Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de setembro de 2008

Mulheres – O Sexo Forte

“Mulheres - O Sexo Forte” tinha tudo para ser excelente, mas acaba por se perder na obviedade dos livros de auto-ajuda. Ao invés de investir em uma história atual e explorar um universo infinito de possibilidades (o feminino), perde-se no tempo e no espaço de maneira que nem mesmo as mulheres conseguem encontrar identificação.

Mary Haines (Meg Ryan) é uma mãe de família que curte a segurança de um casamento de treze anos. Apesar de ter um emprego que não a satisfaz, trabalha na área que escolheu como profissão: estilismo. Já melhor amiga de Mary, Sylvie Fowler (Annette Bening), tem o emprego dos seus sonhos, mas está a um passo de perdê-lo por não querer se render à indústria. Além das duas, aparecem ainda duas outras amigas que completam o quarteto: a dona-de-casa Edie Cohen (Debra Messing) e escritora lésbica Alex Fisher (Jada Pinkett Smith).

Fato é que tudo muda com a descoberta de que o marido perfeito de Mary tem um caso com a sedutora e ambiciosa Crystal Allen (Eva Mendes), uma vendedora de perfumes que conseguiu fazer desmoronar o mundo da ingênua estilista. Além de tudo, Mary ainda é demitida pelo próprio pai e precisa lidar com a filha pré-adolescente, que teve todos os seus valores familiares desfeitos com a separação desastrosa dos pais.

A película é uma refilmagem de uma comédia romântica de 1939. Ao longo da projeção do longa-metragem, minha cabeça martelou uma questão: com uma história interessante e um ótimo elenco, como um filme que tem tudo para ser bom consegue ser tão fraco? Não era possível. O tempo todo eu tentava entrar na história, mas alguma coisa sempre barrava – faltava algo nele. De alguma maneira, as piadas não surtiam efeito (percebi que o público não respondia a nada). Constrangedor. Em uma sala lotada, ninguém respondeu a nenhuma das provocações.

O roteiro (escrito por Diane English, que também assina direção), apesar de não poder ser considerado de todo ruim, é problemático. Na adaptação, traz todos os elementos acessórios para os dias de hoje e os torna contemporâneos. Mas não faz isso com o principal: a história, que se torna totalmente descontextualizada da realidade atual, e tem algumas visões realmente machistas sobre o universo feminino. Coloca quatro personagens principais completamente clichês e tenta torná-las interessantes. Mas interessantes pra quem?

Apesar de não ser original, a idéia de fazer um filme inteiramente realizado por mulheres é interessante, mas muito complicada. Aceitar o desafio é aceitar também que você precisa necessariamente ter um ótimo argumento para contar essa história. Do contrário, torna-se refém do próprio dispositivo, que é o que acontece aqui. Falta muito bom senso ao roteiro que, apesar de ter algumas (pequenas) boas sacadas, perde-se em colocações sem propósito e situações sem noção. É totalmente sem sentido a transformação da filha de Mary em uma menina revoltada, do dia para noite. Mais sem sentido ainda é a maneira como o filme aponta (ou pior, não aponta) de que maneira aquilo foi resolvido. São inúmeras situações pessimamente desenvolvidas, que matam pouco a pouco algo que poderia ter sido muito mais do que é apresentado.

Para piorar, apesar do ótimo elenco central (e quando eu digo ótimo, pode retirar desse conjunto central Pinkett Smith, que é de longe a personagem mais sem motivo de ser), as atrizes parecem não ter química juntas. Não convence o fato de que são quatro melhores amigas, que estão na vida umas das outras há tantos anos. Simplesmente não convence, não existe entrosamento, não soa nenhum pouco plausível. Em separado, são maravilhosas. Mas o mais importante, especialmente quando se trata de um filme sobre mulheres e suas relações entre si, não está ali. Agora, já que estamos falando em elenco, é bom deixar registrada a excelente participação da excelente Bette Midler, que entra na história como o elemento transformador da personagem de Meg Ryan. Sua entrada talvez seja o melhor momento de todo o longa.

De todos, talvez o maior problema esteja mesmo na direção. English se esforça, mas não consegue inserir bom humor em sua trama. A falta de harmonia fica muito clara na tela, ela não consegue transmitir nada que chegue ao espectador. Falta maturidade ao trabalho de English, que não consegue dar personalidade a este projeto, e nem tampouco consegue primar pelos momentos mais simples da história: ao carregar a mão em momentos dramáticos ao invés de suavizá-los deixou algumas cenas com cara de novela americana.

Beatriz Diogo
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