Assista sozinho e teste sua resistência diante do desconhecido intangível.
Se você acha que “Lua Nova” não vale o esforço de enfrentar filas intermináveis ou aguentar suspiros apaixonados durante a sessão, uma boa opção pode ser encarar “Atividade Paranormal”. Até porque a sala escura, geralmente mais vazia que as que exibem a história de amor vampiresca, é um convite aos que têm coragem suficiente para embarcar em uma experiência mortalmente claustrofóbica e solitária.
O diretor estreante Oren Peli opta por seguir o caminho de muitos (bons) exemplares recentes de terror e suspense, a exemplo de “A Bruxa de Blair” e “Cloverfield”. Vídeos caseiros, como aqueles de festas de aniversário ou reuniões familiares, podem ser assustadores. Imagens tremidas, closes amadores e ângulos frenéticos, a serviço de uma narrativa embasada em sustos e gritos bem engendrados, constituem elementos perturbadores para a criação de uma atmosfera de pânico e paranoia.
Fugir dos fenômenos convencionais que regem o mundo é quase uma regra para indivíduos entediados. A anormalidade fascina. Por isso mesmo, Peli mostra, por meio de uma iluminação precária e de imagens desfocadas, seus personagens envoltos em um cotidiano enfastiado. Limitados ao tédio da falta de ação, Katie (Katie Featherston) e Micah (Micah Sloat) voltam a atenção para os estranhos acontecimentos paranormais que estão sondando a casa dos dois nos últimos dias.
Interessado em capturar o exato momento em que alguma figura sombria irá aparecer ao pé da cama, Micah compra uma câmera de vídeo e passa a registrar todas as ações, corriqueiras a princípio, que se sucedem no local. O diretor é exitoso em diferenciar a relação dos personagens com o fenômeno paranormal em questão. Enquanto Katie está realmente assustada e se sente perseguida por algo que a acompanha desde a infância, Micah se torna um cinegrafista às vezes inconveniente, sempre brincalhão quanto aos possíveis ataques sobrenaturais.
O formato de vídeo doméstico é aqui muito mais que uma simples opção estética de Peli. O pânico que vai tomando conta dos personagens à medida que a câmera capta imagens estranhas e peculiares, e intensifica a dependência da tecnologia, transformando o resultado das xeretadas de Micah em um agente enlouquecedor. O produto audiovisual é tratado como a evidência de que algo incomum acontece, estabelecendo um vício instigante e transformando Micah e Katie em investigadores de pequenos detalhes, como uma sombra ou um movimento da porta.
Curiosamente, o efeito que os registros em vídeo exercem sobre o casal acaba por inverter a situação original. Se Katie pede para desligar a câmera, até como forma de tentar esquecer todo esse pesadelo, Micah é totalmente crédulo em relação aos eventos que aparecem na tela de sua filmadora. Ao insistir para que o parceiro desista de andar com a câmera para todos os lados, Katie se torna uma persona non grata para os espectadores: como será possível conhecer as sequências seguintes da história se não tivermos um referencial narrativo comprometido com isso?
Talvez seja esse o maior atrativo de filmes construídos a partir de arquivos “resgatados” de delegacias de polícia ou encontrados na floresta. O espectador se torna refém da boa vontade dos cameramen e predomina a tensão diante da possibilidade de um fim abrupto das imagens. É assim que a última – e mais assustadora – sequência de “Atividade Paranormal” é fundamentada. De repente, somos privados de acompanhar aquela parte que representa o clímax de medo e pavor no filme, mas nem por isso temos uma sensação menor ou um terror suavizado. Tente não implorar a companhia do lanterninha nesses momentos mais agonizantes.