Cinema com Rapadura

Entrevistas   segunda-feira, 19 de março de 2018

O Mecanismo | Entrevistamos a produção e o elenco da série no Rio de Janeiro

"O Mecanismo" estreia na Netflix em 23 de março.

O Mecanismo | Entrevistamos a produção e o elenco da série no Rio de Janeiro>

Na última sexta-feira (16), a Operação Lava Jato completou quatro anos de sua primeira ação. A investigação, que teve início no Paraná e começou com a unificação de quatro ações que analisavam redes operadas por doleiros que cometiam crimes financeiros, ganhou esse nome conta de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato em Brasília, usada como fachada para lavagem de dinheiro. Desde então, a Lava Jato se consagrou como a maior operação de investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve, descobrindo o envolvimento de estatais como a Petrobras, partidos políticos e algumas das maiores empresas do país, principalmente no ramo das empreiteiras. Até o presente momento, houve mais de 158 acordos de colaboração premiada, 141 condenações e mais de R$ 3 bilhões em bens de réus bloqueados pela justiça.

Este é o tema central de “O Mecanismo”, nova série da Netflix dirigida, produzida e criada por José Padilha (da série “Narcos“) em conjunto com a roteirista Elena Soarez (“Rio, Eu Te Amo“), baseada na obra “Lava Jato – O Juiz Sérgio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil“, de Vladimir Netto.

O Cinema com Rapadura foi convidado pela Netflix para o evento de estreia e coletiva de imprensa de “O Mecanismo”. Além de Padilha e Soarez, estiveram presentes os diretores Daniel Rezende (“Bingo: O Rei das Manhãs“), Felipe Prado e Marcos Prado (ambos de “Paraísos Artificiais“), bem como os atores Caroline Abras (“Gabriel e a Montanha“), Selton Mello (“O Filme da Minha Vida“), Enrique Diaz (“Ferrugem“) e Jonathan Haagensen (“Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo“), e o Vice Presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erick Barmack.

A seguir, alguns tópicos importantes desta entrevista:

O Mecanismo – Padilha explicou que, no Brasil, a corrupção faz parte da lógica da política. É a norma vigente, porque as grandes empresas financiam todos os partidos, não havendo uma ideologia por trás do financiamento. O dinheiro “investido” compra cargos nas estatais e na Administração direta. O mecanismo que dá nome à série corresponde a todo o esquema de corrupção, e está presente em todos os campos de atuação do Estado, sendo o motivo da crise de segurança pública ou da falta de investimentos em educação. A corrupção não tem ideologia, de modo que, tanto direita quanto esquerda se utilizam dela. Na opinião do diretor, quem tem ideologia são os formadores de opinião, que passam a debater de quem é a culpa “em uma autofagia sem fim”. 

Operação Lava JatoPara o diretor, a operação puniu uma parte do mecanismo, que foram as empresas. Isso foi algo positivo, pois uma próxima empresa que quiser alimentar o esquema de corrupção pensará duas vezes antes de se comprometer. No entanto, a desestruturação de todos os partidos políticos que utilizaram o mecanismo seria uma forma mais eficiente de tentar enfraquecê-lo.

Prisão do LulaAo ser questionado sobre uma possível prisão do ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Padilha afirmou que se Lula for preso, a esquerda irá pressionar para que todos os outros políticos envolvidos sejam punidos também. Essa punição coletiva seria ótima para o país, mas prejudicial para o mecanismo. Assim, não seria interessante nem para a esquerda nem para a direita a prisão do ex presidente.

Ideologia A série “O Mecanismo” é apartidária e não segue nenhuma ideologia específica. Tal fato se dá porque o próprio Padilha é descrente da filosofia tanto da esquerda quanto da direita. Para ele, o liberalismo prega a economia livre, mas o oligopólio mina a liberdade na medida em que as empresas corrompem o governo para maior participação no mercado. Já o marxismo visa a intervenção do Estado, mas na prática se torna uma ditadura do proletariado que explora o povo. Como diria Espinosa, as pessoas lutam pela escravidão achando que estão lutando pela liberdade.

Ausência de protagonistaNa série, não há um protagonista bem definido. De acordo com Caroline Abras, Elena Soarez e Padilha, a policial Verena, interpretada por Abras, é tão protagonista quanto Marco Ruffo (Selton Mello). Para Abras, foi uma surpresa muito boa ler o roteiro e descobrir em Verena uma mulher forte que exerce a liderança, principalmente no cenário atual da indústria cinematográfica de Hollywood. O verdadeiro protagonista da série seria o próprio mecanismo.

Ficção versus realidadeBoa parte dos acontecimentos de “O Mecanismo” foram inspirados em fatos reais. No entanto, de acordo com Soarez, para não engessar a trama, houve liberdade criativa para escrever o roteiro, uma vez que a dramaturgia tem a função de organizar e “arrumar” a realidade. O foco na atividade policial foi uma escolha para tornar a trama mais dinâmica, uma vez que poderia ser entediante para alguns, uma série com o foco no juiz ou no promotor, figuras mais burocráticas. O núcleo do Marco Ruffo (Selton Mello) foi o fio da história em que se explorou mais o caráter ficcional da obra, apesar de ele também ter sido inspirado em uma pessoa real. A liberdade criativa permite que os autores busquem inspiração em outras obras, além de trazer mais profundidade aos personagens. Marco Ruffo é um anti-herói, na medida em que toma ocasionalmente atitudes duvidosas, seguindo a máxima “os fins justificam os meios”. Já Roberto Ibrahim (Enrique Diaz) é um vilão extremamente carismático, muitas vezes retratado como um pai de família que busca o melhor para ela.

Relevância internacionalPor ser da Netflix, “O Mecanismo” será lançado simultaneamente em mais de 190 países. Apesar de ser uma história muito relevante para os brasileiros, os criadores e diretores da série apostam que ela será um sucesso também no mercado internacional, uma vez que a corrupção está presente em todos os governos, em maior ou menor grau. Para Padilha, o público da América Latina se identificará com o enredo, tendo em vista que os problemas de corrupção das nações latino-americanas  não são tão diferentes dos brasileiros. O Vice Presidente de conteúdo original internacional da Netflix, Erick Barmack, apostou na série porque afirma que o serviço de streaming gosta de se envolver em produções com relevância internacional. Além disso, a Netflix gosta muito de trabalhar com o Padilha (ele também produziu “Narcos”, outro conteúdo original Netflix). Quando o diretor abordou o serviço de streaming com a história sobre a Operação Lava Jato e mostrou o talentoso elenco, Barmack disse que sabia que tinha um sucesso em suas mãos. 

Assista ao trailer da série:

Na trama do seriado, Selton Mello será um delegado aposentado da Polícia Federal que busca informações sobre desvio de dinheiro em empresas estatais e privadas, ao lado de Caroline Abras, que será sua parceira e discípula.

A estreia de “O Mecanismo” está marcada para 23 de março.

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Boo Mesquita
@boomesquita

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