Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 05 de setembro de 2010

Como Cães e Gatos 2 – A Vingança de Kitty Galore

Cães, gatos e pombos se unem em prol de um filme feito para as crianças, mas que não deve agradar nem a elas.

Como estão pretensiosos os filmes e franquias atuais de classificação etária para menores de 10 anos! Não, a frase não está equivocada em nenhum sentido. Na verdade, são esses filmes que estão. Com histórias bobas, efeitos especiais capengas, piadas imbecis e uma série de personagens-bichos nada carismáticos, eles menosprezam a inteligência do público, especialmente dos pais, forçados a acompanhar os herdeiros em mais uma aventura cinematográfica. Que tortura!

E como essas produções gostam de explosões ou de envolver o mundo inteiro em suas tramas. É uma tal fama internacional de bichinhos cantores, como em “Alvin e os Esquilos 2” e seu predecessor, ou uma incrível vontade de destruir o planeta, como em “Força G”. É assim também em “Como Cães e Gatos”, longa-metragem de 2001, que demorou a ter sua sequência produzida. Mas depois de conferir o resultado, é necessário que se diga: bem que “saguinha” envolvendo caninos e felinos poderia ter sido aposentada no começo da década. E para piorar a situação, ainda acrescentaram um adereço extra desnecessário: os óculos 3D.

Em “Como Cães e Gatos 2 – A Vingança de Kitty Galore”, a gata que ganha nome no título do filme é a grande vilã da fita. Ex-integrante da organização MIAU de espiões felinos, ela agora está com o mais maquiavélico dos planos em mente, e seus alvos não poderiam ser ninguém além dos cães. A megalomania dos ideiais de Kitty, porém, forçam a maior rivalidade do mundo animal a chegar a um fim, pelo menos temporariamente. Com uma equipe de espionagem que conta com dois cachorros e uma gata (além de um pombo), os bichos fazem de tudo (tudo mesmo, e pode colocar a imaginação para funcionar) para impedir as mais bizarras intenções de Kitty Galore.

Pois é, é com essa trama simples, mas extremamente exagerada, que o filme busca agradar as crianças. A não ser que o nível de exigência delas esteja bem baixo (o que é difícil, depois de grandes obras da animação terem sido lançadas este ano, como “Toy Story 3” e “Como Treinar o seu Dragão”), a satisfação será completa. Com um roteiro bastante previsível, mas principalmente nada original, sequer capaz de provocar risadas, o longa-metragem pode ser tranquilamente classificado como um fracasso.

O restante dos quesitos também não destoa. O padrão é de filmes feitos para televisão, com direção lenta de planos estáticos, trilha sonora pop mal selecionada (o que é aquela versão de “Get The Party Started”, da Pink, na abertura?) e fotografia horrorosa. Até mesmo os efeitos especiais, de grande importância aqui, misturando computação gráfica com animatronics, não impressionam, apesar de jamais decepcionarem. Torna-se, então, inevitável pensar por que não optar pelo formato de animação, onde tudo seria possível. Talvez a equipe de produção não estivesse afim de muito trabalho.

No caso de escolha por animação, os atores também se tornariam desnecessários, afinal é vergonhoso ver Chris O’Donnell (um ex-Robin fracassado, mas um ex-Robin) contracenar com bichos em escassas aparições. O’Donnel, aliás, participa paralelamente do que deveria ser o núcleo principal da produção, mas que termina por se tornar um dos mais chatos. Na tentativa de criar um herói para sua história, os roteiristas Steve Bencich e Ron J. Friedman tentam contar parte da vida de um pastor alemão chamado Diggs, treinado pelo personagem do ator, que deveria salvar vidas, mas que não se cansa de fazer besteiras.

Escalado para compor a equipe que caçará Kitty devido a sua inegável coragem, Diggs, no entanto, continua a falhar nos momentos errados. Sem saber como explorar de maneira cômica ou “dramática” essas situações, Bencich e J. Friedman acabam por desenvolver um protagonista desinteressante e sem graça. Outros dois companheiros do cão também não cooperam com o carisma. Quem rouba mesmo a cena é o pombo Seamus, sempre com um comentário engraçado (em termos) na ponta da língua.

Outros bons momentos do filme acontecem quando decide-se referenciar. A clara inspiração do longa vem de 007, o que rende a ideia da abertura (só ficou faltando um cachorro ou um gato atirando) e tantas outras. “Missão Impossível” e, especialmente, “Silêncio dos Inocentes”, porém, recebem melhores homenagens. Um felino interpretando o clássico papel de Anthony Hopkins na melhor cena do filme de 1991 é a melhor sequência de “Como Cães e Gatos 2” e, provavelmente, uma das raras vezes em que os pais poderão gargalhar ao lado dos filhos.

Sem cópias legendadas disponíveis no Brasil, o longa se torna ainda mais intragável ao dispensar a dublagem original de astros hollywoodianos como Christina Applegate, Sean Hayes, Neil Patrick Harris e Bette Middler. O 3D também não contribui para a melhoria do entretenimento. São nada menos do que US$ 80 milhões investidos e pouquíssima qualidade devolvida. Pelo menos, o desastre de “Como Cães e Gatos 2” nas bilheterias norte-americanas tornará mais improvável uma continuação. Passe longe!

P.S: Caso decida se arriscar e conferir o filme, não chegue atrasado. Um curta-metragem protagonizado por Coiote e Papa-Léguas, exibido pouco antes do longa, supera a qualidade do que você estará prestes a assistir.

Darlano Didimo
@rapadura

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