Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de janeiro de 2012

As Aventuras de Agamenon, O Repórter: comédia nacional pouco inspirada

Piadas pontuais marcam este fraco o longa-metragem que conta a vida e, principalmente, os causos protagonizados por esse controverso jornalista.

Os últimos anos deixaram bastante claro que adaptar sitcoms e quadros televisivos nacionais para os cinemas não deriva nos mais agradáveis dos resultados. Não se trata apenas de se estender episódios curtos para outros de no mínimo oitenta minutos, mas sim de modificar linguagens, alterar padrões e incluir irresistíveis novidades. “Os Normais” (em ambas as produções), “A Grande Família” e, mais recentemente, “Cilada” deixaram explícita essa dificuldade ao simplesmente apresentarem, em seus respectivos longas-metragens, piadas pontuais, que certamente divertem, mas que não passam de um entretenimento mediano que afronta a linguagem cinematográfica. Do mesmo mal sofre este “As Aventuras de Agamenon, O Repórter”, coluna do Jornal O Globo que virou quadro do Fantástico, de onde jamais deveria ter saído.

De meros cômicos causos protagonizados por um jornalista controverso passamos a assistir meros cômicos causos protagonizados por esse mesmo profissional, com a diferença que são vários ao mesmo tempo, além de sabermos, desnecessariamente, da vida pessoal desse homem de destino conturbado, empregado do mesmo jornal O Globo e com uma incrível capacidade de estar presente em eventos históricos. Funciona mais ou menos como se comprássemos o DVD das temporadas já exibidas e assistíssemos a todos os episódios de uma só vez, com direito a extras contando isoladamente sua biografia, já que a cola que une todas essas histórias pertence a uma marca de péssima qualidade.

E a cola ruim fica sob responsabilidade da narração em off de uma Fernanda Montenegro visivelmente desconfortável e de um Ruy Castro surpreendentemente natural. O roteiro dos ex-cassetas Hubert, que interpreta o próprio Agamenon na versão atual, e Marcelo Madureira, pelo menos, tem a ideia inicial de realizar um falso documentário em que artistas e políticos, como Caetano Veloso e Fernando Henrique Cardoso, contam as suas próprias experiências com o repórter, exaltando a sua fama e dando ao filme um ar ainda mais brincalhão, como se a essência do personagem já não fosse suficiente. E como não poderia faltar em docs sobre personalidades, está lá Nelson Motta, em um dos melhores momentos do longa, fazendo piada sobre as próprias recorrentes participações em produções do gênero.

A partir de então, as aventuras do jornalista começam verdadeiramente, indo de tiroteios na esquina a intervenções na Segunda Guerra Mundial. Felizmente, neste caso, pretensão não falta ao script de Hubert e Madureira, que colocam Agamenon nas mais bizarras situações, sendo algumas delas incrivelmente originais e outras nem tanto. Em suma, a História Contemporânea do Mundo é reescrita através de um humor anárquico, mas jamais crítico, que por vezes visita o limite do mau gosto, quase extrapolando-o, o que certamente incomodará os mais conservadores. Até mesmo personagens do mundo do cinema que estiveram presentes em versões ficcionais de eventos históricos entram na brincadeira, sendo o “momento Titanic” outro que merece ser citado.

Se diversas dessas partes funcionam isoladamente, o conjunto decepciona e torna-se mais frágil quando partes específicas da vida profissional de Agamenon, como as entrevistas mais marcantes, são exibidas sem diálogo algum com o já desmembrado conteúdo apresentado, tornando explícito o grande episódio que é o filme. Nem mesmo a inserção da personagem Isaura (Luana Piovani), como o caso conjugal do protagonista, ajuda a fazer de Agamenon alguém minimamente real, já que o romance esbarra na ânsia do roteiro em vomitar um humor mais físico do que o habitual, que não hesita em explorar toda a sensualidade de Piovani. E alguém pode explicar a razão da existência do psicoproctologista Jacintho Leite Aquino Rêgo (Madureira) além da possibilidade de fazer graça sobre o seu nome e sua profissão?

Entre estas e outras caricaturas exageradas (não se trata de uma redundância, acredite), pelo menos temos Marcelo Adnet, como o jovem Agamenon, demonstrando ainda mais versatilidade e ensinando aos colegas de filme que para ser engraçado não é preciso muitas caras e bocas. Ele se aproveita ao máximo da edição dinâmica e da direção de Victor Lopes, que, mesmo sendo mais cinematográfica do que outras adaptações de séries e quadros televisivos, soa confusa ao misturar colagens com restituições, quando a primeira estratégia é bastante superior à segunda e proporcionam as melhores sequências desse filme, as quais fariam juz à originalidade de seu protagonista se continuassem a ser exibidas semanalmente, sem pretensões além.

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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.

Darlano Didimo
@rapadura

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