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Notícias   sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Entenda o que muda com compra da Fox pela Disney

O que há por trás do acordo entre estas gigantes do entretenimento?

Entenda o que muda com compra da Fox pela Disney>

Nesta última quinta-feira (14), o mundo do cinema acordou com a confirmação de um dos maiores negócios da indústria, a compra da 21st Century Fox pela Walt Disney Company por 52.4 bilhões de dólares. A transação inclui não apenas a compra dos estúdios da 20th Century Fox, mas também canais de televisão como FX e National Geographic, além de uma dívida de mais de mais de oito bilhões de dólares por parte da Fox.

Mas em se tratando de um acordo tão importante para a indústria cinematográfica no mundo todo, muitas perguntas têm sido feitas acerca de quais exatamente serão as consequência desta aquisição. Sendo assim, o portal Slashfilm separou as dez principais dúvidas que vêm surgindo desde então.

O que exatamente foi adquirido pela Disney?

Como parte do acordo, o Walt Disney Group passa a ser dona dos estúdios 20th Century Fox e Fox Searchlight, dos canais FX e National Geographic, das emissoras esportivas regionais da Fox e da maior parte das ações do serviço de streaming Hulu.

Isso significa, na prática, que uma ampla variedade de franquias, filmes e séries serão incorporadas pela Disney, incluindo obras antigas, atuais e que ainda não foram lançadas. Entre elas estão franquias como “Alien“, “Predador”, “Avatar”, “Duro de Matar”, “Quarteto Fantástico”, “Kingsman”, “Planeta dos Macacos”, “Operação Red Sparrow”, “X-Men”, “Alvin e os Esquilos”, “A Era do Gelo”, “Percy Jackson”, “Uma Noite no Museu”, “Arquivo X”, “As Crônicas de Narnia”, “Independence Day”, “M*A*S*H” e “Maze Runner”, além dos direitos de distribuição para o primeiro filme da saga Star Wars, “Uma Nova Esperança”. Séries televisivas pertencentes à Fox e FX como “Os Simpsons”, “Family Guy”, “24 Horas”, “Prison Break”, “Legion” e “American Horror Story” também passam para debaixo do guarda-chuva de Mickey Mouse.

Ainda não há como saber qual exatamente será o papel da Disney na produção destas séries e franquias, mas sabe-se já, por exemplo, que a companhia pretende fazer uso de Avatar com a construção de atrações relacionadas à obra de James Cameron em seus parques de diversão.

O Quarteto Fantástico, então, vai mesmo integrar o Universo Cinematográfico da Marvel?

Sim. Este era um ponto que gerava muitos questionamentos, e dada a história longa e confusa dos direitos de produção para os filmes do Quarteto, muitos temiam que a equipe ficasse de fora do acordo. O comunicado de imprensa publicado pela Disney, entretanto, esclarece:

Este acordo permite reunir X-Men, Quarteto Fantástico e Deadpool ao restante da família Marvel sob o mesmo teto e criar mundos mais ricos e complexos de personagens e historias inter-relacionadas, que as audiências vêm demonstrando amar“.

Os X-Men encontrarão os Vingadores?

Provavelmente. Em uma reunião do CEO da Disney Bob Iger com investidores e analistas logo após a confirmação da aquisição, ele deu a entender que os mutantes poderiam sim vir a aparecer no Universo Cinematográfico da Marvel. O presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, e a produtora de X-Men, Lauren Shuler Donner, já haviam também manifestado apoio à ideia de unir os respectivos universos. “Se nós gostaríamos [de trazer os X-Men ao Universo Cinematográfico da Marvel]? Sim, claro.“, disse Feige à revista Vanity Fair.

Como ficam Deadpool e os demais filmes com classificação adulta da Fox?

Na mesma reunião com investidores, Iger garantiu que a Disney não tornaria os filmes de classificação adulta da 20th Century Fox em obras mais palatáveis para públicos familiares:

“(Deadpool) claramente tem tido e continuará a ter o selo Marvel. Mas acreditamos que haverá uma oportunidade para um filme da Marvel para adultos em algo como Deadpool. Desde que mantenhamos o público consciente do que virá, acredito que conseguiremos lidar com isso sem problemas.”

Então os fãs podem ficar tranquilos em relação ao risco de filmes de classificação adulta serem influenciados como consequência do acordo. O próprio Ryan Reynolds (“Dupla Explosiva“), intérprete do anti-herói Deadpool nos cinemas, já deu uma amostra de que as coisas permanecerão como estão.

Pelo jeito, não dá para brincar no Matterhorn (atração dos parques da Disney na Califórnia)”

O que ficará com a Fox?

