Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de agosto de 2008

Mais do que Você Imagina

A cada nova comédia boba e descartável que aparece, os textos de qualquer crítico seja na web ou em outra mídia acabam rendendo praticamente as mesmas análises. Com "Mais do que Você Imagina" não seria diferente. Enfadonho e sem graça, o longa não conta nem com uma atuação interessante de Meg Ryan.

Dessa vez, a história mostra a vida de Henry Durand (Colin Hanks), que mora somente com a mãe Marty (Meg Ryan) desde o abandono do patriarca da família. Henry é um agente do FBI em ascensão, enquanto Marty passa os dias comendo e fumando cigarros, não sendo a toa que possui seus alguns quilos a mais. Certo dia, Henry vai para uma missão secreta e passa três anos sem contato com a mãe. Quando volta para casa, encontra Marty transformada.

Agora ela tem um corpo escultural e cuida mais de sua aparência. Henry fica em choque com a nova versão da mãe, que agora apaixona homens de todas as idades. O problema aparece quando Marty conhece Tommy (Antonio Banderas), um sujeito esquisito que logo Henry descobre ser um ladrão de obras de arte. O FBI passa a espionar a vida de Tommy e Marty, enquanto Henry não revela o segredo do conquistador nem mesmo para sua esposa Emily (Selma Blair). As coisas pioram quando os sentimentos de Marty crescem e ela se apaixona, porém, como agente do FBI, Henry precisa agir.

Para solucionar esse tipo de história comum, de amor socialmente impossível, existem poucas alternativas. A mais coerente acaba se revelando ainda na primeira parte do longa, quando Tommy passa a desconfiar que está sendo seguido, e sua esperteza em identificar microfones ocultos e sua habilidade com armas acaba entregando o provável final da história. Por ser justificado, o filme acaba tendo um desfecho aceitável e de fácil digestão. Não há requinte na trama de "Mais do que Você Imagina", trazendo mais uma vez as gags de sempre de comédias cujos personagens são caricatos.

O que mais frustra qualquer espectador ao assistir a uma comédia romântica é a falta de risos. Não necessariamente aquele riso super exagerado, que nos mata de rir até rendendo lágrimas, mas uma sensação de que estamos vendo algo realmente divertido. Em "Mais do que Você Imagina", isso não acontece em momento algum. Com exceção de um ou dois comentários feitos por Marty, o filme é isento de boas piadas. A solução é apelar para quedas e escatologias românticas que já são conhecidas em comédias do tipo pastelão.

Com roteiro e direção de George Gallo, o que temos é um filme morno do começo ao fim. A história não traz grandes motivações aos personagens e sempre que aparece algo para alavancar o clima da trama, o diretor faz uma investida errada em cena. Se há algo de positivo na performance de Gallo é que ele nos poupa de ver por muito tempo Meg Ryan cheia de espuma para fingir ser obesa. Essa seqüência não dura mais que cinco minutos em tela, talvez pelo medo de perder credibilidade junto aos espectadores, que conhecem o físico esbelto de Ryan. Ainda que os enchimentos decepcionem, pelo menos a maquiagem facial na atriz funcionou.

O elenco não traz grandes atuações, nem mesmo de Meg Ryan ou Antonio Banderas. Talvez desde "Cidade dos Anjos" (1998) que Ryan não tenha um papel realmente interessante para desempenhar no cinema, o que é uma pena, já que seu talento é inegável. Ryan se resume a fazer humor forçado e paranóico que não convence em tela, vide a cena em que ela cai no jardim enquanto obesa ou o ataque de nervos que ela tem na sacada de sua casa após um encontro com Tommy.

Banderas é outro que não faz mais do que uma atuação de charlatão conquistador. É tanto que quando precisa convencer sobre uma coisa importante da sua vida, tem um dos piores apelos dramáticos da película. O jovem Colin Hanks possui uma única expressão durante todo o filme, além de quase ser esteticamente inviável que ele seja filho de Meg Ryan. Fechando o quarteto do elenco principal está Selma Blair, em um personagem apático e dispensável. Nem as cenas de Blair enquanto agente do FBI que segura uma arma durante uma missão funcionam.

Sem proporcionar o prazer em assistir a uma boa comédia, "Mais do que Você Imagina" estréia nos cinemas brasileiros com a falsa esperança de trazer diversão. O longa deixa a sensação de que o gênero da comédia romântica está virando cada vez mais um escracho romântico que atualmente não se tem tanta vontade de assistir.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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