Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Rocky III – O Desafio Supremo

Decaindo e muito na qualidade do roteiro, Sylvester Stallone conseguiu um sucesso de bilheteria, embora este terceiro seja um dos mais fracos dos cinco filmes, já que perde a essência das personagens para focar-se nas lutas. Um dos maiores erros cometidos na franquia.

Tudo que é bom dura pouco. E, claro, tudo que tem um começo, tem um fim. Mas como perceber quando se chega ao clímax e tudo o que se vê pela frente é somente uma bela de uma queda? Dentro da franquia Rocky, acredito ser no terceiro filme da série que se dá início ao fim de uma era.

Rocky agora é campeão de pesos-pesados, dono do cinturão que, com orgulho, defendeu dez vezes durante o embaçado tempo cronológico que separa o segundo do terceiro filme. Embaçado porque diversas vezes você chega a se perder na cronologia, caso você seja daqueles cinéfilos chatos que não perdoa a aparição do microfone no alto da tela. Bom, mas continuando. Agora Rocky não mora mais na periferia. Aliás, parece até que esqueceu o que era a periferia. Aquele garoto com cara de mal, mas que não passava de um crianção, que era o maior atrativo da personagem, desapareceu. Agora deu lugar a um engravatado e, mesmo que bobo, não é mais o mesmo que conhecemos na última luta. Agora mora em uma mansão, tem um filho já com seus 5 ou 6 anos, uma limusine. Virou garoto propaganda do American Express, apareceu em programas como "The Muppet Show" (note que, no segundo filme, Rocky não conseguia nem falar direito as frases que ele tinha que ler durante um comercial). Mas, para demonstrar que Rocky não se vendeu completamente, ele continua lutando, mas luta para caridade. Suas lutas são para levantar dinheiro para fundações. Até o momento em que ele é desafiado por Clubber Lang, um lutador que veio do nada, e completamente arrogante (perceba, o velho clichê chato do inimigo arrogante que com certeza irá perder!) desafia Rocky para uma luta em disputa do título de campeão dos pesos-pesados. É então que ele descobre que Mickey, visando o melhor para Rocky, fazia com que este ganhasse as lutas, visto que pretendia que o lutador não piorasse a sua saúde (o olho esquerdo ruim, do segundo filme), no entanto, Rocky não sabia da armação. Então, determinado a provar para si mesmo, após o enfarte de Mickey, ele se junta ao seu antigo inimigo, Apollo Creed (ou Apollo Doutrinador na versão dublada), para manter o título de campeão dos pesos pesados.

Se você é um fã da franquia, se apaixonou pelo jeito de ser dos personagens, aquela realidade crua que era, de certa forma, retratada nos dois primeiros filmes, pode se decepcionar e muito com este episódio da franquia. Primeiro porque tudo o que havia de atrativo no filme, que, por incrível que pareça, não se resumia somente às lutas, desaparece como em um passe de mágica aqui. O que talvez tenha sido o maior problema para a franquia, é que as lutas não eram o ápice do filme. Elas se tornavam o ápice devido a toda a caminhada, o percurso e os obstáculos que apareciam à frente dos personagens principais.

O filme deixa de ser um projeto com uma moral social e passa a ser um pipocão, com muita imagem, uma história, mas quase nada de conteúdo. Não digo aqui que o filme seja vazio diante a história da franquia. A série é tão interligada em si que é difícil você assistir hoje a Rocky Balboa, sem ter visto os filmes anteriores, já que muitos detalhes são revividos em cada novo episódio da saga. Porém o terceiro filme esquece completamente desses pequenos detalhes e transforma o longa (um dos menores em duração da franquia) em apenas enchimento de lingüiça, que pode ser que você nem precise dele para acompanhar a série.

Mas, claro, não há nada melhor do que ver um personagem carismático como Rocky crescer na vida. Na verdade, o maior atrativo deste filme é direcionado para aqueles que realmente são fãs e que sentem um aperto no coração quando têm que dizer adeus ao personagem, na hora em que a imagem congela e os créditos sobem.

Stallone não se desvencilha dos maneirismos que pegou com John G. Avildsen, e não se torna um diretor nato, mas sim estagnado, e não criando nada de inovador para série. O roteiro, também escrito por Stallone, apenas segue a tendência do mercado de criar mais um sucesso de bilheteria para MGM, o que faz de forma espetacular, já que este e o quarto filme são os maiores arrecadadores de bilheteria da franquia.

O desprender das raízes do filme é tão grande que os personagens do elenco de apoio, como a esposa Adrian, o cunhado Paulie, Apollo Creed e Mickey se tornam meros coadjuvantes, que simplesmente estão no filme para figurarem como fantoches ao lado de Rocky, e até mesmo a explosão de raiva de Adrian com Rocky durante o treinamento soa superficial e falso, diferente da sua primeira explosão de raiva com Paulie, no primeiro filme.

"Rocky III – O Desafio Supremo" não é ruim, mas também não chega nem aos pés dos dois primeiros filmes e acaba se tornando apenas mais um projeto dentro da franquia. Mas como já diz o ditado: "Tudo que sobe, tem que descer", e o que vale nessa hora é se a queda vai ser suave ou brusca.

Leonardo Heffer
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