A Fox manterá as redes e estações da Fox Broadcasting, os canais Fox News, Fox Business Network, Fox Sports 1 e 2 e Big Ten Network. Isso será consolidado na forma de uma nova e independente companhia, a princípio chamada New Fox.

O que acontecerá com o Fox Studio?

Um dos principais ativos pertencentes à 20th Century Fox é o lendário Fox Studio, um dos últimos estúdios dos Big Five (grupo dos principais estúdios de Hollywood, composto por Fox, Warner Bros., Paramount, Columbia e Universal) em Los Angeles. Mas sem as grandes produções que estavam sendo filmadas no local, o que seria feito dele?

Como parte do acordo, a Disney fará leasing do estúdio por um período de sete anos, o que significa que ninguém que utiliza o estúdio atualmente corre perigo de ter que desocupar o local num futuro próximo.

Rupert Murdoch agora tem ações da Disney?

Sim, como todos que têm ações da Fox. A negociação foi feita na forma de um “all-stock deal“, o que significa que é dada uma chance para que a transação seja paga através de ações ao invés de dinheiro. Isso faz com que os investidores da Fox passem a ser donos de 25% do valor da Disney. Na data em que o acordo foi firmado (13), as ações da Fox valiam 32,75 dólares, o que significa que quem era dono destas ações agora detêm 0,2745 ações da Disney para cada ação da Fox. A família Murdoch receberá uma pequena quantia em ações da Disney, mas Rupert Murdoch já manifestou que pretende se concentrar em sua nova companhia, a New Fox. Nenhum membro da família terá assento no conselho gestor da Disney, a princípio. Ao The Guardian, Murdoch comentou:

“Se estamos recuando? De jeito nenhum. Quem me conhece sabe que eu sou um homem que lida com notícias dono de um espírito competitivo. A Fox News é provavelmente a marca mais forte em toda televisão. Estamos no centro de um momento importantíssimo.”

. Isto explica a ampliação do contrato do CEO Bob Iger com a Disney até 2021, algo que o próprio Murdoch pediu durante as negociações como forma de auxiliar a transição.

O que acontece se o governo norte-americano barrar o acordo?

Este é o sexto maior acordo de mídia da história, além de ser maior que qualquer outra negociação já feita pela Disney. Isso levanta todo tipo de suspeita em termos de regulamentação. Recentemente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos vem adotando uma postura rigorosa em relação à consolidação de mídia, chegando até a barrar a fusão entre as empresas AT&T e Time Warner.

Tendo isso em vista, a Disney concordou em pagar à 21st Century Fox uma taxa de dissolução de 2,5 bilhões de dólares caso o acordo seja barrado. Há também uma taxa de desagregação de 1,52 bilhões de dólares a serem pagos caso um dos lados desista da transação por razões à parte das questões regulatórias. O pacto de aquisição expira em 13 de dezembro de 2018, podendo ser prorrogado por até um ano.

O que acontece agora que a Disney é dona da quase totalidade do streaming Hulu?

Antes do acordo, Disney e Fox detinham cada uma 30% das ações do serviço de streaming. Agora, 60% pertencerá à Disney, mais do que os concorrentes Comcast/NBCUniversal (30%) e Time Warner (10%). Com mais de 6 milhões de assinantes, o Hulu é uma das principais forças deste mercado, que ainda é dominado pela Netflix – algo que pode mudar, já que a Disney pretende retirar suas obras de seu catálogo.

Nada mudará de imediato, já que o acordo que mantém o Hulu impede quaisquer mudanças estruturais. Mas há quem especule que a Disney possa vir a consolida-lo junto ao seu próprio streaming, criando um único mega-serviço. Bob Iger vem afirmando aos investidores que pretende manter ambas as iniciativas separadas, com o Hulu focando em séries adultas e o serviço próprio da Disney se baseando em conteúdo para famílias. De acordo com Iger:

“Ter um terço do Hulu foi ótimo, mas ter o controle vai nos permitir inseri-lo ainda mais neste campo e torná-lo um competidor ainda maior às demais empresas que atuam na área. Nós poderemos fazer isso não apenas adicionando mais conteúdo ao Hulu, mas também tornando sua administração mais clara, eficiente e eficaz.”

O que isso significa para o futuro serviço de streaming da Disney?

Recentemente, a Disney anunciou que criaria seu próprio serviço de streaming, que teria em seu catálogo todos seus filmes originais, bem como tudo que pertencer à Marvel e à Lucasfilm. Agora com 20th Century Fox e Fox Searchlight, as obras pertencentes a ambos estúdios também poderiam vir a integrar a biblioteca deste serviço.

