Comédia aposta em estereótipos e elenco afiado, mas só acerta no final.
Para muitos, o casamento deixou de ser uma instituição sagrada, deixando de ser um elemento fundamental para a união de um casal. Porém, mesmo em 2014 da Era Comum, ainda existem mulheres que cometem loucuras para casar e conseguir “fisgar um bom partido”. “Loucas Pra Casar”, nova empreitada do diretor Roberto Santucci, explora bastante essas insanidades.
O filme conta a história de Malu (Ingrid Guimarães), uma mulher bem sucedida profissionalmente, que, aos quarenta anos, ainda não realizou seu grande sonho de se casar. Mesmo depois de descobrir vários casos de Samuel (Márcio Garcia), seu namorado, como Lúcia (Suzana Pires) uma dançarina de boate e Maria (Tatá Werneck), uma jovem religiosa, ela não desiste do relacionamento, pois se considera muito velha para conseguir outro homem tão bom quanto ele para dividir sua vida.
Ao invés de investir no aspecto machista e estereotipado de que as mulheres enlouquecem durante os preparativos para a festa (que muitas vezes parece mais importante do que aquilo que ela representa), o roteiro de Marcel Saback explora uma outra faceta da busca feminina pelo matrimônio. Ele opta por mostrar o aspecto machista e estereotipado que as mulheres são capazes de qualquer coisa para casar. Mesmo aquelas que são bem sucedidas social e profissionalmente parecem ter a necessidade de controlar cada passo do namorado (como manter uma agenda compartilhada constantemente atualizada, ou ter as senhas de todas as senhas de redes sociais) para conseguir o que parece ser o único objetivo realmente importante: o casamento. E esse não é o único problema do longa.
Apesar de evitar parecer apenas um especial de TV prolongado, o diretor se entrega (mais uma vez) à fórmula que tem sido sucesso nas bilheterias brasileiras. Uma história que flutua em torno de esquetes, não necessariamente conectadas, que são apenas encenações de piadas tradicionais da cultura popular. Ou seja, perde-se o elemento da surpresa, tão fundamental em uma comédia: no início da cena, sabemos exatamente como aquela situação irá acabar. Além disso, há uma avalanche de outros estereótipos e clichês das comédias nacionais: A lésbica masculinizada (e que foge dos padrões de beleza midiáticos), o homossexual escandaloso, a carioca fogosa e promíscua, a sogra conservadora e antipática (como se qualquer pessoa não ficasse horrorizada na situação em que esta conhece namorada do filho), piadas com banheiro e, obviamente, aquilo que ainda parece ser garantia de risos em produções nacionais do gênero, pessoas falando alto e famosos globais falando palavrões.
O diretor ainda desperdiça um elenco com grande talento para a comédia (exceção feita a Márcio Garcia, claro) ao insistir em transformar todas as sequências cômicas em imitações de canais de internet, como o Porta dos Fundos ou Parafernalha: os diálogos são compostos de frases curtas, pronunciados rapidamente para deixar a aparência de improviso e naturalidade. Ainda assim, as atrizes principais demonstram boa química e conseguem extrair boas risadas aqui e ali. Edmílson Filho tem uma participação pequena, mas rouba a cena sempre que aparece.
O final surpreendente, que realmente amarra bem toda a trama, deixa um gosto bom ao deixarmos a sala de projeção. É uma pena que para chegarmos a um desfecho minimamente ousado e criativo, tenhamos que atravessar tantos momentos absurdos e constrangedores.