Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de dezembro de 2009

Encontro de Casais

Com roteiro escrito pelos atores Vince Vaughn e Jon Favreau, “Encontro de Casais” não deixa de lado os clichês dos filmes de comédia atuais. Mesmo assim, consegue divertir.

O americano Peter Billingsley construiu sua carreira com atuações discretas e pouco relevantes em seriados e produções para a TV. Em 1994, ele escreveu, dirigiu e protagonizou o curta “The Sacred Fire”, pouco conhecido pelo grande público. Sua carreira estaria fadada ao eterno ostracismo se não houvesse recebido um convite dos atores Vince Vaughn e Jon Favreau para dirigir o longa que haviam acabado de escrever. O resultado da arriscada parceria está em cartaz nos cinemas nacionais.

“Encontro de Casais” acompanha a semana de férias de quatro casais amigos, convencionais, e definitivamente acomodados com a relação que desenvolvem em um resort de luxo encravado no meio de uma ilha paradisíaca. Dave (Vince Vaughn) é casado com Ronnie (Malin Akerman) e divide seu tempo entre um trabalho estafante, duas crianças elétricas e a obsessão da esposa por reformas. Jason (Jason Bateman) e sua esposa Cynthia (Kristen Bell) formam a dupla politicamente correta, cujo maior passatempo é planejar minuciosamente cada passo de sua relação. Shane (Faizon Love) tenta superar seu divórcio recente nos braços de uma ninfeta de 20 anos, mas não tem pique para acompanhá-la em festas e atividades adolescentes. Por fim, o casal Joey (Jon Favreau) e Lucy (Kristin Davis), juntos desde a noite de um baile no colegial, são secretamente sedentos por experiências diversas das que carregaram por toda a vida.

O resort em que se hospedam, embora ofereça aos visitantes uma infinidade de opções de lazer que incluem passeios de jet-ski, mergulhos e restaurantes refinados, também exige que os casais participem de sessões matinais de terapia conjugal com um especialista estrangeiro. Totalmente contrários à ideia de dividir problemas pessoais com um estranho, inicialmente relutam em participar das sessões, mas acabam aceitando. Eles são apresentados a uma série de problemas que desconheciam e que vão comprometer as relações.

Mesmo com todas as peculiaridades, os oito protagonistas são exemplares fáceis de encontrar em nossos círculos de amizades. Os tipos de relacionamentos que desenvolvem, com seus problemas e conflitos, também não fogem do convencional, e se identificar com ao menos um deles é inevitável. Como a maioria dos filmes do gênero, e algo até aceitável para um cineasta estreante, “Encontro de Casais” não deixa de lado os clichês do cinema de humor, e faz uso abusivo deles em algumas sequências. Discussões sempre podem ser resolvidas na cama, amantes musculosos sempre apanham de maridos de condicionamento físico duvidoso e jovens esculturais continuam demonstrando interesse injustificado pelos “tios” barrigudos. A sensação de já ter assistido à mesma cena em dezenas de outras produções não chega a incomodar, mas também não arranca tantas gargalhadas do público.

Piadas de gosto duvidoso, de cunho escatológico ou sexualmente desnecessárias também fazem parte da trama, e conseguem constranger o espectador. Traseiros flácidos já não possuem o mesmo efeito cômico conseguido por “Vovó… Zona”, de dez anos atrás, e órgãos sexuais proeminentes definitivamente não são engraçados.

Apesar de não inovar, “Encontro de Casais” faz rir e possui notáveis qualidades. O elenco protagonista desempenha bem sua tarefa, e o clima de amizade e boa convivência foi bem construído. Vaughn, com sua habitual naturalidade de quem não precisa fazer esforços para ser engraçado, consegue roubar a cena em todas as sequências que aparece e diverte o espectador com um personagem cujo humor oscila entre a indiferença e o facilmente irritável. O desconhecido Peter Serafinowicz, que faz o papel do recepcionista do resort, com seus trejeitos e gestos calculados, também garante boas risadas e é impagável ao atuar com Vaughn.

Assistir a este “Encontro de Casais” esperando uma comédia inusitada é bobagem, mas deixá-lo de lado por preconceito com o gênero também é. O filme não é o maior representante do cinema de humor e provavelmente não foi feito com tal objetivo, mas consegue divertir e garante algumas boas risadas. Sua maior falha é o conformismo e a completa adequação ao estilo de humor barato que estamos acostumados a ver todos os dias. Um pouco de ambição e originalidade dos roteiristas e da direção colocariam o longa em um patamar acima do que alcançou.

Jader Santana
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