Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

“Vicky Cristina Barcelona” é como os três jovens atores que estampam o seu cartaz de divulgação: charmoso e sedutor. Woody Allen deixa Londres e vai até Barcelona para entregar uma comédia sexy e divertida sobre as diferentes formas e escolhas de se amar e viver.

Vicky (Rebeca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) chegam à Barcelona com objetivos diferentes. A primeira veio completar seu mestrado em identidade catalã enquanto a segunda saiu em busca da própria identidade. As diferenças entre as duas não param aí. Vicky acredita no amor tradicional e para a vida toda. Ela está noiva de Doug (Chris Messina), que a aguarda em Nova Iorque para o casamento e uma vida tranqüila a dois. Cristina é uma artista frustrada que escreveu, dirigiu e atuou no próprio curta-metragem que segue a própria filosofia de vida.

Em uma galeria, as duas conhecem Juan Antonio (Javier Bardem), um pintor que teve o divórcio escandaloso estampado nas páginas dos jornais espanhóis. Sedutor, Juan Antonio as convida para um fim de semana de cultura e sexo na cidade de Oviedo. Impulsiva e aventureira, Cristina aceita sem hesitar e Vicky a acompanha para garantir que a amiga não se machuque. Nos próximos dias, ambas se deixam envolver pelo galanteador pintor e terão muito que repensar sobre as idéias que faziam sobre o amor, especialmente quando entra em cena a transtornada Maria Elena (Penélope Cruz parecendo mais saída de uma película de Almodóvar), a ex-mulher de Juan Antonio.

Após uma carreira inteira filmando em Nova Iorque e três incursões em Londres, Woody Allen não demonstra tanta intimidade com Barcelona. Sua câmera não parece à vontade passeando pela cidade catalã e as locações praticamente se restringem aos pontos turísticos como as obras de Gaudí. Como a história é contada pelo ponto de vista das turistas americanas, esse detalhe não chega a incomodar. Além disso, a Espanha fez muito bem a Allen dando novas cores, texturas e sons para a obra. Falando em sons, a trilha sonora é toda envolvente. Dos acordes dos violões espanhóis (uma coisa meio sublinhada, mas que funciona) à divertida música tema (“Barcelona”, de Giulia & Los Tellarini) presente nos créditos de abertura, encerramento e em boa parte das passagens do longa.

Bardem, após um Oscar de melhor ator coadjuvante, aparece em sua melhor forma e encarna um verdadeiro hombre, daqueles que levam as mulheres a cometerem as maiores loucuras. Penélope Cruz, que dificilmente consegue acertar em uma produção americana, teve a sorte de trabalhar em casa e rodar praticamente todas as cenas em seu idioma pátrio. Quando surge na história Maria Elena, o que já era bom fica ainda melhor. A sedução convive com a comédia e cenas entre marido, mulher e nova namorada são deliciosas de assistir.

Quando Johansson despontou em “Encontros e Desencontros” e “Moça com Brinco de Pérola”, sua presença marcante logo a tornou um grande nome para sua pouca idade e experiência. A julgar pela performance em “A Outra”, parecia que seu brilho diante de outros nomes estava se perdendo. No entanto, sua parceria com Woody Allen parece ter dado certo e mesmo em cena com Cruz e Bardem, ela continua mais bela e talentosa do que nunca.

“Vicky Cristina Barcelona” é um filme sobre formas e escolhas de se amar e viver. As amigas do título representam idéias opostas. O espectador certamente se identificará com uma das duas, o que pode gerar um incômodo natural. Natural também é torcer para que ambas tomem um caminho que no fundo achamos que nós devíamos seguir. Até essa decisão, o diretor/roteirista nos guarda algumas surpresas com seu desfecho. Quem sabe não descobrimos que, no final das contas, elas tenham mais uma da outra em si do que imaginam, assim como nós.

Igor Vieira
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