Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 06 de outubro de 2006

Dália Negra

Repleto de subtramas que nada acrescentam ao decorrer da história, "Dália Negra" aparenta ter uma duração maior do que possui. Brian De Palma não decepcionou em sua direção, assim como também não surpreendeu. O grande trunfo do filme, definitivamente, foi a sua estética.

Brian De Palma não precisa da aceitação de ninguém, já se consolidou profissionalmente como um dos cineastas mais conhecidos de todo o mundo. Com um currículo recheado de filmes competentes como "Os Intocáveis", "O Pagamento Final" e "Vestida Para Matar", resolveu voltar à direção, após quatro anos parado, em "Dália Negra". Apenas devido ao nome do diretor estar atrelado ao projeto, muitas pessoas já criaram expectativas sobre o teor do longa. Todavia todos sabem que renome não significa necessariamente que existirá uma produção digna de aplausos. Assim como todos seres humanos, De Palma falha ao priorizar certas características e deixar de lado outras, que, talvez, se fossem bem trabalhadas, resultariam em um conjunto digno de ser ovacionado.

Baseada no romance escrito por James Ellroy, a trama é ambientada em 1947, quando dois policiais, Bucky Bleichert (Josh Hartnett) e Lee Blanchard (Aaron Eckhart), empenham-se em resolver o caso do assassinato brutal de Elizabeth Short (Mia Kirshner), jovem de 22 anos também conhecida como Dália Negra. Cruelmente, a aspirante a atriz foi torturada, mutilada e teve o seu corpo abandonado em um terreno baldio localizado em Los Angeles. Com a proximidade dos policiais, também conhecidos como Sr. Fogo e Sr. Gelo devido a algumas lutas de boxe, os dois acabam se apaixonando pela mesma mulher, a misteriosa Kay Lake (Scarlett Johansson), ex-prostituta cujo antigo cafetão será finalmente libertado da prisão, fazendo com que a situação do triângulo amoroso torne-se ainda mais crítica.

Esteticamente, o filme é praticamente perfeito. Como a história se passa no final da década de 40, foi exigida uma reconstituição de ambientes da época. Uma cenografia esplêndida, com características impecáveis que possibilitaram até mesmo aqueles que não viveram nesses anos se sentissem familiarizados com o tempo. Não somente os cenários foram fiéis, como também os figurinos idealizados e os carros, por exemplo. O uso constante de tons sépios ajudou ainda mais o aspecto e atmosfera antiga do longa. Outro fator notável é a trilha sonora. Quem, antes mesmo de assistir ao "Dália Negra", sabia que as canções do filme haviam sido compostas por Mark Isham, o mesmo compositor das melodias de "Crash – No Limite", já esperava bastante deste aspecto. E, para felicidade de muitos, em nenhum momento as canções instrumentais decepcionaram. Todas se encaixaram perfeitamente bem na trama, dotando-a de um ritmo mais vivo.

De Palma reafirma que possui competência, embora em "Dália Negra" não tenha se sobressaído tanto assim. Sua direção em nenhum momento está ruim, porém não se destaca como aconteceu em outros filmes. Um dos pontos altos, por exemplo, foi o jogo de câmeras e montagem utilizados na luta de boxe travada entre os dois policiais. Uma cena de tirar o fôlego. O cineasta também acerta em outras situações, como quando Bucky é apresentado à família de Madelaine (Hilarry Swank). Neste momento, o diretor faz com que sejamos ligados diretamente em Bucky, conhecendo, assim, o mundo aparentemente novo para o qual seria transportado. Como é possível notar, no entanto, a direção de De Palma é feita de momentos e apenas isso.

O roteiro em si não contribuiu muito para o sucesso do longa. A princípio, a trama demora muito para engatar de fato, contribuindo, dessa forma, com a monotonia do ritmo usado e a impressão de o filme durar mais tempo do que realmente possui. O roteirista Josh Friedman peca ao exceder no uso de subtramas que aparentemente se ligam. O real caso a ser analisado era o do assassino de Elizabeth Short, no entanto, a jovem, muitas vezes, parece ser completamente esquecida para dar espaço aos relacionamentos amorosos dos personagens e outros casos policiais. Não afirmo que o filme não devia ter tramas paralelas, pelo contrário, histórias emergidas em outras são sempre bem-vindas, o problema apenas residiu no fato de o principal assunto do filme ter sido totalmente deixado de lado. Não foi possível, por exemplo, criar um certo sentimento de pena pelo caso ocorrido com a aspirante a atriz. E, ao dar mais valor aos conflitos dos personagens, pelo menos seria esperado que o espectador se sentisse mais próximo daqueles, porém nem isso acontece, resultando em uma má utilização tanto de um quesito quanto de outro.

A equipe principal de atores não decepcionou. Aaron Eckhart, que anteriormente havia desempenhado um ótimo trabalho em "Obrigado Por Fumar", transporta ao seu personagem, Lee Blanchard, todo o ar prepotente e cheio de si, ao mesmo tempo que consegue compor um papel perturbado em algumas situações. Josh Hartnett pode ser considerado uma das revelações masculinas de Hollywood. O jovem de "Pearl Harbor" faz um Bucky aparentemente confuso em relação ao que deseja e também traz simpatia ao personagem. No entanto, as atenções da equipe de atores foram voltadas para as beldades femininas que figuraram o longa. A jovem Scarlett Johansson é responsável por agradar o público desde criança, e não seria diferente em "Dália Negra". Neste filme de Brian De Palma, a atriz reafirma que está apta a trabalhar de forma esplêndida nos mais diversos gêneros cinematográficos. Sinceramente, ela já é expressiva por natureza, até mesmo sendo esquecida um pouco na história. Hilary Swank é outra atriz digna de admiração. Já tendo dois Oscars em seu currículo por "Meninos Não Choram" e "Menina de Ouro", Swank dá todo um ar imponente à Madeleine, dosando inocência e sensualidade quando preciso. Ela incorporou totalmente o papel de mulher fatal, característica esta que, para mim, definitivamente é difícil enxergar na atriz.

"Dália Negra" não atinge plenamente todos os públicos. O filme exige um pouco mais de vontade e apreço daqueles que estão o assistindo. Torno a dizer que, esteticamente, aparenta ser perfeito, trazendo boas fotografia e cenografia, fatos que são responsáveis por fazer uma melhor reconstituição da época retratada. Brian De Palma volta aos cinemas de forma tímida, não possuindo uma direção marcante como as de alguns de seus trabalhos anteriores. O deplorável erro do longa foi o excesso de subtramas e a demora para que a história em si realmente começasse. Adoraria, sinceramente, dar uma nota maior, mas, como não sou adepta ao uso demasiado de histórias adjacentes que praticamente acrescentam nada ao filme e outros aspectos, sou obrigada a dar nota 6.

Andreisa Caminha
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