Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de novembro de 2008

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada

Desconsidere o título absurdo. “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” é um filme delicado e divertido sobre a vida real e as surpresas em seu caminho. As atuações dos protagonistas e a trilha alternativa de Sondre Lerche são o melhor da produção.

“Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”, como já virou costume no Brasil, é uma adaptação tosca para o título da obra cinematográfica original, “Dan in Real Life”. Com a escolha da distribuidora nacional associada à imagem de Steve Carell, famoso por comédias exageradas, é quase certo o espectador entrar na sala de exibição esperando um festival de gags e tombos característicos desse gênero. Mas aí acontece algo semelhante ao que Marie (Juliette Binoche) explica procurar em livro logo quando surge pela primeira vez em cena. Ela procura uma obra que capte o humor humano, algo que a surpreenda sempre. Assim como a vida, no dito popular uma caixinha de surpresas, o filme do diretor Peter Hedges guardará boas doses dessas surpresas para nós. Felizmente, todas elas boas.

Dan (Carell) é um viúvo que há quatro anos se dedica há apenas duas tarefas: tomar conta das três filhas que seu casamento lhe deixou e escrever uma coluna semanal no jornal em que responde às dúvidas dos leitores sobre as relações entre pais e filhos. Às vésperas da decisão dos editores sobre a expansão de sua coluna para outros mercados, ele se prepara para a viagem anual que sua família faz até a casa de praia dos seus pais.

Em uma manhã, ao sair para comprar jornal, ele conhece Marie na livraria. Encantado com a moça, ele não podia prever que, ao chegar em casa ela seria apresentada a ele como a nova namorada de seu irmão Mitch (Dane Cook). Contra todas as regras que prega em suas colunas e na vida de suas filhas, Dan se apaixona por Marie no período em que dividem o mesmo teto e terá que se resolver esse conflito antes que alguém saia machucado.

Irmãos ou amigos apaixonados pela mesma mulher não é nenhuma novidade na dramaturgia. No entanto, alguém já disse que não importa a história, mas a forma como ela é contada. No caso de “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”, essa máxima fica comprovada. Peter Hedges é o responsável pelo roteiro de “Um Grande Garoto” e pelo roteiro e direção de “Do Jeito que Ela é”, um atestado de sua habilidade em trabalhar com comédias dramáticas (as chamadas dramédias). Aqui, sua direção delicada ganha mais um reforço: a trilha sonora de Sondre Lerche que lembra muito a de Kimya Dawson para outro filme sensível e divertido chamado “Juno”. Além das composições interpretadas pelo próprio, a fita ainda tem as ótimas “September” do grupo Earth, Wind & Fire e “Fever” na voz de Alison Sudol.

Se ao olhar para o cartaz, lhe parecer estranho um triângulo amoroso formado por Steve Carell, Juliette Binoche e Dane Cook, esqueça. O trio possui em cena uma química de dar inveja a qualquer protagonista de comédia romântica. E é muito bom ver Carell fazendo novamente (como em “Pequena Miss Sunshine”), mas dessa vez com mais espaço, outro tipo de comédia diferente daquele que o consagrou em “O Virgem de 40 Anos” e na série de TV “The Office”.

O que já era bom fica ainda melhor quando a bela e talentosa Emily Blunt aparece em uma pequena participação. A jovem atriz atrai rouba a cena no restaurante e é apontada por alguns críticos como um dos nomes mais promissores do cinema atualmente. Também no elenco estão Dianne Wiest e John Mahoney que juntos ao restante da família Burns formam um clã divertidíssimo ao qual é impossível não se identificar (àqueles que possuem uma família grande) ou querer fazer parte.

“Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” é ao mesmo tempo comédia, drama, doce e amargo. É como a vida real. Fica a lição de levar o melhor de cada situação, sempre com bom humor. Planos? Somente “planeje ser surpreendido”, diz o roteiro. A vida está cheia de boas surpresas. A produção de Hedges é, sem dúvidas, uma delas.

Igor Vieira
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