Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 24 de julho de 2010

O Bem Amado

O filme é uma adaptação da obra de Dias Gomes e conta com um elenco composto por muitas estrelas.

Situado na cidade pacata de Sucupira, o filme conta a história de Odorico Paraguaçu, o prefeito que tem como principal objetivo conseguir um defunto para inaugurar a sua grande obra, o cemitério da cidade. Ele tem o apoio das irmãs Cajazeiras e a oposição do jornaleco da cidade. A história tem ainda a participação de personagens únicos como Zeca Diabo, um cangaceiro matador; e Ernesto, rapaz que, mesmo cheio de problemas de saúde, não morre. O filme é uma verdadeira sátira política do Brasil.

Guel Arraes e sua forte experiência no gênero, com filmes como “O Auto da Compadecida” e “Lisbela e o Prisioneiro”, mostra mais uma vez que sabe como guiar filmes que se passam em cidadezinhas pacatas repletas de figuras caricatas. Nas suas mãos, o filme tem ritmo, ganha o formato de cinema, mas sem deixar o tom folhetinesco da telenovela.

As atuações são o que salvam a obra de um resultado negativo. Marco Nanini é o grande destaque. Ele faz um Odorico à altura do feito na TV e consegue pôr uma personalidade própria, trejeitos e uma força que para o personagem se fazia necessário. As irmãs cajazeiras não ficam por baixo. Interpretadas por Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa, elas também cumprem a tarefa com muita eficácia e talento que têm de sobra. Caio Blat é o jornalista que narra a história e apaixona-se pela filha do prefeito interpretada por Maria Flor. Eles são os mais apagados na trama.

Em uma obra repleta de boas atuações ainda destacam-se José Wilker que dá vida ao Vilão justiceiro e religioso Zeca Diabo, e Bruno Garcia, na pele do hilário Ernesto que se aproveita da condição que o trouxe para a cidade. Assim, a obra tem no elenco seu maior acerto, uma vez que interpretar personagens de sucesso e impor uma identidade própria neles só é possível com o conhecimento e a experiência de quem conhece o que faz.

O texto de Dias Gomes recebe uma adaptação coerente ao que a obra teoricamente teria que ser no cinema. Entretanto, fica claro que chega um momento que a história cansa principalmente pelo falta de compatibilidade do enredo com o formato cinematográfico. Algo que também fica forçado é a participação da personagem Violeta e seu romance com Neco Pedreira. A participação dela mais parece ter o objetivo de remendar a história, já que ela aparece em poucas cenas e de forma bem apagada.

A inclusão de fatos históricos alimenta o roteiro e acrescenta ao longa à medida que passa a verossimilhança que a obra necessita para sua condição de sátira política. Os fatos nacionais acontecem semelhantes aos ocorridos em Sucupira que, por sua vez, poderia ser qualquer cidadezinha do interior do Brasil. Além disso, a narração desses fatos é feita de forma bem humorada que não cansa o espectador.

A trilha sonora também agrada. Liderada por nomes como Caetano Veloso e Zélia Duncan, ela representa bem as temáticas presentes na obra. Umas das canções mais interessantes é a música da campanha de Odorico apresentada durante toda a obra. O cenário escolhido também é de bom gosto e cai muito bem na proposta da obra. A cidade de Marechal Deodoro, em Alagoas, representou bem Sucupira.

A novela “O Bem Amado” ganha uma competente adaptação ao cinema. Longe de conseguir um resultado excelente, o longa conta com boas atuações e com a eficiente direção. No mais, funciona como sátira política e merece ser vista.

Marcus Vinicius
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