Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de janeiro de 2012

Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida: o herói de Steven Spielberg

Longa de 1981 rendeu uma das franquias mais famosas do cinema.

Steven Spielberg exerceu uma indiscutível influência na maneira de se fazer filmes, especialmente até o início dos anos 90. Suas obras, sempre carregadas de uma atmosfera juvenil e aventuresca, conquistaram um público fiel e necessitado deste tipo de entretenimento, que equilibrava o bom uso da linguagem artística e a leveza da diversão. Com filmes como “Tubarão” e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, Spielberg ajudou a inaugurar a tendência dos blockbusters, que até hoje garantem o sustento financeiro da indústria cinematográfica norte-americana.

“Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” leva ao grande público uma figura já muito trabalhada em filmes independentes: o aventureiro de chapéu e chicote. Não se trata apenas de um estereótipo, mas de um símbolo da bravura, valor tão reforçado na cultura estadunidense. Porém, no filme de Spielberg, este símbolo é timidamente desconstruído. Isso pode ser muito bem observado no seu grande medo por cobras e quando se embriaga após a suposta morte de sua namorada, em vez de partir para a vingança como os heróis tradicionais fariam. Essa personalidade, sutilmente fragilizada, é muito importante para dar mais humanidade e realismo ao personagem, facilitando seu vínculo com o público.

A história de George Lucas, que também produz o longa, não poderia ser mais acadêmica. Toda a narrativa se desenvolve a partir do ponto de conflito, onde alguém deseja algo e encontra um obstáculo à efetivação desse desejo. Nesse caso, Indiana Jones deseja encontrar a Arca da Aliança, mas tem que competir com outras pessoas que também querem o mesmo. Os motivos de cada lado dividem claramente o mocinho e o vilão: Jones (Harrison Ford) representa os nobres valores de conservação histórica, enquanto os inimigos nazistas representam a busca pelo poder a fim de usá-lo da pior forma possível. Ainda assim, há uma tentativa ingênua, mas válida, de crítica ao ideal de herói, com o vilão Belloq (Paul Freeman) nos lembrando constante e didaticamente que Jones é muito parecido com ele.

A escolha por planos abertos nas cenas de ação permite uma melhor noção geográfica do cenário por parte do público. A montagem controlada nessas mesmas sequências garante o ritmo necessário para a adrenalina sem deixar de valorizar a coreografia, as marcações e a própria composição do quadro, que sempre busca o preenchimento de espaços vazios. Tudo isso é ajudado pela competente direção de arte, que possibilita uma integração do cenário e dos objetos na construção dramatúrgica, servindo não apenas como artefatos decorativos ou uma mera reprodução de determinada época ou local.

A fotografia trabalha muito com sombras e contraluz, que cumprem funções diferentes de acordo com o personagem a que serve. Por exemplo, o uso da iluminação em torno do protagonista na primeira sequência do filme, assim como no primeiro reencontro com sua antiga namorada, serve para glorificá-lo em meio aos demais. Já nas cenas de apresentação dos vilões, as sombras servem para criar uma tensão que antecipa uma ameaça. Apesar de simples e desgastado mesmo para a época, esse recurso cumpre seu papel na maioria das vezes. Porém, é tão usado ao longo do filme, provavelmente buscando uma unidade estética, que se torna previsível e perde sua utilidade narrativa.

“Indiana Jones e os Caçadores da Arca perdida” rendeu uma das mais famosas franquias do cinema, que está em desenvolvimento até hoje. É talvez o filme mais emblemático da carreira de Steven Spielberg, consolidando-o como um dos melhores diretores contemporâneos. Com sua simplicidade, foi responsável por introduzir muitos jovens à apreciação e à produção da sétima arte, marcando toda uma geração.

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Thiago César é formado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas aspirante a cineasta. Já fez cursos na área de audiovisual e realiza filmes independentes.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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