Segundo dia de mostra competitiva em Canoa Quebrada traz boas surpresas
“Memórias Externas de uma Mulher Serrilhada” foi o destaque da noite.
A noite de quarta-feira (12) marcou o segundo dia de exibição da Mostra Competitiva do 8º Curta Canoa – Festival Latino-Americano de Cinema de Canoa Quebrada. Ao todo, foram exibidas nove produções, entre vídeos e filmes, com temáticas variadas.
Os grandes destaques da noite ficaram a cargo das produções paulistas. O belo “Linear” (foto), filme de Amir Admoni, encantou a plateia ao brincar com as discrepâncias estéticas entre o cotidiano de um ser ínfimo perante a agitação de uma metrópole megalomaníaca como São Paulo. A crítica social implícita no papel daqueles que compõem o eixo organizacional urbano foi bastante feliz ao ser inserida em uma metáfora simples e direta, com ênfase no belo trabalho visual alcançado.
O conterrâneo “A Noite dos Palhaços Mudos”, de Juliano Luccas, arrancou suspiros com o seu visual limpo, mas ao mesmo tempo mágico. Sua competente montagem proporcionou a criação de uma trama impecável do ponto de vista técnico, com nuances de drama e comédia sendo muito bem exploradas. Sendo assim, a premissa da extinção do velho humor ingênuo arranca risadas, mas propõe ao mesmo tempo um tom dramático, bem explorado, sendo facilmente percebido na expressão daqueles que não mais conseguem encontrar um papel na sociedade.
Mais uma produção paulista, “A Flor e a Tempestade”, de Gabriel S. S. Nocera, também se utilizou da metáfora para expressar a passagem do tempo na vida de um velhinho, por meio de uma flor submetida a diversas intempéries ambientais. Apesar do bom argumento, a execução não foi feliz ao quebrar diversas vezes a imersão do espectador na trama, falhando ao gerar expectativas vãs em relação a um possível clímax que nunca aconteceu.
“O Velho e o Novo”, de Daniel Caetano, foi talvez uma das grandes decepções da noite. O vídeo mostrava uma situação conspiratória, denunciando um esquema responsável pela farsa da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek. O argumento da obra se mostrou surpreendente, deixando uma sensação de que poderia ter rendido melhores momentos ao espectador. A ideia de utilizar uma dublagem em português em cima do diálogo dos atores brasileiros Augusto Madeira e Gregório Duvivier não foi bem-sucedida, mostrando uma falta de sincronia que por vezes incomodou.
Em um tom road movie, o gaúcho “Inca”, de Bruno Carvalho, apresentou um visual rico, cheio de belas paisagens. A trama abordava a vida de um garoto brasileiro que, ao buscar novas aventuras ao redor do mundo, vivenciou de perto a cultura inca, carregando traços da mesma, se inserindo profundamente no contexto de vida daqueles que o cercavam, ao ponto de ser englobado por essa realidade.
Três vídeos representaram o Nordeste nessa noite, sendo eles o paraibano “Antoninha”, de Laercio Filho, que misturou fé, misticismo e sensualidade para contar uma história em pleno sertão; “Curta-Metragem”, de Ítalo Nóbrega, que foi o representante cearense da noite, mostrando a obra do ícone da cena musical cearense Rodger Rogério, por meio de uma música homônimo; e o documentário “Hempocrisy”, da pernambucana Maria Aline Moraes, que faz uma forte crítica social sobre a legalização do uso da maconha no Brasil, amparada nos moldes implantados na Holanda.
Mas sem dúvida, o grande destaque da noite foi a exibição do paulista “Memórias Externas de uma Mulher Serrilhada”. A atriz Ana Georgina Castro roubou a cena como a protagonista dessa trama, capaz de um impressionante magnetismo com o público, expondo a cruel face da falta de privacidade vivida nos tempos de hoje. A cena final é crua e explora sem limites o incrível potencial de sua protagonista.
Nesta quinta-feira (13), as exibições continuarão, com a apresentação de mais dez produções. O Festival Curta Canoa segue até o próximo sábado, quando serão anunciados os vencedores do Troféu Lua Estrela
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O Cinema com Rapadura está em Canoa Quebrada a convite da organização do evento.
Saiba Mais: Curta Canoa 2012