Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de maio de 2007

Homem-Aranha 3 (2007): este é o melhor filme da trilogia

O terceiro filme da franquia “Homem-Aranha” é o mais movimentado da série, o que possui a história mais complexa, e por fim, é o melhor de todos. Espetacular é pouco para descrever a adrenalina transmitida. Os fãs do aracnídeo podem morrer felizes!

Após os dois ótimos filmes da franquia “Homem-Aranha”, o herói mais famoso da Marvel, era simplesmente impossível não ostentar uma expectativa pela chegada do terceiro. O primeiro se mostrou bastante convincente para os fãs do personagem, tanto que impulsionou uma série de outras adaptações de heróis. Já o segundo, conseguiu se mostrar uma das melhores adaptações de quadrinhos para as telas, deixando a ânsia pela chegada do terceiro durante longos 3 anos, e a dúvida se seria possível superar todo aquele show cinematográfico. Acompanhando cada passo da produção, cada foto de divulgação, o terceiro filme deixou os fãs atônitos com o fato de o fim da trilogia abordar a simbionte e o famoso uniforme negro do personagem. Apesar da expectativa, ainda me mantinha com o pé atrás com a produção devido alguns detalhes, mas após finalmente conferir o longa, em uma seção de teste na véspera da estréia nacional, posso dizer com convicção: “Homem-Aranha 3” não só coloca os dois filmes anteriores no bolso, como é um espetáculo visual raro de se ver nas telas, com uma história ímpar. Uma única palavra define bem a sensação pós-exibição: delírio!

Com seu segredo agora revelado a Mary Jane e Harry Osborn, Peter precisa enfrentar as conseqüências de seus atos e seu relacionamento com Mary Jane se torna delicado. Para piorar, um jovem e mal-caráter fotógrafo chamado Eddie Brock se torna um concorrente de Peter no Clarim Diário. Ao mesmo tempo, Flint Marko, um fugitivo da polícia é vítima de um acidente em uma experiência científica e torna-se uma criatura de areia que pode mudar de forma. Ao investigar o caso, Peter entra em contato com dois importantes elementos que vão alterar sua vida. A primeira é a jovem Gwen Stacy, filha do novo chefe de polícia da cidade. A outra, uma substância negra que se funde com o uniforme de Peter, dando a ele novas habilidades. Entretanto, a situação fica ainda mais crítica quando Harry, determinado a vingar-se de Peter pela morte de seu pai, assume uma variação do uniforme do Duende Verde. No caos que se segue, a substância negra começa a alterar a personalidade de Peter, enquanto a mesma pode dar origem a um novo e poderoso vilão: Venom.

Meu maior temor quanto ao filme era o fato de ter muitos novos personagens, além de três vilões, podendo o roteiro ser deixado de lado e apelar demasiadamente para a ação, além do risco de um vilão ganhar maior ou menor simpatia do público. Quebrei a cara. O roteiro de Alvin Sargent (que também escreveu o segundo filme) continua sendo o ponto alto da produção, de forma que todos os personagens possuem extrema importância para o decorrer da trama (acreditem se quiser, até o mordomo de Harry Osborn tem participação decisiva) e todos se interligam de maneira precisa e natural, sem soar forçado, nem a narrativa perder o foco. O diretor Sam Raimi consegue a difícil missão de manter o clima tenso o tempo todo (esse é com sobra o mais ‘adrenalina’ de todos, com múltiplas cenas de ação consecutivas), porém, os personagens recebem uma profundidade admirável, de forma que todos os principais são tridimensionais.

Mesmo nas cenas de ação, é possível enxergar análises profundas, como na luta crua – no sentido de usarem mais a força física do que os poderes – de Peter com Harry em seu lar, e do Homem-Aranha com o Homem-Areia no esgoto, pois em ambos os casos, nosso “herói” (nesse filme, essas aspas fazem muito sentido) não lutava para fazer o bem, e sim por motivos próprios e esbanjando satisfação e frieza quando bem sucedido. Em tudo há razões fundamentadas que vão além da ação gratuita, principalmente no duelo entre Peter e Harry, pois sempre existiu um sentimento de amizade entre eles – e uma paixão maior por Mary Jane, vale ressaltar – e a intenção de ambos nunca foi simplesmente destruir o outro. Interessante o modo como Harry, que assume o posto do novo Duende Verde, quer se vingar de Parker não apenas fisicamente, mas humilhando-o emocionalmente. E Harry se apresenta um personagem bem mais interessante do que fora visto até então, e até James Franco teve uma considerável evolução em seu desempenho (é, nunca imaginaria que um dia o elogiaria). Isso se dá pelo motivo que ele em nenhum momento pode ser rotulado como vilão, e sim, como um sujeito que sempre busca estar do lado da razão.

