Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Torres Gêmeas, As

O que falar de um filme feito para emocionar, mas que não consegue atingir esse objetivo (apesar de atingir alguns outros)? Perdendo-se nos pontos principais, o longa é uma verdadeira gangorra, cheio de altos e baixos, e acaba tornado-se descartável, porém não dispensável caso você goste de um dramalhão.

Depois de dirigir o terrível "Alexandre", mas tendo no currículo grandes filmes como "Um Domingo Qualquer", "Platoon" e outros, o cineasta Oliver Stone está de volta e, nas mãos, tem um prato cheio para mover multidões, principalmente em território ianque. Em "As Torres Gêmeas", roteirizado por Andrea Berloff, o diretor trabalha com um marco mundial, o atentado de 11 de setembro, além de ter um notável ator em seu elenco principal, no caso Nicolas Cage (de "O Senhor das Armas", "60 Segundos" e do ainda inédito "Motoqueiro-Fantasma"), tem também uma boa revelação do último ano: Michael Pena (de "Crash – No Limite").

Como dito, o filme se passa no dia 11, quando um grupo de policiais de rua é convocado para salvar pessoas feridas por conta do choque de um avião contra um dos prédios do World Trade Center. Quando entram no prédio, não sabendo muito bem o que acontecia e sem equipamentos suficientes, acabam tendo que fugir de mais um desabamento na torre. Sem muito para onde irem, correm para o túnel do elevador, a fim de se protegerem mais, porém tudo vem realmente abaixo. A maioria do grupo dos policiais acaba morrendo, ficando soterrados com vida o Sargento John McLoughlin (Nicolas Cage) e o policial Will Jimeno (Michael Pena). A partir disso, o filme toma esse acontecimento como foco principal e assim vai sendo até que chegue o fim da projeção.

Como não tem essa responsabilidade de explicar o que aconteceu com o prédio de negócios americano – que hoje sabemos bem o que foi -, o filme ganha alguns pontos positivos e elimina a hipótese de ser um filme para chocar pelo que aconteceu, quando, na verdade, é mais uma trama psicológica sobre sobrevivência, que se fixa em torno de dois policiais, vítimas de um soterramento, que agora lutam para ficarem vivos enquanto o resgate não chega, e isso se chegar.

Mesmo tendo conseguido ir de encontro a muita gente que achava que o filme seria só uma mera tentativa de nos solidarizarmos com o caso americano – que, por causa desse acontecimento, invadiu e mudou a história de uma região -, o longa não consegue empolgar quem o assiste. Convenhamos, quando um filme demonstra uma história de sobrevivência, devemos vibrar com as notícias boas e ficar apreensivos quando algo ruim acontece ou está para acontecer, mas nem um, nem outro, acontecem. Nem roteiro e nem a condução conseguem tocar-nos e gerar um sentimentalismo que, ao final do filme, pelo menos alguns chorariam.

Elementos principais dão errado, o principal deles são os flashbacks. Talvez se fossem mais simples e objetivos, eles fizessem mais efeito, mas essa áurea de sonho em torno das cenas imaginadas pelos soterrados acaba com o real objetivo de um flashback nesse tipo de filme. O pior, porém, é a cena apelativa de um dos personagens vendo uma imagem bem focada no corpo e não no rosto de Jesus Cristo, pior ainda, esta imagem oferece-lhe água. Realmente, fiquei deprimido quando vi essa cena, mas nem pensei muita coisa ruim, pois depois de uma porção de heresias administradas por Oliver Stone em "Alexandre", essa acabou até sendo esperada, com todo respeito ao diretor que tem muito respaldo, pelo menos, ainda. Um elemento que poderia nos cativar e nos deixar sensibilizados é o vai-e-vem das famílias dos policiais, mas tudo fica sem um pingo de profundidade e o filme se perde do seu real objetivo.

Lógico, a celulose tem lá seus pontos que vale a pena elogiar. O principal já foi dito, que é desvirtuar a história do atentado (nem citando em claro objetivo o nome atentado), em uma história de sobrevivência; a introdução do filme é um show à parte, visto que os minutos em que os atores principais realmente precisam atuar, já que eles passam todo o filme debaixo de escombros, fazem o efeito necessário para demonstrar que não era somente o mundo que não esperava um acontecimento daqueles, os nova iorquinos nem preparados para aquilo estavam.

A produção não encanta, até tenta, mas se perde por si só. Um ou outro bom momento é apagado por deveras cenas apelativas ou mal exploradas. Com todo respeito – e um pouco de exagero -, o filme soou mais como um documentário sobre dois sobreviventes do que algo feito para o cinema. Mas toda a falta de carisma do filme é até justificável, pois penso que, se assistido pelas famílias que viveram aquilo ou quem estava mais próximo do acontecimento, ele faz efeito. Tudo parece mais uma homenagem do que algo feito para agradar as pessoas fora de território norte-americano.

Raphael PH Santos
@phsantos

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