Nem mesmo a boa química entre Leandro Hassum e Marcius Milhem sobrevive a tanta mediocridade.
“Os Caras de Pau” é um quadro humorístico criado para a TV pelos atores Marcius Melhem e Leandro Hassum. O quadro fez tanto sucesso que eles chegaram a ter um programa somente deles, que durou pouco. Talvez pelo fato de um quadro de 3 a 4 minutos não ter fôlego para sustentar um programa de meia hora de duração. Então, o que terá acontecido para que alguém tivesse a ideia de trazer a dupla para os cinemas? Talvez o sucesso recente de Leandro Hassum nas bilheterias.
O filme conta a história de Pedrão (Marcius Milhem) e Jorginho (Leandro Hassum), dois seguranças atrapalhados que foram contratados para vigiarem o secular anel Tatu Tatuado de Topázio (Meu Deus!), que pertence à socialite Gracinha de Medeiros (Christine Fernandes), em exposição no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Porém, depois que a joia quase é roubada por ninjas (Meu Deus!!), a dupla é acusada pelo crime e vai fazer de tudo para provar sua inocência. No entanto, para conseguir isso terá que escapar dos outros ninjas ladrões, um grupo de mafiosos portugueses liderados por Manoel Capone (André Matos) e a própria polícia que quer capturá-los de qualquer forma.
É difícil dizer o que é pior nos longuíssimos oitenta e cinco minutos de projeção. Já que o fiapo de história, sem pé nem cabeça, talvez não consiga preencher mais que duas linhas nas páginas de um roteiro, os (ir)resposáveis pelo script fazem de tudo para esticar piadas batidas e repetidas (muitas delas presentes no show da dupla, realmente engraçado, de 2008!) de um modo que ultrapassa qualquer limite do bom senso. A única coisa que poderia provocar algum riso, que é o delegado que não para de comer, é destruído na segunda cena em que isso ocorre, uma vez que a piada é imediatamente explicada. Tal ato demonstra, além da incompetência, um profundo desrespeito à inteligência do público, que aparentemente não seria capaz de captar um piada tão criativa. Sem falar, claro, nas piadas de “duplo” sentido, como as obviedades com o nome e tipo da joia que dá nome ao filme.
Além disso, as gags que não foram contadas por todos os humoristas do Brasil nos últimos cinquenta anos já foram utilizadas à exaustão em centenas de comédias pelo mundo afora. É um exercício bizarro imaginar os roteiristas em uma sala, morrendo de rir, discutindo as cenas: “Já sei! O gordo vai se engasgar comendo, afinal, todo gordo comendo é engraçado, aí o amigo dele vai tentar fazer a manobra Heimlich (aquela em que se aperta o abdômen, segurando por trás do corpo), claro que não sem antes ter dificuldade de entender o que ele está falando. Aí, o mordomo, obviamente afeminado, entra na hora e pensa que os dois, de terno e gravata, na verdade são gays e estão tentando fazer sexo de roupa. Como nós somos geniais!” E esse não é o pior momento do filme!
Nada no filme funciona. Até mesmo a química entre Hassum e Milhem, resultado da parceria de quase vinte anos, surge desgastada. O envolvimento entre Pedrão e Gracinha é tão inverossímil quanto qualquer outra “subtrama” da história. Igualmente constrangedora é a atuação de André Matos. Não deixa de ser lamentável ver um ator com seu talento sendo obrigado a interpretar o líder de uma máfia portuguesa (?), cujos membros se vestem e agem como italianos, que fala como Don Corleone (talvez o maior sacrilégio da fita). Com trinta segundos em tela, fica visível a razão da escolha da nacionalidade dos criminosos: fazer uso de piadas de português!!
Diante de tudo isso, só resta a esse humilde crítico evitar utilizar as palavras de Roger Ebert, talvez o crítico de cinema mais importante da história, ao comentar uma outra “comédia” desse nível: “Eu odiei esse filme! Odiei, odiei, odiei, odiei“ e simplesmente lamentar o nível das comédias que atingem o grande público de cinema no Brasil.