Peter Parker recebeu um tratamento bem mais complexo do que nos outros filmes, pois agora ele enfrenta suas próprias dores de maneira mais rígida, algo que exigiu de Tobey Magüire um desempenho vulnerável, pois são muitas as mudanças de seu modo de agir. Para se ter uma idéia, são conferidas três personalidades: a já conhecida do nerd desengonçado; a do mesmo nerd, porém com orgulho elevado pelo prestígio adquirido pelo Homem-Aranha – fato que causa ciúmes na frustrada Mary Jane, outro aspecto muito bem abordado pelo roteiro; e a do Parker mulherengo, egocêntrico e impetuoso afetado pela simbionte. Essa relação de Parker com a simbionte é a grande força motriz do longa. Detalhe para a impagável cena do personagem em momento de ‘liberdade’ ao som de James Brown, conseguindo bater as cenas ao som de ‘Rain Keeps Falling on My Head’, do filme anterior. Nessa sua fase de transição de personalidades, muito precisa foi a inclusão da personagem Gwen Stacy (que vale lembrar, nos quadrinhos foi a primeira grande paixão de Peter), vivida de maneira convincente pela bela Bryce Dallas-Howard. Falando em paixão de Peter, sua amada Mary Jane retorna novamente vivida por Kirsten Dunst, que não faz nada de muito diferente do que fizera nos dois filmes anteriores.

Ao conferir “Homem-Aranha 3”, entende-se o porquê de Sam Raimi ter escolhido o Homem-Areia como seu vilão favorito – e que na visão de muitos, era o vilão menos interessante do trio de maléficos. O personagem é depois de Peter, o mais complexo da trama, de modo que por trás de todos seus atos cruéis, existe uma causa dramática, o que faz com que o espectador crie uma empatia com o personagem. Méritos de Thomas Haden Church, que confere a Flint Marko o ar sempre durão necessário, porém, com aparência de um ser humano triste consigo próprio. Sem falar que seu visual quando transformado em um legítimo monstro de areia é de arrasar, não deixando a desejar em nada em relação aos outros vilões de toda a série. Os efeitos especiais aplicado em sua caracterização estão impecáveis, com destaque para a sensacional cena de seu “nascimento”, quando tenta se erguer e vai descobrindo as modificações em seu corpo.

As performances do Homem-Areia e do novo Duende são tão envolventes, que o espectador chega até a não sentir falta do vilão mais famoso das histórias do aracnídeo: Venom. Arrisco até a dizer que a inclusão de Venom seria desnecessária, mas os fãs engoliriam Sam Raimi vivo se ele ficasse de fora. Mas ele está lá, espetacular, amedrontador e um atrativo de peso para o filme. Topher Grace confere o exato ar de canastrice ao fotógrafo Eddie Brock, alter-ego de Venom, tanto que Tobey Magüire até chega a copiar sua essência quando está com a personalidade influenciada pela simbionte. E Venom transformado é exatamente igual ao que conhecemos nos quadrinhos e nos desenhos (talvez um pouco menor, mas tudo bem), sendo talvez o adversário mais forte do Aranha pela semelhança entre ambos. Os fãs certamente irão delirar, principalmente no momento de sua formação, bastante fiel aos quadrinhos, quando Peter tenta tirar a simbionte de si ao som das badaladas do sino da igreja.

Para os que procuram ação desenfreada, podem ficar mais do que felizes, pois este não só é o filme mais movimentado, como também as cenas são as mais instigantes, mostrando uma evolução sem igual da condução de Raimi. Começando pela excelente perseguição nos ares entre Peter e Harry, seguida da briga do Aranha com o Homem-Areia em um carro forte, essas cenas juntas já botam no chinelo a grande batalha no trem com Dr. Octopus do filme anterior. Sem falar no sufocante clímax, em que todos os personagens importantes duelam entre si. Os efeitos especiais todos são realmente impressionantes, justificando o staus de produção mais cara de história, custando caros US$ 250 milhões. As acrobacias do Aranha estão mais absurdas do que nunca, os vôos do novo Duende estão críveis, sem falar na já citada estonteante criação do Homem-Areia. Algo realmente inimaginável de ser feito em um filme de live-action.

Sam Raimi conseguiu fazer no tema ‘a busca por si próprio’ uma salada de subtramas que incluem a relação de Peter com a simbionte; vingança; caso afetado por ciúmes; triângulo amoroso; as formações psicológicas dos vilões…tudo embalado com cenas de ação contínuas e espetaculares. Não só é o melhor da trilogia, como chega para marcar época entre os filmes de adaptação de quadrinhos. Superficialmente o final pode não deixar ganchos para uma continuação, mas o mais atentos (e conhecedores das sagas nos quadrinhos), poderão encontrar algumas pequenas deixas escondidas. Após muitas delongas, Raimi já confirmou que mais filmes do aracnídeo da Marvel virão por aí. Os fãs agradecem.

Thiago Sampaio
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