Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 07 de maio de 2012

Anjos da Lei (2012): comédia de ação brinca com seriado dos anos 1980

A última coisa a se esperar de um filme que levasse a marca "Anjos da Lei" para o cinema é esse longa que está no cinema, que funciona muito bem em sua insana proposta.

A série de TV oitentista “Anjos da Lei”, além de ter servido de trampolim para o hoje astro Johnny Depp, foi um estouro no Brasil quando de seu lançamento. O programa mostrava uma unidade policial americana, sediada em uma igreja no número 21 da rua Jump, especializada em se infiltrar em colégios para resolver crimes.

Bom, se o caro leitor curtia as aventuras dos oficiais Tom Hanson e Doug Penhall, pode se chocar e muito ao assistir à versão cinematográfica. O filme está para o seriado assim como o Batman de Adam West está para os quadrinhos do homem-morcego, avacalhando até dizer chega todo o conceito da adaptação e seus personagens. O que não é exatamente ruim, tendo em vista que o resultado é simplesmente hilário

O roteiro, escrito por Michael Bacall (co-roteirista de “Scott Pilgrim Contra o Mundo”), nos apresenta a dois novos policiais, Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum). Enquanto adolescentes, eles eram as perfeitas encarnações de dois estereótipos colegiais como o nerd e o atleta metido a besta.

Ao entrarem na academia de polícia, eles  passaram a ser como irmãos, um aproveitando o que o outro tem de bom, se graduando por conta dessa amizade. Mesmo assim, os dois ainda são tidos como verdadeiras piadas na força. Após uma burrada homérica, os protagonistas são transferidos para a unidade dos Anjos da Lei, tendo a missão de frequentar uma escola e descobrir quem lá está traficando e fabricando uma poderosíssima droga sintética.

O ritmo do filme e suas piadas sempre à mil por hora são as últimas coisas que um fã do material original poderia esperar. Quem viu “Projeto X – Uma Festa Fora de Controle”, sabe que a especialidade dele é o humor escrachado e até meio auto-depreciativo, exatamente o que vemos aos baldes aqui.

Nerds, atletas, os aqui chamados “ecochatos” e até mesmo o próprio filme são igualmente vítimas do humor bastante ácido – e honesto – de Bacall, sempre fazendo um contrate do mundo adolescente atual com o da geração passada, com Schmidt e Jenko servindo como os olhos do público para isso.

Ao fazer graça com TODOS os clichês de uma adaptação de um seriado antigo para o cinema, o longa ganha a simpatia do público médio que não conhece o material original, mas pode afastar quem esperava algo nos moldes do antigo seriado, “homenageado” de uma forma bastante gráfica no último ato da projeção.

Os diretores Phil Lord e Chris Miller se mostram bastante à vontade com a proposta da produção, embarcando na brincadeira sem pudor nenhum. O estilo gráfico adotado pelos cineastas em alguns momentos se mostra um tanto quanto… estranho, mas casa bem com a insanidade da fita e com o passado de animação dos dois.

A química entre Jonah Hill e Channing Tatum é incrível, com a dinâmica entre eles funcionando quase como se estivessem vivendo um casal. Hill, que estourou como “o gordinho de ‘Superbad – É Hoje’”, já teve sua veia cômica mais do que explorada anteriormente, mas é Tatum, cujos projetos mostram uma aparente vontade do ator de se tornar um novo astro de ação, quem mais surpreende ao se entregar de cabeça ao besteirol em alguns pontos.

No elenco coadjuvante, Brie Larson aparece doce na medida certa como o interesse amoroso de Schmidt e o rapper Ice Cube arranca gargalhadas como o capitão de polícia negro e raivoso da dupla principal, reconhecendo o chavão que o personagem é e mergulhando de cabeça nisso.

“Anjos da Lei” não é o que os fãs da série esperavam, mas é um filme divertidíssimo, sem medo de fazer piadas sujas ou de ser mal encarado pela polícia do politicamente correto. Quem curtia o seriado, vá de cabeça aberta e prepare-se para 90 minutos de gargalhadas descompromissadas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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