Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Maldição

"Maldição" oscila entre bons e maus aspectos. Não chega a ser um filme de terror totalmente assustador, porém é capaz de perturbar em algumas cenas. A premissa, que até poderia aparentar ser interessante, acaba tornando-se por causa da maneira como foi utilizada.

Após dirigir o decadente "Dungeons & Dragons", em 2000, Courtney Solomon voltou aos cinemas com "Maldição", seu mais novo projeto. Como seu primeiro filme não foi tão agraciado, o seu retorno não foi nem um pouco esperado. Muitos, inclusive, deixarão de conferir o longa apenas porque este conta com o nome do cineasta na direção. Mas nem sempre o que aparenta ser péssimo é realmente. Assim como pontos ruins, o filme também possui bons aspectos, mostrando, pelo menos, que Courtney evoluiu um pouco nestes cinco anos de ausência.

A história começa quando uma menina volta à sua casa assustada. Ela, então, se dirige ao seu quarto e tranca a porta, porém alguém continua tentando abri-la. E é exatamente neste momento que ela acorda. Para a mãe da garota, tudo não passou de um mero pesadelo, até que ela encontra uma carta no velho sótão relatando a perturbadora história da família Bell. Entre os anos de 1818 e 1820, os membros da família foram assombrados por uma presença maligna, tendo início com a aparição de suspeitos barulhos na fazenda e de um lobo negro. Os ataques tornaram-se cada vez mais fortes, fazendo com que os Bell’s tentassem, desesperadamente, dar fim às manifestações. A trama é baseada em eventos reais acontecidos no estado do Tennessee, EUA. Por ter achado a história interessante, Brent Monahan decidiu escrever "The Bell Witch: An American Haunting", livro que relata os detalhes desta situação vivenciada pela família já citada.

"Maldição" não chega a ser um típico terror que causa muitos sustos em seus espectadores, mas de um quesito ele é capaz: perturbar. Talvez não durante todos os 99 minutos de duração, porém em boa parte deste tempo. Courtney Solomon demonstrou possuir uma direção, no mínimo, um pouco interessante. Não conseguiu desenvolver uma obra-prima ou um trabalho que marque o gênero, no entanto, com este filme, mostrou que tem capacidade para melhorar paulatinamente. Foi capaz de abordar bons elementos de cena, tirando um proveito até considerável da maioria delas. Todavia, o lastimável é que em nenhum momento é notável que Courtney queira inovar em seu estilo. Não que isto seja obrigatório, pelo contrário, mas seria bom que, pelo menos, criasse a sua própria atmosfera de filme de terror e não usasse a dos outros. As luzes de velas e névoa para dar um suspense maior às seqüências é claramente eficaz em "Os Outros", por exemplo. Talvez Solomon tente sair mais do comum ao usar uma câmera que acompanha os movimentos do suposto "espírito". Até pode ser bem intencionado, mas, ao ser melhor analisado, acaba tornando-se plenamente desnecessário para criar uma atmosfera de suspense ao longa.

A premissa pode até aparentar ser interessante, mas, devido ao modo como foi utilizada, tornou-se bastante fraca, afinal, maldições lançadas em uma família por uma bruxa não trazem mais características assustadoras e surpreendentes a um filme. Há, é claro, alguns ganchos de sustos estabelecidos pelo roteiro. Uns são eficazes, outros nem tanto. Embora o filme consiga prender de certa forma o espectador, ele oscila entre aspectos bons e ruins, como creio que já tenha sido possível notar no decorrer desta crítica. Com o final da trama, nota-se que tentaram fazer com que o público se surpreendesse, no entanto, esta surpresa não teve tanto efeito assim. Não que não tenha sido capaz de realmente surpreender, mas o problema é que a "descoberta" do real problema passado pela garotinha não teve tanto peso assim.

A trilha sonora, em alguns momentos, é até eficaz na maioria das vezes. As melodias soam um grau de suspense e temor, mas a utilização destas acabou sendo exagerada. Até em cenas que notavelmente não precisavam de tanta carga assustadora assim fazem uso do exagero com as canções para, creio eu, causar impacto. Novamente, devo dizer que a trilha não é ruim, pelo contrário, mas o fato de ter sido pautada de forma demasiada deve ser ressaltado.

Muitos fatores indicavam que o ponto alto do filme seria o elenco, estrelado pelos experientes Donald Sutherland e Sissy Spacek. Sutherland, como o pai também atormentado pela maldição, mostra que é capaz de incorporar razoavelmente bem qualquer personagem que esteja em suas mãos, até mesmo este sendo algumas vezes negligenciado pelo roteiro, que deveria ter dado uma abertura maior para o responsável ator demonstrar o seu talento. Spacek é igualmente eficaz ao incorporar Lucy Bell, a mãe da meninazinha amaldiçoada. A atriz conseguiu transportar todo o seu temor, amor e zelo maternos à sua personagem. James D'Arcy como o professor Richard Powell não decepcionou e cumpriu de forma correta a sua missão, embora não tenha se destacado tanto. A real protagonista, no entanto, é Rachel Hurd-Wood, que, anteriormente, apenas havia trabalhado em um projeto cinematográfico ("Peter Pan"). Em algumas cenas, a garota de 16 anos demonstra que ainda necessita evoluir muito, mas não chega a comprometer o filme. Um pouco mais de tempo e experiência podem fazer dela uma boa atriz.

Como foi possível perceber no decorrer desta crítica, "Maldição" oscila entre bons e maus momentos. Não sou capaz de dizer quais são os mais marcantes, porém, apenas o fato de existir algo realmente bom no projeto já deve ser destacado, visto que o seu diretor é o intensamente criticado Courtney Solomon. Neste filme, o cineasta demonstrou que até possui um certo talento. Com uma trilha intensamente carregada e um roteiro que poderia ter sido melhor trabalhado, o longa não é uma obra-prima em cartaz, mas consegue, na maioria do tempo, prender o espectador até o seu final.

Andreisa Caminha
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