Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 20 de junho de 2007

Todas Contra John

Com uma proposta que parecia um tanto diferente inicialmente no meio de tantas comédias românticas adolescentes, "Todas Contra John" parece não conseguir dar força a sua história e se perde em meio a tantos personagens caricatos e mal trabalhados, mas mesmo assim ainda garante algumas boas (porém poucas) risadas.

Existem vários gêneros no meio cinematográfico que já estão gastos pela pequena receita de bolo seguida por muitos roteiristas. Alguns ainda conseguem fazer com que uma nova roupagem em cima dessa mesma receita consiga bons frutos, como foi o caso de "10 Coisas Que Eu Odeio Em Você" ou "Ela é o Cara" (os dois por coincidência são adaptações da obra de Shakespeare). Todos esses dois também contavam com excelentes atores e excelente direção, e digamos que é exatamente este pequeno detalhe que é o fermento dessa pequena receita de bolo, que faz com que filmes dentro desse gênero obtenham destaque.

Com uma proposta que parecia vir fazer o diferencial, John Tucker é o típico capitão do time de basquete. Bonito, charmoso e disputado por todas as garotas, ele consegue sempre manter relacionamentos com mais de uma garota. As "felizardas"? Sempre de grupos ou de estilos diferentes, de forma que elas nunca conversem uma com as outras para poderem descobrir o plano de Tucker. Os "alvos" são Heather (a cantora Ashanti), Beth (Sophia Bush) e Carrie (Arielle Kebbel). Vendo tudo de camarote, está Kate (Brittany Snow), a garota invisível da escola, que não é nem um pouco popular. Até que um dia as três felizardas acabam tendo suas vidas cruzadas e naquelas fofocas básicas femininas (pelo menos para o cinema norte-americano teen) as moças se juntam a Kate para destruir a fama de John Tucker.

O filme chegou com uma proposta que acaba se perdendo. Na verdade, um dos problemas do longa é colocar muitos personagens e todos com quase o mesmo peso em destaque para o desenrolar da história. Tanto que o filme começa com uma personagem, que visivelmente será a principal do filme. Porém, depois de alguns momentos, o longa começa a distribuir as atenções e acaba por tirar o foco da personagem principal, tanto que o desenrolar do projeto acaba se perdendo e muito da sua proposta.

Outro problema no roteiro é o fato de, pela quantidade de personagens, ele preferir simplesmente explorar as situações engraçadas (que acabam não sendo tanto assim), e esquecem de realmente aprofundarem cada ser individualmente, o que torna difícil para o espectador simplesmente aceitar algumas ações ou reações que acontecem no desenrolar da história. Acaba que o espectador em alguns momentos pode até mesmo se sentir uma marionete, guiada pela linha criada pelo Jeff Lowe, que acaba deixando sua experiência (ou inexperiência) afetar o filme. Lowe anteriormente só havia trabalhado com seriados, e, com certeza, se você é um viciado em séries televisivas, irá perceber nitidamente o estilo de narração semelhante, fazendo com que o longa as vezes pareça alguma produção televisiva feita para o Disney Channel.

Betty Thomas parece simplesmente ter perdido o tato. A diretora do interessante "28 Dias", com Sandra Bullock, simplesmente se deixa levar pelo tom pastelão e acaba se perdendo também durante a produção, não conseguindo nem mesmo fazer com que as atrizes consigam realmente se tornar figuras interessantes, para que salvem o filme do fracasso, como foram os personagens principais das duas produções citadas no início desta crítica. É incrível como ela reduz todas as personagens, sem tirar nem pôr, a pessoas que possuem movimentos exagerados, transformando-os em personagens de uma comédia televisiva bem exagerada.

O filme se salva pelos poucos momentos de risos que consegue tirar. Porém são realmente muito poucos e há cenas que eram visivelmente para serem engraçadas e que acabam por não surtir efeito, como o resultado da cena da calcinha (quem assistir vai entender), a qual consegue uma solução tão irreal, mas realmente tão irreal, que, ao invés de ser engraçado, pode chegar mesmo a indignar uma parte dos espectadores.

No saldo final, "Todas Contra John" é o tipo de filme que se pode esperar chegar na locadora, ou melhor, passar na TV a cabo mesmo, já que ele não acrescenta realmente em nada, se é que os filmes no gênero comédia romântica adolescente alguma vez acrescentaram algo a alguém.

Leonardo Heffer
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