Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 05 de março de 2010

Educação

Uma bela história sobre maturidade, "Educação" consegue ser expressivo sem ser chato, graças a um ótimo trabalho de direção, um elenco carismático e ao belo trabalho de Nick Hornby no roteiro.

Filmes sobre jovens ambiciosos que vencem preconceitos de uma época são relativamente comuns, sendo difícil dar uma nova abordagem para esse tipo de película. Nesse sentido, “Educação” não tenta ser revolucionário, mas sim tenta enxergar essa história por um novo prisma. Baseado nas memórias de Lynn Barber e roteirizado pelo conhecido romancista escritor inglês Nick Hornby, em sua estreia na função, a fita nos narra o final da adolescência da jovem Jenny (Carey Mulligan).

Em plena Londres dos anos 1960, Jenny é uma jovem amante das artes que está a se empenhar para ser aceita na Universidade de Oxford. Criada por pais amorosos, mesmo que um tanto quanto conservadores, a vida da garota vira de pernas para o ar quando ela conhece o Bon vivant David (Peter Sarsgaard). Bastante sedutor e bem mais velho que ela, os dois logo se afeiçoam e ela acaba presa entre o mundo de sofisticação e boemia de seu novo amor e seus sonhos acadêmicos, que provavelmente a levaria para uma vida “comum”.

Acompanhamos todo o filme pelos olhos de Jenny e, logo que colocamos os olhos nela, se torna difícil não nos apaixonar pela garota.  Bela e empolgada com as mudanças em sua vida, a despeito de sua cultura e inteligência, ela ainda é relativamente imatura em muitos aspectos, tendo de contar com conselhos de pessoas mais velhas que, por vezes, também não são tão maduras assim. Muito disso se deve ao carisma e ao talento de Carey Mulligan, que simplesmente encarna sua Jenny com bastante intensidade, com o sucesso do filme se devendo todo a ela.

Nisso, conhecemos diversos personagens bastante interessantes em meio a essa jornada da nossa protagonista. Os pais da menina, Jack (Alfred Molina) e Marjorie (Cara Seymour), são pessoas bondosas, mas a personalidade conservadora de ambos e o pão-durismo dele acabam gerando problemas para Jenny, que não resultam necessariamente em conflitos com ela. Procurando o melhor para sua filha, o casal acaba errando algumas vezes.

Nesse sentido, Molina e Seymour dão um contido espetáculo, sabendo dosar o humor para dar o toque certo para personagens que acabam se tornando deveras complexos. Em uma participação menor, temos Olivia Williams, que vive a professora de Jenny, a Srta. Stubbs, que tenta persuadir a sua pupila de que nem tudo na vida é realmente um conto de fadas, tentando trazer sua atenção de volta ao meio acadêmico. Emma Thompson também faz uma pequena ponta como a diretora linha-dura do colégio da protagonista.

Peter Sarsgaard interpreta David, o “príncipe encantado” de Jenny. A despeito da diferença de idade entre o casal, o público testemunha uma bela química entre Sarsgaard e Mulligan, jamais duvidando dos sentimentos existentes entre eles. No entanto, logo percebemos que há algo que David mantém escondido, sensação transmitida o tempo todo pelo olhar do ator, mesmo nos momentos mais descontraídos.

Junto ao núcleo do casal principal temos os amigos de David, Danny e Helen, vividos por Dominic Cooper e Rosamund Pike. Cooper tem uma atuação mais apagada, mas deixa transparecer em suas cenas um carinho quase fraternal de Danny por Jenny, algo que se torna importante no decorrer do filme. Do mesmo modo, a personagem de Rosamund Pike se torna uma espécie de espelho daquilo que Jenny não quer se tornar, que é uma companheira-troféu fútil e absolutamente sem cultura.

O filme segue um ritmo bastante tranquilo, como se fosse realmente um romance se desenvolvendo à nossa frente, com Nick Hornby emprestando muito de sua veia literária para o longa. Nesse sentido, a direção competente de Lone Scherfig também contribui para nossa imersão na história e a bela fotografia de John de Borman é bastante eficiente, principalmente nas cenas mais intimistas.

No entanto, o filme escorrega gravemente em seu final. O longa possui uma conclusão deveras apressada e fácil demais, beirando ao Deus ex machina. Sem contar demais, basta dizer que Jenny tenta ignorar tudo aquilo pelo que havia passado durante sua jornada, algo que contradiz a própria natureza do que o filme havia tentado nos passar.

O título do filme é absolutamente adequado. Em determinado momento, David diz que não recebeu um ensino superior formal, tendo sido educado pela famigerada “escola da vida”. De certo modo, essa era a única vivência que Jenny não havia experimentado, com sua jornada durante a película representando exatamente isso, embora ela mesma não queira admitir, no final das contas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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