Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 04 de dezembro de 2010

Skyline – A Invasão

O novo filme sobre a invasão da terra por seres alienígenas é o lançamento mais descartável do ano. Aos saudosistas, minhas condolências.

A pretensão exacerbada de alguns diretores ultrapassa o limite do que pode ser suportado em uma sala de cinema. Fazer um filme sobre raios extraterrenos de luz azul que transformam humanos em protótipos pouco convincentes de zumbis é uma empreitada complicada. Com o trabalho dividido entre profissionais ainda incapazes para o cumprimento satisfatório de metas tão ambiciosas, o que chega ao público é um filme que não marca nenhum ponto positivo e que mais parece o resultado de um roteiro concebido numa mesa de bar. Este é “Skyline – A Invasão”.

Na cabeceira dessa mesa de bar estão os irmãos Strause (Greg e Colin), mais conhecidos pelo trabalho de efeitos especiais realizado para clipes musicais e filmes de grande apelo popular. É deles, por exemplo, a atualmente obsoleta sequência em que o navio se choca contra um iceberg, em “Titanic”. Os Strause são responsáveis pela direção e produção de “Skyline”, e não carregam mérito algum por seus esforços nesse filme.

O roteiro tenta traçar uma narrativa lógica sobre um grupo de amigos que se reúne para celebrar o dinheiro e o sucesso. Após o fim da festa, enquanto estão largados no chão de uma cobertura luxuosa, alguns feixes de luz azul invadem o ambiente e causam estranhas reações no corpo de um dos personagens. Então, sob os olhares assustados de seus companheiros, o rapaz é “sugado” pelo espectro luminoso e desaparece, marcando o início de uma saga cheia de falhas.

A apatia do núcleo central de protagonistas é tão patente que não deixa espaço para que o público desenvolva qualquer tipo de identificação com os personagens. Todas as tentativas de dramatização dos fatos passam longe de atingir o grau de apelo necessário para causar desconforto no espectador. O que nos resta é tolerar, durante os 100 minutos de projeção, uma convivência que não flui e que parece tão artificial quanto os efeitos especiais que acompanham os espectros de luz.

O papel principal da trama cai nas mãos do americano Eric Balfour, veterano na obtenção de papéis de destaque em seriados que não alcançam a segunda temporada nos Estados Unidos. Ao seu lado está um time formado por atores que transitam entre os extremos do inexpressivo e do caricato. Felizmente, e seguindo o modelo dos tradicionais filmes de horror, os personagens são retirados gradativamente de cena, com justificativas que beiram o grotesco.

As imagens aéreas de uma metrópole que não resiste ao ataque de monstros espaciais lembram as problemáticas sequências de produções infanto-juvenis baseadas na cultura dos monstros japoneses. Tudo em “Skyline” parece uma versão sensivelmente piorada de séries como “Changeman”, “Jaspion” e “Power Rangers”.

Para embalar as imagens de perseguição e fuga, os momentos de tensão e desentendimento entre os personagens, e uma constrangedora sequência em câmera lenta, foi selecionada uma trilha sonora antenada ao que se ouve nas rádios. Os exemplares de black music e os gritos guturais de canções pesadas guiam a narrativa e ajudam a consolidar um incômodo clima de que nada se encaixa.

Ao final da projeção – para aqueles que corajosamente chegaram ao seu fim – a sensação é de tempo perdido. “Skyline” é o tipo de filme que não assusta, não diverte e não convence. Com um apanhado de tudo o que há de pior na produção cinematográfica deste ano, a história da invasão da terra por seres alienígenas deve figurar na lista do que precisa ser esquecido.

Os irmãos Strause anunciaram que “Skyline” seria, possivelmente, o primeiro filme de uma série sobre o tema. Alguém mais vai arriscar?

Jader Santana
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