Produzido por Steven Spielberg e dirigido por Shawn Levy, o filme é quase um daqueles longas esportivos oitentistas. Mas com robôs.
Um fator usado a favor deste “Gigantes de Aço” é que se trata de filme fora de seu tempo. Se fosse produzido nos anos 1980, seria apenas mais uma fita de superação esportiva e de relacionamento entre pai e filho. Lançado hoje em dia, ele ganha um valor de nostalgia. O que não o impede de ser imbecil. Apesar de bastante divertido, é um apanhado de clichês oitentistas embalado em uma caixa de brinquedo de robôs lutadores, algo do que os realizadores parecem ter plena consciência.
Dirigido por Shawn Levy, o longa nos apresenta a Charlie (Hugh Jackman), um ex-boxeador em um mundo onde ninguém mais liga para lutas entre humanos. Sua carreira controlando robôs lutadores, o esporte favorito do país, está indo de mal a pior. Após a morte de sua ex-namorada, ele se vê obrigado a passar alguns meses com seu filho, Max (Dakota Goyo). Acidentalmente, os dois descobrem em uma sucata um robô velho, Atom. O desacreditado maquinário pode ser a chave de Charlie para o topo e, de quebra, ajudá-lo a se conectar com o garoto.
Inicialmente, o roteiro de John Gatins estabelece bem o mundo de 2020, onde se passa a história, algo fortalecido pela direção de arte. Pequenos detalhes tecnológicos, todos baseados na nossa tecnologia atual, e discussões sobre os bastidores do esporte (seja no meio underground ou no campeonato principal) ajudam a dar alguma credibilidade ao que vemos na tela.
A questão está justamente na trama principal. Para ser justo, o filme tinha de dar créditos a Sylvester Stallone, tendo em vista quão grande a influência da série “Rocky” se apresenta durante a projeção. As mais aparentes são a sequência de treinamento, o modo como as lutas (especialmente a final) se desenrolam e, claro, os vilões. Ah, esses merecem ser comentados em especial.
Os antagonistas são o casal Tak Mashido e Farra Lemkova, vividos respectivamente por Karl Yune e Olga Fonda. Parece-me que Gatins simplesmente pegou o roteiro de “Rocky IV” e copiou e colou as falas de Ivan Drago e sua esposa. A unidimensionalidade dos personagens torna impossível não reparar nessas semelhanças, algo que ressalta a antipatia que sentimos por eles, em um bizarro caso de transferência. Até mesmo o robô controlado por Mashido, Zeus, tem um visual que remete diretamente ao Megratron do desenho original de “Transformers”, completando o clima “vinte e poucos anos” que toma conta da projeção.
Vejamos o visual de Atom. Simples e esguio, seu design é bastante funcional. No entanto, o que acaba chamando mais atenção é um “sorriso” no rosto do robô. Esse é um dos sinais de um dos plots mais despropositados que já vi, no qual tenta-se vender a ideia de que Atom tem consciência. Tal ideia surge do nada e é desenvolvida de uma maneira sutil como uma marreta, por meio de uma cena onde Atom fica em frente a um espelho, e não leva a absolutamente lugar nenhum.
No entanto, os problemas do roteiro são compensados pelo fator diversão. Hugh Jackman acerta o tom na caracterização de Charlie, fazendo com que a evolução do personagem de idiota completo a um cara meramente incompreendido não soe (excessivamente) artificial. Sua química com Dakota Goyo funciona, com o pequeno Max se apresentando de modo esperto e determinado, mas sem esquecer de ser criança, vide a cena na qual ele descreve com empolgação infantil uma luta de Zeus.
Se por meio de Max nos interessamos pelo universo das lutas de robôs, é pela namorada de Charlie, Bailey, que nos é mostrado um pouco do passado do protagonista. No entanto, isso é feito de maneira bastante expositiva, com sua função depois disso se resumindo a ser uma versão futurista de Adrien. Uma pena para Evangeline Lilly, que é melhor atriz do que isso.
Por falar em egressos de “Lost”, Kevin Durand surge estereotipado como nunca no papel de um ex-lutador sulista inimigo de Charlie, que some durante boa parte da trama e reaparece exatamente no momento mais inconveniente possível, com o longa tentando dar uma resolução a esta figura de uma maneira bastante forçada. O bom Anthony Mackie também participa da trama, de modo bastante discreto.
Danny Elfman faz um trabalho genérico na trilha sonora, nem de longe lembrando seus desafios habituais. Shawn Levy, que já demonstrou saber lidar com efeitos especiais na franquia “Uma Noite no Museu”, também se sai bem nesse quesito aqui. As lutas entre os robôs são bem coreografadas e empolgam o público, sendo filmadas de modo bastante energético, embora longe de original. O mesmo pode ser dito do filme. Tem seus defeitos, pode não ser lá muito inteligente, original ou inovador, mas ao menos não ofende o público e diverte na medida certa.