Bob Iger anunciou no início do verão norte-americano que sua companhia desembolsaria 1,58 bilhões de dólares para adquirir a maior parte da BAMTech, uma plataforma de streaming ao vivo. Isso impulsionaria os serviços de streaming da Disney e da ESPN, que também integra o catálogo de Mickey Mouse. Iger enfatizou que esta forma de consumo é uma prioridade para a sua companhia.

Isso incluiria ainda audiências internacionais, que teriam um grande aumento na oferta de conteúdo pertencente à Disney graças ao fato de esta ter comprado por US$15,7 bilhões a gigante europeia de TV a cabo Sky, que antes era de propriedade da Fox. Este acordo ainda não foi selado, mas espera-se que seja fechado até junho de 2018.

Como isso afeta o restante das indústrias de mídia e entretenimento?

Com a quase certeza de que a Disney dominará cerca de um terço da indústria de entretenimento, seus rivais estão agora em alerta vermelho. Com cinco grandes estúdios competindo com ela – e sua maior rival, Time Warner, ganhando 1 bilhão de dólares a menos em 2016 – o ambiente para companhias de médio e pequeno porte fica cada vez mais hostil.

A compra da NBCUniversal pela Comcast por US$13 bilhões em 2009 já foi algo gigantesco. AT&T adquiriu a DirectTV em 2015, e agora prepara uma oferta de US$85,4 bilhões pela Time Warner. A Charter Communications comprou a Time Warner Cable em 2016, e a Lionsgate adquiriu a Starz no início de 2017.

Enquanto as rivais de Mickey Mouse tentam dar um jeito de consolidar ou comprar mais conteúdo para competir com a gigante que se forma com o acordo Disney-Fox, companhias de pequeno e médio porte vão ficando sem muitas opções exceto se unir a estúdios maiores. Isso pode acarretar numa variedade menor de filmes, e menos obras de orçamento médio.

Como isso afeta o resto do mundo?

Além da europeia Sky, a Disney ainda pode dominar a oferta de mídia no mundo todo, podendo fazer uso de todas as suas empresas para forçar conteúdo pertencente a ela e à Fox via televisão internacionalmente.

Ela possui um bom desempenho com audiências asiáticas, mas são os canais de televisão da Fox que dominam os países orientais, como Star India. A Sky, por sua vez, tornará a Disney uma influencia poderosa nas televisões europeias.

Pessoas perderão seus empregos?

Sim. No comunicado de imprensa a Disney afirma que “espera-se que a aquisição renda pelo menos 2 bilhões de dólares em economia de custos através da união das empresas“. Isso significa que podemos esperar cerca de 2 bilhões de dólares em corte de empregos nas propriedades da Fox que serão incorporadas por Mickey Mouse. Ou seja, muita gente perderá emprego.

“Enquanto existem muitos aspectos na aquisição da Fox pela Disney, eu pessoalmente estou incrivelmente feliz por isso, por um motivo óbvio. Bem-vindos em casa, velhos amigos.”

O que Hollywood acha deste acordo?

Enquanto alguns cineastas apoiaram a união dos super-heróis ao plantel da Marvel e se alegraram por se separarem de Rupert Murdoch, o criador de “Kick-Ass” e “Kingsman”, Mark Millar, expressou preocupação. “Acredito que estou sozinho em não me importar muito com ver todas as franquias se interligando“, ele tuitou. “Personagens demais acaba se tornando algo impenetrável para o grande público. A simplicidade da Marvel sempre foi sua grande força“, completa.

Mas além dos debates fervorosos entre fãs de super-heróis, há também consequências reais e preocupantes deste acordo, para as quais o Writers Guild of America chama atenção em uma carta se opondo ao mesmo. Para eles, o negócio será prejudicial, com roteiristas tendo cada vez mais dificuldade em conseguir salários dignos, e esta é uma batalha que eles vêm travando em Hollywood há anos. A carta continua:

“Na incansável tentativa de eliminar a concorrência, as grandes empresas têm um apetite insaciável. A Disney e a Fox passaram décadas beneficiando do controle oligopolista que os seis principais conglomerados de mídia exerceram sobre a indústria do entretenimento, muitas vezes à custa dos criadores que impulsionam suas operações de televisão e cinema. Agora, essa fusão de concorrentes diretos tornará as coisas ainda piores, aumentando substancialmente o poder de mercado de uma corporação deste porte. As preocupações antitruste levantadas por este acordo são óbvias e significativas. O Writers Guild of America opõe-se fortemente a esta fusão e trabalhará para garantir a aplicação das leis antitruste da nossa nação”.

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Julio Bardini
@juliob09

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