Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Amor Pede Passagem

Quando o único traço de originalidade de um filme é a sua trilha sonora, vale a pena questionar se o diretor realmente está na carreira certa.

São raras as comédias românticas que conseguem fugir do óbvio que o gênero parece exigir e atingir um estágio superior de qualidade, com roteiros imprevisíveis e situações inusitadas. Tal situação causa tamanho estranhamento, que o público e a própria crítica especializada passam a tratar o filme como uma comédia alternativa. “O Amor Pede Passagem” não nega sua espécie e não faz um mínimo esforço para modificar sua situação.

O filme acompanha o empenho de Mike (Steve Zahn), cuja única ocupação é ser filho de dono de hotel de beira de estrada, para conquistar a executiva e ativista social Sue Claussen (Jennifer Aniston), que se hospedou por acaso no estabelecimento do rapaz. O gancho da trama é a eterna turbulência amorosa da vida de Sue, recém saída de um namoro duradouro com um ex-punk e atual milionário, e a limitada capacidade intelectual de Mike, suficiente para torná-lo um estrategista inconsequente e infantil. Enquanto Sue viaja a trabalho por todas as regiões do país, Mike junta seus trocados, empenha suas bugigangas e persegue a garota, onde quer que ela esteja, sem se amparar em nenhuma promessa de recompensa ou devoção amorosa.

Escrito e dirigido pelo estreante Stephen Belber, “O Amor Pede Passagem” é mais um exemplar do típico filme água com açúcar que se apóia na fama de sua protagonista. As situações são irreais, as relações dos personagens e os argumentos que norteiam suas decisões são irritantemente forçados, e qualquer traço de originalidade foi deixado de lado pelo diretor. Não há, em 90 minutos de projeção, uma só sequência que fuja do inesperado, assim como também não há nenhuma cena realmente engraçada ou indiscutivelmente romântica para honrar o gênero em que foi classificado.

A personalidade maçante dos personagens e a limitação artística dos atores reforçam a ideia de que falta química entre o casal. Sue é uma caricatura bizarra do politicamente correto e Aniston não faz nenhum esforço para superar sua confortável posição de estrela de comédias românticas, onde está eternamente encravada, sem dar sinais de que pretende, algum dia, se superar. Em outro extremo, a capacidade intelectual de Mike estagnou na pré-escola e todos os seus atos são injustificados. Steve Zahn, do alto de suas restrições, ainda conseguiu fazer um bom trabalho e sua interpretação, embora convencional, é a melhor de todo o elenco.

Se o roteiro e a interpretação dos atores são convencionais, a parte técnica, no que diz respeito à fotografia e edição, também não oferece nenhuma novidade. O ponto alto de qualidade do filme é a sua trilha sonora agradável e surpreendentemente original para uma produção insossa. O longa deixou de lado as bandas de garagem norte-americanas, com suas letras de amor adolescente, e optou por canções amenas, de representantes e influenciados do folk-rock dos anos 60 e 70. Estão lá músicas que vão desde os jurássicos do Three Dog Night até a sonoridade retrô do contemporâneo Jason Collett.

Para aqueles que realmente não se importam em rever no cinema as mesmas cenas de dezenas de outras produções semelhantes, “O Amor Pede Passagem” é tolerável. Às pessoas que esperam por um pouco de originalidade, recomendo que procurem urgentemente pela trilha sonora do filme. E só.

Jader Santana
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