Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Torres Gêmeas, As

Cheio de controvérsias e parecendo ser promissor, "As Torres Gêmeas" pode até agradar alguns, mas infelizmente falha em diversos pontos e acaba transformando o filme em um tanto impessoal para o público que não é norte-americano, e quem sabe talvez até mesmo para quem não é nova iorquino.

Não há muito o que se contar sobre uma história a qual todos nós vivemos, ou melhor, assistimos através dos noticiários. 11 de setembro de 2001 foi o pior dia para os nova iorquinos, talvez muito pior para eles do que para os norte-americanos em si. Os vôos 11 da American Airlines e 175 da United Airlines colidiram pela manhã com as torres gêmeas do World Trade Center. Ao contrário do que muitos pensam, o World Trade Center não se resumia somente às duas torres, mas elas eram, sim, o destaque do complexo, que somava cerca de 7 prédios, sendo eles: as Torres Gêmeas (que possuíam uma conexão subterrânea entre os dois prédios onde se passa a história do filme) conhecidas como WTC1 e WTC2, o Hotel Marriott (WTC3, o terceiro prédio a cair depois da queda das torres – e que é relatado no filme), WTC4 (que era um prédio de escritórios de 9 andares ao lado sudoeste das torres), WTC 5 (que era outro prédio de 9 andares de escritórios e que ficava a nordeste das torres), WTC6 (que era um prédio do governo que ficava a sudeste das torres) e WTC7 (um prédio de 49 andares).

"As Torres Gêmeas" conta a história verídica dos polícias John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Peña), os dois policiais sobreviventes que foram resgatados dos escombros das duas torres e que haviam entrado no prédio para ajudar na evacuação. Apenas 20 pessoas foram resgatadas com vida do desabamento. Os dois policiais foram os 18° e o 19° resgatados. O filme retrata também os esforços feitos por David W. Karnes para salvar as pessoas depois da torre desmoronar.

O filme é um dos mais impressionantes em produção entre os três filmes já feitos dentro de uma narrativa dramática (não estou contando aqui os documentários.) Duas das três produções (esta e "Vôo United 93") já foram exibidas nos cinemas brasileiros. A outra produção ("Flight 93") é um filme feito exclusivamente para a televisão. Porém o que Oliver Stone dá de grandiosidade (as poucas cenas próximas ao World Trade Center, e a cena final dos escombros), ele peca em aprofundamento ou mesmo conexão com o público e seus personagens. Parece que Stone só fez uma pesquisa, pegou as declarações das pessoas envolvidas (os verdadeiros policiais sobreviventes e seus familiares), sob as quais embasou o seu roteiro, mas esqueceu de tentar fazer uma conexão e dar um background a eles, algo que fizesse um elo emocional com o público.

Claro, não digo que não há emoções no filme. Sim, claro que há. Mas elas se limitam muito à superficialidade da situação, acreditando estarem embasadas na ferida ainda não cicatrizada das pessoas quanto aos eventos daquele dia. Na verdade, não chega a haver realmente uma explicação plausível para os 65 milhões gastos na produção, uma vez que ela se utiliza de cenários comuns (excetuando, claro, os estúdios onde foram gravadas as cenas do World Trade Center), mas mesmo assim ainda não se consegue ver a produção que se esperava, tanto através do trailer quanto dos comerciais.

Por se ater a simplesmente uma seqüência de fatos ocorridos e sem conseguir conectar o público com os personagens, o que acaba acontecendo é que "As Torres Gêmeas" acaba caindo na monotonia. E com relação a conexão entre público e personagens, acredito que o filme televisivo "Flight 93" seja o melhor exemplo, embora "Vôo United 93" (United 93, de Paul Greengrass) prenda muito mais o espectador à história do filme.

Não digo que a experiência de ver um filme como "As Torres Gêmeas" possa ser traumatizante. Acredito que, para quem esteve envolvido, ou quem tenha perdido alguém no desabamento, deva ser verdadeiramente uma tortura, mas aí é que está o maior problema deste "As Torres Gêmeas". Ele não passa de um pequeno e caro diário (ou homenagem) para aquelas pessoas que sofreram com os ataques. Talvez a necessidade de amenizar o choque para o público americano tenha sido o maior pecado deste filme.

Depois de passar por Mel Gibson, George Clooney, Kevin Costner e John Travolta, finalmente, indicado por Travolta, o roteiro chegou às mãos de Nicolas Cage, que resolveu assumir o papel do Sgt. John McLoughlin. Michael Pena também só entrou no filme depois de uma indicação de Maggie Gyllenhaal, que o recomendou depois de assistir ao "Crash – No Limite". Os dois atores estiveram muito bem, embora Peña tenha demonstrado se sair muito melhor em "Crash". Maggie Gyllenhaal e Maria Bello, que fazem as esposas de Cage e Peña, estiveram bem, mas infelizmente pequenos detalhes atrapalharam o desenvolvimento das duas. Os quatro personagens também sofrem com o problema do não aprofundamento deles e por causa disso talvez seus trabalhos não tenham sido melhores.

Quanto a se tratar de um filme americano que fala sobre um atentado e que com certeza teria muito ufanismo, Stone, pelo menos, o deixa meio escondido. As bandeiras americanas aparecem um tanto discretas nas cenas, algumas vezes quase imperceptíveis, mas não poderia deixar de haver um sentimento de superioridade, que inclusive chega a estragar o filme na fala de um dos personagens, quando ele resolve largar seu emprego para ir lutar no Iraque em busca de vingança.

"As Torres Gêmeas" acabou sendo um filme que não supera as expectativas criadas em cima da sua polêmica desde os inícios das gravações e não chega nem perto de ser um dos melhores filmes do ano. Pelo contrário, falha, e muito, mas não deixa de ser interessante em alguns momentos. Pena que esses momentos são poucos e acabam por serem apagados por grande parte do projeto.

Leonardo Heffer
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