Um suspense que se preocupa mais com a situação do que com os personagens.
Se em “Por um Fio”, de Joel Schumacher, o protagonista Stu Shepard não pode desligar o telefone público, pois está sob ameaça de um terrorista, em “Toque de Mestre” a situação se repete, mas a diferença é que o personagem de Elijah Wood troca o telefone pelo piano e não pode errar nenhuma nota. Em ambas as histórias, a tensão é essencial para que o filme funcione diante o público e “Toque de Mestre” consegue cumprir bem o espetáculo.
Elijah Wood é o pianista Tom Selznick que, após uma pausa de cinco anos longe dos palcos, retorna para uma apresentação em memória ao seu antigo professor Patrick Godureaux (Jack Taylor). Deste os primeiros minutos, Selznick está desconfortável e deseja que algo lhe aconteça evitando a apresentação, já que na última vez tentou tocar a “música intocável” de Godureaux acabou travando de medo, virando uma piada no meio musical. Contudo, a noite promete momentos piores para o músico e, quando finalmente começa a apresentação, recebe um aviso que se errar alguma nota da temível “música intocável” ele e sua esposa Emma Selznick (Kerry Bishé) irão morrer.
A câmera de Eugenio Mira quase sempre se encontra em movimento, não dando muito espaço para cortes, mantendo a tensão por mais tempo em cada cena, além de dar agilidade quando a história aumenta o ritmo. Isso se deve também ao ótimo trabalho de edição de José Luis Romeu, responsável por fazer o filme fluir sem chamar atenção para si, mas nem sempre consegue. É interessante destacar alguns detalhes, como as passagens de cena do elevador abrindo e fechando com diferentes personagens e posteriormente quando uma personagem vai ser assassinada e corta para um instrumento musical, realizando uma sincronia perfeita de movimento. Lamentável que Mira insista em artifícios que acabam não tendo nenhuma importância na linguagem do filme, como em várias vezes que vemos o reflexo de Selznick seja no espelho ou no piano, que faz toda a diferença em “Cisne Negro” por causa do simbolismo da dualidade, mas que aqui é por puro capricho.
O roteirista Damien Chazelle entrega uma história envolvente até o último minuto, com diálogos interessantes entre o pianista e o terrorista (John Cusack), principalmente quando eles conversam sobre a imaginação dos artistas, uma conversa que fará todo sentido no final quando a história deixa para o público usar sua imaginação e mostrar que também podemos ser artistas. A trama escorrega em alguns argumentos, como Tom Selznick ser dono de um cérebro digno de estudos científicos . Ele consegue, com toda a pressão de ser ameaçado de morte e o terrorista falando sem parar no seu ouvido, escrever no celular, deixar o aparelho cair e depois pegá-lo, e presenciar uma morte, ao mesmo tempo que está tocando, sem perder a concentração. Pior quando leva duas pancadas na cabeça e se recupera rapidamente, sem falar da queda em determinado momento que mataria qualquer um. Além disso, Chazelle deixa no vácuo um melhor desenvolvimento para o terrorista, já que fica sem explicação como ele tem tantas informações sobre Selznick.
Sobre o elenco, o único exigido é Elijah Wood, o que não poderia ser diferente já que tudo acontece ao seu redor. Ele transmite com eficiência o sufoco que o personagem passa durante a apresentação. Repare na repetição de vezes que ele enxuga as mãos para aliviar a tensão.
Víctor Reyes, com uma responsabilidade enorme de fazer da música um personagem importante, junto com a equipe de som, impressiona na trilha sonora deste o cristalino som do piano até o som abafado do fone de ouvido de Selznick. A fotografia de Unax Mendía tem grande presença de cores frias para destacar o vermelho que domina praticamente o teatro inteiro, representando a violência que invade aquele local.
“Toque de Mestre” não é impecável e o final pode parecer injusto para o público em geral, mas, mesmo com as falhas, cumpre bem o seu papel como um tenso suspense. Entre notas altas e baixas, Eugenio Mira consegue manter a melodia para evitar um fim trágico.