apontado como o ano das adaptações de quadrinhos. Serão seis no total, sendo que a metade já estreou. Mas o que muita gente está se esquecendo é que também é o ano das animações. Muitos apontam “Zootopia“, da Disney, como o melhor filme do ano até o momento, e de fato ele merece esse posto, e ainda este ano teremos “Procurando Dory“, da Disney/Pixar; “Moana“, da Disney; “Pets – A Vida Secreta dos Bichos“, da Illumination; e “A Era Do Gelo – Big Bang“, da Fox.
Todos eles têm um grande estúdio, uma produção milionária e possivelmente terão seu público, mas também é preciso olhar com mais carinho para as animações independentes, que muitas vezes ficam restritas às premiações e festivais (“O Menino e o Mundo” está aí para comprovar). E em muitos casos essas animações acabam tendo elementos mais interessantes do que àquelas mais “blockbusters”.
É o caso de “No Mundo da Lua“, segundo filme de Enrique Gato após o sucesso de “As Aventuras de Tadeo” e o resultado é melhor do que o filme de 2012. A evolução técnica é notável e a história é mais atraente tanto para os adultos quanto para as crianças.
Os maiores vão se deliciar com a referência ao diretor Stanley Kubrick e a teoria da conspiração que existe até hoje, na qual diz que a ida do homem à lua inexistiu e tudo foi filmado pelo diretor, usando os mesmos recursos de “2001 – Uma Odisséia no Espaço“, lançado um ano antes da ida do homem à lua. Sem contar que os capangas do vilão são baseados em Steve Jobs e Bill Gates, inclusive na aparência física. Já os menores terão uma aventura espacial, uma história de superação e uma lição de moral familiar que certamente irá atingi-los.
Aliás, “No Mundo da Lua” compensa as limitações técnicas (o orçamento do filme foi de US$ 20 milhões) com um visual bacana, uma ação que funciona e personagens cativantes, à exceção do vilão, que apresenta carisma zero e com uma motivação até que convincente, mas que foi tão mal explorada que mal dá para o espectador se sentir tenso ou com a sensação de ameaça ao longo do filme. A idéia de um milionário megalomaníaco que quer conquistar a Lua renderia um vilão clássico, mas o roteiro se preocupou mais com a história dos mocinhos e menos em desenvolver o vilão, que acabou resultando em um personagem genérico.
Na história, o vilão Richard Carson pretende conquistar a Lua e apagar todos os vestígios dos astronautas da Apollo XI no satélite e “provar” ao mundo que o evento de 1969 foi uma farsa. Para tentar conter, a presidente dos EUA ordena que a NASA organize uma nova viagem à Lua e acabam recrutando os astronautas do passado. Nesse meio tempo, o garoto Mike Goldwing tenta aproximar seu pai, que é um astronauta de verdade, e seu avô, que abandonou a família após os fracassos do passado.
“No Mundo da Lua” apresenta todos os clichês para o público-alvo, ou seja, o infantil: o protagonista é um típico loser, mas é corajoso, tem um coração enorme, enfrenta os desafios e não demora muito para ganhar o status de herói. E ele tem dois amigos: um é o alívio cômico (sempre atrapalhado) e a outra é uma garotinha, que é a que apresenta mais juízo do grupo.
O filme foi o grande vencedor do Goya (o Oscar espanhol) de Melhor Animação e embora tenha sido lançado como produção espanhola, foi dublado em 3 idiomas: além do próprio espanhol, o catalão e inglês também. Mesmo não sendo perfeito, “No Mundo da Lua” tem várias qualidades que indicam que é uma questão de tempo para o diretor acertar nos próximos trabalhos. E justamente por isso não deve ser ignorado pelo grande público. Queremos mais animações bacanas, independentemente da produção ou país de origem.