O Mecanismo | Entrevistamos a produção e o elenco da série no Rio de Janeiro
"O Mecanismo" estreia na Netflix em 23 de março.
Na última sexta-feira (16), a Operação Lava Jato completou quatro anos de sua primeira ação. A investigação, que teve início no Paraná e começou com a unificação de quatro ações que analisavam redes operadas por doleiros que cometiam crimes financeiros, ganhou esse nome conta de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato em Brasília, usada como fachada para lavagem de dinheiro. Desde então, a Lava Jato se consagrou como a maior operação de investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve, descobrindo o envolvimento de estatais como a Petrobras, partidos políticos e algumas das maiores empresas do país, principalmente no ramo das empreiteiras. Até o presente momento, houve mais de 158 acordos de colaboração premiada, 141 condenações e mais de R$ 3 bilhões em bens de réus bloqueados pela justiça.
Este é o tema central de “O Mecanismo”, nova série da Netflix dirigida, produzida e criada por José Padilha (da série “Narcos“) em conjunto com a roteirista Elena Soarez (“Rio, Eu Te Amo“), baseada na obra “Lava Jato – O Juiz Sérgio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil“, de Vladimir Netto.
O Cinema com Rapadura foi convidado pela Netflix para o evento de estreia e coletiva de imprensa de “O Mecanismo”. Além de Padilha e Soarez, estiveram presentes os diretores Daniel Rezende (“Bingo: O Rei das Manhãs“), Felipe Prado e Marcos Prado (ambos de “Paraísos Artificiais“), bem como os atores Caroline Abras (“Gabriel e a Montanha“), Selton Mello (“O Filme da Minha Vida“), Enrique Diaz (“Ferrugem“) e Jonathan Haagensen (“Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo“), e o Vice Presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erick Barmack.
A seguir, alguns tópicos importantes desta entrevista:
O Mecanismo – Padilha explicou que, no Brasil, a corrupção faz parte da lógica da política. É a norma vigente, porque as grandes empresas financiam todos os partidos, não havendo uma ideologia por trás do financiamento. O dinheiro “investido” compra cargos nas estatais e na Administração direta. O mecanismo que dá nome à série corresponde a todo o esquema de corrupção, e está presente em todos os campos de atuação do Estado, sendo o motivo da crise de segurança pública ou da falta de investimentos em educação. A corrupção não tem ideologia, de modo que, tanto direita quanto esquerda se utilizam dela. Na opinião do diretor, quem tem ideologia são os formadores de opinião, que passam a debater de quem é a culpa “em uma autofagia sem fim”.
Operação Lava Jato – Para o diretor, a operação puniu uma parte do mecanismo, que foram as empresas. Isso foi algo positivo, pois uma próxima empresa que quiser alimentar o esquema de corrupção pensará duas vezes antes de se comprometer. No entanto, a desestruturação de todos os partidos políticos que utilizaram o mecanismo seria uma forma mais eficiente de tentar enfraquecê-lo.
Prisão do Lula – Ao ser questionado sobre uma possível prisão do ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Padilha afirmou que se Lula for preso, a esquerda irá pressionar para que todos os outros políticos envolvidos sejam punidos também. Essa punição coletiva seria ótima para o país, mas prejudicial para o mecanismo. Assim, não seria interessante nem para a esquerda nem para a direita a prisão do ex presidente.
Ideologia – A série “O Mecanismo” é apartidária e não segue nenhuma ideologia específica. Tal fato se dá porque o próprio Padilha é descrente da filosofia tanto da esquerda quanto da direita. Para ele, o liberalismo prega a economia livre, mas o oligopólio mina a liberdade na medida em que as empresas corrompem o governo para maior participação no mercado. Já o marxismo visa a intervenção do Estado, mas na prática se torna uma ditadura do proletariado que explora o povo. Como diria Espinosa, as pessoas lutam pela escravidão achando que estão lutando pela liberdade.
Ausência de protagonista – Na série, não há um protagonista bem definido. De acordo com Caroline Abras, Elena Soarez e Padilha, a policial Verena, interpretada por Abras, é tão protagonista quanto Marco Ruffo (Selton Mello). Para Abras, foi uma surpresa muito boa ler o roteiro e descobrir em Verena uma mulher forte que exerce a liderança, principalmente no cenário atual da indústria cinematográfica de Hollywood. O verdadeiro protagonista da série seria o próprio mecanismo.
Ficção versus realidade – Boa parte dos acontecimentos de “O Mecanismo” foram inspirados em fatos reais. No entanto, de acordo com Soarez, para não engessar a trama, houve liberdade criativa para escrever o roteiro, uma vez que a dramaturgia tem a função de organizar e “arrumar” a realidade. O foco na atividade policial foi uma escolha para tornar a trama mais dinâmica, uma vez que poderia ser entediante para alguns, uma série com o foco no juiz ou no promotor, figuras mais burocráticas. O núcleo do Marco Ruffo (Selton Mello) foi o fio da história em que se explorou mais o caráter ficcional da obra, apesar de ele também ter sido inspirado em uma pessoa real. A liberdade criativa permite que os autores busquem inspiração em outras obras, além de trazer mais profundidade aos personagens. Marco Ruffo é um anti-herói, na medida em que toma ocasionalmente atitudes duvidosas, seguindo a máxima “os fins justificam os meios”. Já Roberto Ibrahim (Enrique Diaz) é um vilão extremamente carismático, muitas vezes retratado como um pai de família que busca o melhor para ela.
Relevância internacional – Por ser da Netflix, “O Mecanismo” será lançado simultaneamente em mais de 190 países. Apesar de ser uma história muito relevante para os brasileiros, os criadores e diretores da série apostam que ela será um sucesso também no mercado internacional, uma vez que a corrupção está presente em todos os governos, em maior ou menor grau. Para Padilha, o público da América Latina se identificará com o enredo, tendo em vista que os problemas de corrupção das nações latino-americanas não são tão diferentes dos brasileiros. O Vice Presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erick Barmack, apostou na série porque afirma que o serviço de streaming gosta de se envolver em produções com relevância internacional. Além disso, a Netflix gosta muito de trabalhar com o Padilha (ele também produziu “Narcos”, outro conteúdo original Netflix). Quando o diretor abordou o serviço de streaming com a história sobre a Operação Lava Jato e mostrou o talentoso elenco, Barmack disse que sabia que tinha um sucesso em suas mãos.
Assista ao trailer da série:
Na trama do seriado, Selton Mello será um delegado aposentado da Polícia Federal que busca informações sobre desvio de dinheiro em empresas estatais e privadas, ao lado de Caroline Abras, que será sua parceira e discípula.
A estreia de “O Mecanismo” está marcada para 23 de março.
Saiba Mais: Caroline Abras, Daniel Rezende, Elena Soarez, Enrique Diaz, Erick Barmack, Felipe Prado, Jonathan Haagensen, José Padilha, Marcos Prado, Netflix, o mecanismo, Selton Mello