Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sexta-Feira 13 (2009): Jason ainda garante muita diversão

A interminável série "Sexta-feira 13" ganha mais um episódio para a alegria dos fãs do estilo e a raiva dos cinéfilos conservadores. O longa traz de volta muitos aspectos clássicos dos filmes de terror, mas, o que parecia ser um reinício da série, surge apenas como mais uma divertida continuação.

Quando perguntam quem são os serial-killers mais marcantes da História do Cinema de terror, certamente Jason é um dos primeiros a ser citado. Ao lado de Freddy Krueger, da franquia “A Hora do Pesadelo”, e Michael Myers, de “Halloween”, o assassino da máscara de hóquei fez da franquia “Sexta Feira 13” um dos maiores ícones dos chamados “slashers movies” (filmes sem muita cabeça em que o assassino mata a todos quem vê pelo caminho) da década de 80 e 90. Após nada menos que 10 filmes – 11 se contar com “Freddy Vs Jason” -, inúmeras mortes e ressurreições, e a qualidade dos filmes caindo a cada sequência, tudo indicava que Jason finalmente iria para o limbo. Mas não. Uma certa profecia chamada Hollywood, com seu imenso dom de reciclar velharias com o intuito de sobrepor sua falta de criatividade, tratou de dar-lhe vida novamente. Para o reinício da série, tiveram a sensata idéia de trazer quem já tivera experiência no assunto: Marcus Nispel, que comandou o remake bacana de “O Massacre da Serra Elétrica”.

A história não traz nada de novo. Clay (Jared Padalecki) vai à misteriosa floresta de Crystal Lake, em busca de sua irmã desaparecida. Lá ele encontra restos de velhas cabanas, aparentemente abandonadas. Apesar de ser avisado pelos oficiais e habitantes locais, ele resolve explorar o local juntamente com uma jovem, que está em um grupo que se formou para passar um final de semana de aventuras. O que eles não esperavam era encontrar Jason Voorhess (Derek Mears), o assassino da máscara de hóquei.

O novo longa conta com um aspecto positivo ao seu lado: ele mantém o respeito com as características que marcaram os filmes de terror jovem daquela época. Todas aquelas regras apresentadas no filme “Pânico” sobre usar drogas e fazer sexo como atrativos para a morte estão lá presentes. O filme não economiza na violência, nos jovens loucos para ficarem chapados e nas cenas de nudez, com direito a exposição de nada menos que três pares de seios femininos (quem diria que Jamie Lee Curtis fosse até hoje ser lembrada como a musa dos filmes de terror por isso). Essas são características básicas que ficaram de fora dos últimos filmes por causa da censura. E é exatamente esse Jason sedento por adolescentes farristas que os fãs gostam de ver, e não aquele projeto de Robocop que é enviado ao espaço em “Jason X”.

Fãs clássicos da série também não irão se decepcionar com as muitas referências. Logo no início, eles são presenteados com a clássica e simplória trilha sonora de Harry Manfredini e cenas de flashback do primeiro filme, mostrando a mãe do assassino. Sem falar que ele começa com o assassino usando um saco na cabeça, referenciando o capítulo II. Mas aí entra uma contradição: se os eventos do primeiro filme são relevantes neste, a idéia de reinício vai para os ares. No caso, este tem a mal explicada missão de enterrar todos os filmes anteriores da série, mas do terceiro em diante (daí, explica-se o fato de ele encontrar a máscara pela primeira vez aqui).

Cientes de que não estamos diante de um remake (até porque no longa de 1980 Jason sequer aparece em cena), o que vemos é apenas mais uma continuação como as demais, sem nenhum aprofundamento. E esse é o grande ponto fraco do roteiro escrito por Damian Shannon e Mark Swift (ambos de “Freddy Vs Jason”), pois se a idéia era de recomeço, se esperava mais revelações sobre a convivência do jovem Jason com sua psicótica mãe, ou até as razões porque o assassino levava as cabeças dos jovens para o túmulo da mãe. Mas aqui, a história inexiste.

O que temos são apenas os jovens estereotipados que chegam só para o vilão colecionar cadáveres. Estão lá o herói galã com ar de superioridade, o playboy arrogante, as mulheres que são apenas objeto de possessão masculina, um oriental que está lá para a inevitável piada sobre o órgão genital e o negro, que, quando todos os outros transam, ele fica na mão (literalmente). Falar de atuações é quase irrelevante em filmes desse estilo, pois os jovens são todos canastrões, buscando algum reconhecimento. A exceção é apenas o competente Jared Padalecki (do seriado “Supernatural”), que se mostra bastante seguro em seu papel. Derek Mears, como o novo Jason, bom, ele manteve o “estilo” de sempre.

Se não podemos cobrar inteligência em um filme do estilo, temos mais é que curtir as carnificinas. Disso não podemos reclamar no novo longa, até porque Jason está mais perspicaz do que nunca. Aquele zumbi songa-monga dos anteriores dá a vez a um ágil caçador de pessoas, que arquiteta perfeitamente suas mortes. E sim, agora ele corre. Durante pouco mais de 1 hora e meia, nos deparamos com uma série de mortes criativas, com destaque para a sensacional introdução, antes de o título aparecer na tela. Convenhamos, não é todo dia que vemos fazer um “cigarro humano” nas telas. Pena que não há mortes tão memoráveis e cômicas como a do episódio IV, em que Jason arranca a cabeça de um lutador de boxe com um soco. E um fato no novo longa é bastante lamentável: Jason fazer uma jovem de refém. Jason que é Jason não faz refém, ele simplesmente mata sem piedade. Tudo bem que o roteiro esboça uma explicação, mas, como todo o resto, não surte efeito nenhum.

Marcus Nispel faz um trabalho correto na direção, apesar de às vezes brincar com a inteligência do espectador. Por exemplo: quando certos personagens estão sozinhos, eles ficam falando só, como se o silêncio não fosse o bastante. As cenas de ação mantem um ritmo eletrizante, bem semelhante ao que Nispel havia apresentado no novo “O Massacre da Serra Elétrica”. Tudo bem que muitas vezes ele exagera na edição rápida e câmera tremida, típicas de videoclipes, mas é bom lembrar que se trata de uma produção de Michael Bay. O diretor de “Transformers”, por sinal, parece estar gostando cada vez mais de bancar refilmagens de terror, depois do próprio Massacre e também “O Horror em Amityville”. Este “Sexta Feira 13” acaba ficando no mesmo nível dessas duas produções.

A idéia de dar nova vida a um personagem tão querido pelo público do terror foi válida, e resgatar valores das produções dos anos 80, mais ainda. Uma pena que, por causa de um roteiro rasteiro, temos apenas mais um exemplar da duradoura franquia. Mas não há como negar que Jason ainda garante muita diversão, e, porque não, risos, pois as raízes trash sempre foram a marca de seus filmes. Que ele ressuscite mais vezes, em novas ocasiões. Já imaginaram Jason vindo para o Brasil, botando o terror no morro da Cidade de Deus, tendo o Bope em seu encalço? Tá, viajei, mas que seria divertido…

Thiago Sampaio
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