Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 06 de março de 2010

Entre Irmãos

O longa é uma mistura de tudo aquilo que já foi visto em outros filmes.

O diretor Jim Sheridan sempre se consolidou ao retratar em seus filmes os problemas familiares enfrentados pelos seus personagens. Além disso, ele tem por característica mostrar a superação destas dificuldades apresentadas. Foi assim em “Meu Pé Esquerdo”, quando vemos a incrível história de Christy Brown (interpretado por Daniel Day-Lewis, lhe rendendo um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1990) ou, ainda, no longa-metragem “Em Nome do Pai” em que, novamente, Jim Sheridan coloca a família na frente de tudo aquilo que está sendo contado, mostrando a real importância e os verdadeiros valores familiares que eles seguem. Em “Entre Irmãos”, mais uma vez esta temática fica clara ao retratar a família Cahill, que enfrenta diversos problemas ao longo da sua jornada.

Sam (Tobey Maguire) é o Capitão de uma tropa Marine e está prestes a voltar para lutar no Afeganistão. Enquanto isso, o seu irmão Tommy (Jake Gyllenhaal) acabou de sair da prisão e vai tentar reconquistar a confiança da sua família novamente. O pai de ambos, Hank (Sam Shepard), que também é do Exército, tem o seu filho favorito e isso sempre gerou uma incrível confusão na família. No meio de toda esta trama, está Grace (Natalie Portman), esposa de Sam, e as suas duas filhas Isabelle (Bailee Madison) e Maggie (Taylor Grace Geare). E toda a história começa de verdade quando Sam volta para o Afeganistão, dando espaço para que o seu irmão pudesse se aproximar da sua família.

O maior erro do longa já começa exatamente neste momento. Falta naturalidade na atuação de Gyllenhaal, uma vez que fica nítido a maneira como ele já estava esperando se aproximar das filhas do seu irmão e, principalmente, da sua mulher. As coisas ficam ainda mais claras quando Sam é dado como morto na guerra, mudando completamente a vida da família Cahill durante meses até que ele finalmente aparece vivo.

Por algum período, Jim Sheridan tenta consolidar o seu filme entre duas narrativas: aquela que se passa no Afeganistão, mostrando Sam se tornando um refém do regime talibã, e também a vida que Grace vai levando com as suas filhas (sempre na companhia de Tommy). Neste aspecto, a montagem acaba errando em não conseguir encontrar sustentação naquilo que está sendo contado. Tudo vira uma série de repetições de grande parte do que já foi dito. Mesmo quando Sam retorna ao seu lar, era esperado que ele se tornasse uma pessoa mais violenta e diferente. A guerra o transformou, como já foi mostrado em outros filmes do gênero. “A Volta dos Bravos”, por exemplo, se preocupou em apenas relatar como estes conflitos conseguem mudar para sempre a vida dos soldados americanos, não mais conseguindo serem aqueles seres humanos de antes. “Entre Irmãos” chega a ter um pouco deste filme citado, principalmente pela forma irreconhecível e a falta de paciência que Sam começa a ter depois de ter sobrevivido ao Afeganistão (além de estar impregnado na sua mente o que ele precisou fazer para tal coisa).

Entretanto, o que este longa tem de melhor não está nos seus personagens centrais (ou que, pelo menos, deveriam ser o centro da trama). As filhas de Grace começam a roubar a cena. Jim Sheridan mostra, mesmo que por muito pouco tempo, o olhar delas sobre tudo isso que está acontecendo, seja pela guerra, seja pela volta do pai, seja pela aproximação entre Grace e Tommy. Elas não são meras coadjuvantes das histórias. Na realidade, elas se tornam parte integrante daquilo que está sendo mostrado na tela. Uma trama parecida com a de “Terra de Sonhos”, outro filme do Jim Sheridan, que ele também se utiliza dos dramas de uma família que havia ido tentar a sorte na vida na cidade de Nova York vindos da Irlanda, para mostrar a maneira como eles conseguiram se adaptar ao lugar em meio às dificuldades de recomeçar uma vida. É exatamente o que acontece quando Sam volta, o recomeço (ou a tentativa) para reconstruir os laços familiares que haviam sido esquecidos com a sua morte, e também com o fato de se acostumar a este fato.

A trilha de Thomas Newman se encarrega de chamar atenção para os fatos dramáticos, mas pouco consegue se sobressair. Se utilizando muito mais de canções parecidas com aquelas que vemos na série americana “Friday Night Lights”, Newman faz o que pode para prender a atenção do seu espectador. Mesmo assim, quem se destaca é Tobey Maguire, que tem uma atuação marcante no filme. Nas principais cenas em que ele deixa transparecer o ódio que ele trouxe do Afeganistão, é possível perceber a sua capacidade de entrega a um personagem que não demonstra complexidades. Este talvez é o maior erro deste longa. Por mais que ele tente se consolidar o quão trágica a guerra pode ser e a maneira como ela transforma o ser humano, o roteiro de David Benioff pouco se esforça para tornar a sua trama complexa, o que considero um erro dada as circunstância e as tramas que o filme procura abordar.

Entre Irmãos” é uma mistura de tudo aquilo que já foi visto em outros filmes (e até mesmo em algumas séries de televisão). A relação da mulher com o fato de ver o marido partindo para o combate, por exemplo, virou tema de programas como Army Wives e The Unit, ambas que se preocuparam em mostrar o lado feminino de uma questão difícil. Este está longe de ser aquele Jim Sheridan que consegue se impor com a sua câmera em contemplar momentos de intensa dramaticidade. Pelo contrário, aqui o seu filme resulta em uma equação que não possui sentimentos, se prendendo a mostrar o convencional.

O final é um exemplo claro disso, deixando o espectador com o questionamento de que poderia ser melhor, de que algo mais poderia ser feito. O longa representa mais um olhar sobre as consequências psicológicas que as guerras têm deixado nos soldados americanos. Mas por que não, então, acabar com elas? Segundo Obama, porque elas são um mal necessário. A cada dia, então, famílias daqueles que estão no Exército terão que conviver com estes problemas. Por enquanto, as guerras não possuem uma data de quando irão terminar. Soldados continuarão morrendo, provavelmente. Como visto neste filme, os que sobreviverem poderão sofrer os males do personagem de Tobey Maguire: os males de ter que viver em sociedade novamente.

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