Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 04 de dezembro de 2010

Skyline – A Invasão

Uma espécie de “Guerra dos Mundos” sem pé e completamente sem cabeça.

Demorou pouco mais de um ano para que os extraterrestres percebessem que investir no continente africano trazia mais prejuízos do que benefícios. Afinal, em “Distrito 9”, eles eram tratados como prisioneiros e criminosos, sendo forçados a permanecerem em um território feito “exclusivamente” para a sua temporária morada. Foi preciso apenas um pouco de pesquisa histórica cinematográfica para se darem conta de que o próximo lugar a invadir deveria ser novamente o mais poderoso país do mundo, onde já atacaram incessantemente e realizaram estragos bem maiores. Dessa forma, preparam-se melhor. Turbinaram suas armas e montaram uma infalível estratégia, dirigindo-se posteriormente para a cidade que abriga Hollywood.

A brincadeira acima não poderia existir se o mais novo longa de ficção envolvendo ETs fosse uma produção de qualidade. Mas “Skyline – A Invasão” consegue ser pior do que isso, constituindo-se em uma piada, assim como o primeiro parágrafo. O filme é nada menos do que uma terrível ideia inicial, nascida provavelmente depois de uma sessão extraordinária de “Guerra dos Mundos” e posteriormente entregue a uma dupla de diretores ruins, mas sedenta por ação. Financiado pelos próprios diretores (e também por outro famoso cineasta, Brett Ratner), o projeto pôde ser colocado em prática graças à participação de jovens e inocentes atores, que transformam a película em um desfile de péssimas atuações.

A sinopse do filme é bem simples, e nem poderia trazer alguma complexidade. Um grupo de amigos se reencontra em Los Angeles, no que deveria ser um agradável período de descanso e curtição para eles. Mas logo na primeira noite de sono, eles se deparam com estranhas, abdutoras e irresistíveis luzes azuis advindas do céu da cidade.  Perguntas são colocadas por eles até que naves espaciais se instalam por sobre os altos edifícios , dando início a um ataque selvagem que parece ter apenas um intuito: dizimar a população local.

E assim, sem querer explicar ou justificar nenhum fenômeno extraterrestre, os roteiristas Joshua Cordes e Liam O’Donell constroem sua história, deixando para o público os mais inúmeros questionamentos acerca, até mesmo, das razões para a invasão ou o que acomete o protagonista Jarrod (Eric Balfour) que o transforma em alguém aparentemente (apenas aparentemente) especial. A explicação pode ser tirada ao se dar uma breve olhada no currículo da dupla. Em seu primeiro trabalho nesse posto, eles estão mais acostumados com a arte dos efeitos especiais, tendo desempenhado diversas funções na área na última década.

Mesmo assim, ainda se torna espantoso ouvir os medonhos diálogos e personagens desenvolvidos por eles, especialmente na primeira parte do filme. Porém, até mesmo depois de montar seu show, a dupla de roteiristas insiste em querer inserir, em meio a mortes, tiros e correrias, rasos dilemas amorosos que emperram o ritmo da trama e buscam algum tipo de sentimento. Então, não se espante se ao fugirem desesperadamente de um enorme e furioso ser, os personagens pararem e se olharem com o ódio que apenas uma traição infantil provoca.

Cordes e O’Donell são capazes até de matarem precipitadamente um dos protagonistas, substituindo-o por outro ainda mais desinteressante, dono de um inglês medonho e físico inapropriado, mas que carrega um molho de chaves  que o torna “indispensável” para a vida dos amigos. Eles nos provocam ainda mais indignação ao fazerem de Jarrod um homem chato e insistente, que possui uma recorrente ideia de sair do prédio e fugir para a marina, aonde teoricamente estariam livre dos ataques. E quando os fatos provam o contrário, a vontade é de se revoltar contra sua estupidez.

Os melhores (entenda como “menos ruins”) momentos de “Skyline” acontecem nas cenas de ação, quando não é preciso dizer uma só palavra, apenas agir. Aqui entra o trabalho dos diretores Colin e Greg Strause, que apostam na grandiosidade, no exagero. Los Angeles é dominada por seres dos mais variados tamanhos, de pequenos objetos voadores a monstros da altura de um prédio de vários andares. Donos da tradicional empresa de efeitos especiais Hydraulx, os irmãos Strause, porém, não impressionam com a tecnologia utilizada para construir seus seres (que em alguns momentos se assemelham ao alien de “Alien vs. Predador”, o primeiro e único longa deles).

Com meros US$ 10 milhões de orçamento, eles passam longe de superar resultados semelhantes, como do próprio “Distrito 9”. Por outro lado, os cineastas até conseguem dar alguns sustos e manter alguma tensão, especialmente na sequência em que os jovens tentam chegar na marina. No entanto, acima de tudo, os Strause são péssimos diretores de atores, sendo, em parte, responsáveis por atuações terríveis que comprometem o convencimento da história, trazendo em David Zayas seu exemplo mais categórico.

E quando pensamos que a tragédia chega ao fim com um desfecho melodramático, “Skyline – A Invasão” exibe uma extensão de tempo que dispensa adjetivo de caráter negativo, dado o nível de mau gosto das sequências. Falhando em todos os âmbitos, o filme ainda tem a pretensão de trazer um plot para uma continuação. As invasões alienígenas nos Estados Unidos acabam de ganhar um de seus episódios mais bizarros.

Darlano Didimo
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre