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Notícias   terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Projeto Flórida | Diretor de fotografia classifica o filme como Os Batutinhas do século XXI

Em entrevista, Alexis Zabe deu mais detalhes das experiências das filmagens.

Projeto Flórida | Diretor de fotografia classifica o filme como Os Batutinhas do século XXI>

Em entrevista ao site Deadline, o diretor de fotografia Alexis Zabe comparou o filme “Projeto Flórida“, o qual fez parte da produção em colaboração com o diretor e roteirista Sean Baker, com o longa “Os Batutinhas“, de 1994. Ao longo da conversa, Zabe comentou sobre processos de filmagens, fotografia, locações, entre outros temas relevantes no exercício da cinematografia para o filme “Projeto Flórida” e para o cinema como um todo.

Ao tratar sobre o envolvimento inicial com o filme, Zabe relatou:

“Quando Sean me abordou com a ideia, eu imediatamente me senti atraído ao tema. Basicamente ele disse: OK, eu quero fazer um ‘Os Batutinhas’ do século XXI. Eu cresci com isso também, apesar de ter vivido no México. Minha avó é de Savannah, Geórgia, e quando eu era criança, ela colocava ‘Os batutinhas’ na TV para nós o tempo todo. Eu gostava de ver como o contexto é secundário aos olhos das crianças, e isso fala sobre problemas sociais, os quais eu também sempre fui muito sensível.”

Ele busca caracterizar a interligação entre a fotografia, o design de produção, realizado por Stephonik Youth, irmã de Baker, e a direção:

“Falávamos sobre ter um pé na realidade e outro plantado na visão um pouco mais fantástica da realidade que as crianças possuem. Uma vez que cheguei na Flórida, o importante foi ver os poucos lugares que Sean tinha visto, discutir sobre eles e tentar decidir sobre as locações finais, tentar descobrir como os diferentes elementos da realidade se encaixariam na nossa história. A mesma abordagem foi tomada para a iluminação. Eu adoro trabalhar com luz natural e por causa das circunstâncias desse filme, foi possível fazê-lo, [… ] Porque não tínhamos tempo para trabalhar de outro jeito [ eram apenas 35 dias de filmagens]. Então, usando cores e figurino, a paleta de cores foi capaz de manter a obra no ponto-de-vista infantil mais fantástico e imaginário.”

O diretor dialoga sobre a liberdade criativa necessária para a realização de um longa e a importância de ater-se à realidade que cerca a produção:

“Eu gosto muito de trabalhar em um cenário organizado. Para mim, é libertador manter a flexibilidade para manter o processo criativo vivo durante as filmagens. Nos alimentamos muito da realidade; se você se cerca com luzes, cabos e caminhões, logo só poderá captar pequenos lampejos da realidade nos espaços que sobrarem. Eu acho que é tudo relacionado ao diálogo que você está tendo com a realidade: a geografia, as pessoas. Isso está constantemente lançando coisas em você, sejam padrões climáticos, locações ou pessoas caminhando em volta. Estar atento a isso todo o tempo é importante. Realmente ajuda com o contexto.” 

Ele informa momentos em que o envolvimento com a realidade afetou o curso do filme, como quando um cidadão diabético em uma cadeira de rodas aparece em determinada cena e quando a ocorrência de um arco-íris em determinado dia de gravações levou a equipe a filmar as cenas que continham a presença do arco-íris de outra maneira:

“Quando você assistir ao filme, verá um diabético passando pelo ‘frame’ em uma cadeira de rodas elétrica. Essa pessoa estava lá no dia e pensamos: OK. Você pode, por favor, passar por essa cena? Manter essa abertura para ser reativo à realidade é o importante. [… ] Na verdade, tinha uma cena com arco-íris no roteiro. Mas aconteceu em um outro momento, em outro lugar, e não tínhamos nem chegado naquele ponto no nosso cronograma. Então um dia, teve um arco-íris sobre o hotel. Foi tipo: OK, temos um arco-íris real. Vamos lá gravar. Nós gravamos, e acabou sendo provavelmente uma cena melhor em um lugar melhor do que se tentássemos forçar um arco-íris em um momento diferente do filme. Todos esses pequenos elementos é que realmente tornam esse filme vivo. São os pássaros, as pessoas reais de Kissimmee andando pelas cenas, as nuvens de chuvas que caem inesperadamente em uma cena quando se espera um dia ensolarado. Todas essas coisas tornam o filme real.”

Zabe discorre sobre o uso da câmera e lentes para o trabalho e as dificuldades das filmagens de cenas noturnas:

“Partimos da premissa de que queríamos filmá-lo em 35mm, e o fizemos na maior parte. 90% do filme é análogo negativo 35mm, o que dá a impressão orgânica. Mas então veio o desafio de filmar aspectos noturnos. Eu fiz uns testes com negativos para isso, e acabou se tornando outra história. Não foi um conto de fadas. Uma vez que filmamos os aspectos noturnos em 35, a trama tornou-se mais sombria e dramática, o que realmente não é a história de forma alguma [… ] Ainda assim mantivemos o conto de fadas, mesmo em ambientes de baixa luminosidade onde tivemos algumas luzes de estacionamento e luzes velhas do corredor do hotel. Decidimos fazer isso para os ambientes noturnos e isso realmente ajudou a manter tão livre quanto os ambientes diurnos.” 

Por fim, Zabe conta sobre o enquadramento realizado para as crianças, a fim de enfatizar a enormidade do mundo envolta delas:

“Eu amei o fato de as pessoas terem percebido isso porque foi algo importante, sempre manter o ponto de vista da criança. Esse filme todo é contado pelos olhos das crianças. Então sim, câmera baixa. As cores estão um pouco mais acentuadas. Tentamos recriar como uma criança se pareceria nessa paisagem da Flórida, com os parques de diversão e todas as cores. Eles estão se divertindo e aproveitando o verão. Os problemas e situações que acontecem envolta deles se tornam apenas secundários.”

O filme “Projeto Flórida” retrata a história de crianças pobres crescendo perto do Walt Disney World e conta com as participações de Willem Dafoe (“Assassinato no Expresso do Oriente“), Brooklynn Prince (“Robo-dog: Airbourne“) e a estreante Valeria Cotto.

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Vitor Barreto
@jvbsantos18

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