Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 31 de julho de 2008

Batman: A Máscara do Fantasma

"Batman - A Máscara do Fantasma" é, com certeza, o mais adulto e sombrio longa do Cavaleiro das Trevas até "Batman Begins". A animação é obrigatória para todos os fãs do personagem, embora seja curta demais para suas próprias ambições.

Aproveitando o sucesso da franquia "Batman" de Tim Burton, a Warner Bros. decidiu lançar nos cinemas, em circuito limitado, a animação "Batman – A Máscara do Fantasma", filme que deu origem à série "Batman – A Série Animada". Apesar de ter estreado em pouquíssimas salas, o filme foi um grande sucesso entre os fãs do personagem e razões para isso não faltam.

Ambientado em uma Gotham bastante estilizada, tal qual a mostradas nos filmes de Burton, o cenário da produção é bastante atemporal. A despeito de contar com veículos e prédios cujos designs remetem aos anos 1930 (década na qual o homem-morcego foi criado), os personagens têm acesso a computadores e tecnologias mais avançadas. Tal decisão, tomada pelos diretores Bruce Timm e Eric Radomski, acaba por dar ao espectador uma sensação bastante interessante, na qual o filme (e, conseqüentemente, a série) poderia se passar em qualquer época.

Além disso, o inteligente desenho dos personagens, claramente inspirado nas animações estreladas pelo Superman produzidas pelos irmãos Fleischer nos anos 1940, é bastante elegante e simples, sem jamais desumanizar ou estilizar exageradamente os personagens, que conseguem transmitir visualmente de maneira perfeita as emoções pelas quais passam, em um maravilhoso e sutil processo de performace animada.

Considerando o roteiro escrito por Alan Burnett e Bruce Timm, tais interpretações vieram a calhar. Em seus parcos 76 minutos, "Batman – A Máscara do Fantasma" estressa emocionalmente os seus personagens de um modo até então inédito para a franquia fora dos quadrinhos.

Aproveitando-se do fato de que já conhecemos o herói dos filmes live-action, a fita já começa à toda, com Batman enfrentando um chefão do crime. Após vencer facilmente uma luta contra os capangas do criminoso, o herói começa a perseguir o mafioso no estacionamento do prédio. No entanto, outra misteriosa figura mascarada acaba por surgir e mata o meliante.

Mesmo sendo defendido pelo Comissário Gordon, setores da polícia, movidos pelo vereador Arthur Reeves, começam a caçar o Batman, já que mais e mais chefes do crime organizado começam a ser assassinados pelo tal Fantasma. Enquanto tenta limpar o nome de seu alter-ego, Bruce Wayne ainda tem de lidar com o retorno de seu antigo amor, Andrea Beaumont.

Contado em flashbacks, o relacionamento dos dois se liga intimamente com a origem do Batman e acaba por levar o herói a se perguntar se seguiu o caminho certo ao se tornar um combatente mascarado do crime. Enquanto isso, as ações do Fantasma continuam a pressionar mais e mais o mundo do crime, atraindo a atenção do Coringa, que é chamado para dar cabo do novato.

O elenco de dubladores na versão original da produção é simplesmente soberbo. No entanto, três dubladores se destacam. O primeiro é Kevin Conroy, que dá a voz de Batman/Bruce Wayne e simplesmente domina o personagem, que viria a dublar pelos próximos anos. Se antecipando a Christian Bale, Conroy concede a Wayne e a Batman tons de voz absolutamente distintos, sem contar o peso dramático que a melancólica voz do jovem Bruce Wayne possui, conforme pode ser vistos nas cenas de flashbacks.

Já Dana Delany traz a elegância e a tragédia da vida de Andrea Beaumont em sua voz. Trabalhando com firmeza na personagem, em cada uma de suas inflexões ficam presentes as motivações e as tristezas pelas quais a jovem mulher passou. Apesar de não encarnar um papel duplo como Conroy, Delany tem de diferenciar os diversos momentos pelos quais a sua personagem passa em seu arco narrativo e fazer isso combinando a sua voz com uma animação é algo digno de aplausos.

Por último, vale ressaltar a bela composição vocal de Mark Hamill (o Luke Skywalker da saga "Guerra nas Estrelas") para o Coringa. Enquanto a animação toma emprestada a origem do personagem do "Batman" lançado nos cinemas em 1989, Hamill busca diferenciar sua interpretação do lunático personagem de Jack Nicholson. Auxiliado por um design bastante eficiente, o resultado é um vilão imprevisível e envolto em humor negro.

No entanto, a produção não é desprovida de defeitos. Apesar de ter sua trama bastante amarrada em seus dois primeiros atos, a resolução da fita é bastante corrida, dando impressão de que algo ficou faltando, principalmente para fechar, de maneira apropriada, o arco envolvendo o herói e a força policial. Mesmo com tal defeito empalidecendo perante as virtudes do projeto, é algo que incomoda bastante.

Passados 15 anos após seu lançamento, a qualidade da animação de "Batman – A Máscara do Fantasma" impressiona, bem como seu ambicioso tom melancólico, que levou o personagem a lugares em que Tim Burton e Joel Schumacher nem imaginavam e aos quais o cavaleiro das travas jamais veria novamente nos cinemas até a reinvenção da franquia por Christopher Nolan. Recomendado.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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