Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 20 de junho de 2007

Massacre da Serra Elétrica: O Início, O

Trazendo todos os elementos do primeiro filme e transformando o “Leatherface” em apenas mais um personagem que acaba indo para segundo plano, a desnecessária continuação de um filme razoável mostra que o ditado “Não se mexe em time que está ganhando” definitivamente não funciona muito bem em Hollywood.

A história dessa vez, como no título já fala, se passa antes do primeiro filme. No ano de 1969, dois casais cruzam o estado do Texas para que os dois irmãos Eric e Dean possam ir para a guerra no Vietnã. Acompanhados de suas namoradas, a trupe sofre um pequeno acidente no meio da estrada (ainda estou com pena da vaca!) e acabam sendo arrastados pelo sádico “xerife” Hoyt para simplesmente uma sessão de 40 minutos (o filme tem um pouco mais de 70 minutos) de pura tortura.

Em 2003, a produtora de Michael Bay chegava aos cinemas com um remake do escabroso, mas cult “O Massacre da Serra Elétrica”. Para quem assistiu ao original de 1974, com direção de Tobe Hooper, sabe que o filme não passava de uma colagem de cenas de requintes de crueldade que, para a época, foi em excesso e boa parte das cenas com uma loira gritando…sabe aquelas cenas que você ouve um grito ao longe, aí você vê a mulher correndo, o grito dela aumenta conforme chega próximo a câmera, depois vai diminuindo conforme ela se afasta? Bom, era basicamente ao que se resumia o original. Mas o remake do filme chegou em um momento em que o gênero no cinema estava completamente desgastado por filmes de adolescente, em sua maioria escritos por Kevin Williamson ou (na época) o iniciante Ehren Krueger (que melhorou muito de uns tempos para cá). A nova roupagem feita por Scott Kosar no roteiro e Marcus Nispel na direção foi a chave para abrir um novo estilo no gênero terror, o terror cruel. Com cena de crueldade, trouxeram um fator razoável e que deixou o remake muito acima do original, mesmo com a história fraca, escrita somente para levar os atores ao ápice do filme.

Mas, infelizmente, "O Massacre da Serra Elétrica: o Início" é completamente dispensável. Isso porque além de não acrescentar nada ao espectador, o filme traz todos os elementos do primeiro filme e só inova um pouco nas crueldades sofridas por mais da metade do elenco do filme. Boa parte do problema reside no roteiro de Sheldon Turner (o que é muito preocupante, já que ele é responsável pelo roteiro também do filme do Magneto) e na direção de Jonathan Liebesman (do ridículo “Ao Cair da Noite”).

A condução do filme passa a se destacar em cima da família e do personagem que, para quem assistiu ao primeiro filme, causou mais repulsa em todo o filme, o “xerife” Hoyt. Infelizmente, "O Massacre da Serra Elétrica" não se trata da família, ou pelo menos não exclusivamente da família, mas também do personagem do Leatherface, que neste filme, apesar de mostrar os primeiros crimes cometidos pelo gigante (em todos os sentidos), ainda assim seu personagem é bastante esquecido.

O roteiro demonstra também que nenhum personagem foi trabalhado, seguindo apenas o estereótipos e que se torna até fácil saber que haverá determinadas cenas. Aliás, o estereótipo é tão grade que próximo ao final do filme, quando o “xerife” Hoyt fala uma determinada frase, ela é visivelmente em alusão a outro personagem, que durante o filme, claro, passa por uma transformação (mais uma vez, claro!). O filme também passa a se concentrar, em sua maior parte, em uma sonoplastia um tanto barulhenta, feita especialmente para que o espectador consiga sentir a dor ou o revolver do estômago, já que Liebesman deve ter achado que as cenas por si só não estavam bastante convincentes.

Quanto a atuação, acredito que o teste dos atores deva ter sido: “Quer entrar no elenco de O Massacre da Serra Elétrica, então grita!”, porque nunca vi um elenco tão escandaloso em um filme de terror como esse. Claro que isso ajudou para sentir pena deles, porque simpatia mesmo foi um pouco complicado, já que eles se mostraram um tanto apáticos, com exceção, é claro, de Jordana Brewster, que, ao menos no começo do filme, consegue ainda dar um ar carismático à sua personagem. Aliás, não sei nem como ela embarcou nesse filme. Já bastou “Prova Final” (1999) para sujar sua carreira.

Com um final que para muitos possa parecer surpreendente, embora nem seja tanto caso você tenha assistido o primeiro filme e raciocine um pouco, o filme deixa o seu estômago revirado, e não há motivo para se gastar dinheiro para ver o povo sendo torturado. Melhor ver o primeiro filme que é mais lucro. E não, "Massacre da Serra Elétrica: o Início" ainda não conseguiu derrubar “O Albergue” como pior filme do ano.

Leonardo Heffer
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