Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Maldição

"Maldição" parece muito mais uma superprodução em um filme feito para a televisão americana do que um filme para o cinema. Com um elenco espetacular e com algumas caras bastante conhecidas, o filme poderia se sair muito melhor se talvez estivesse nas mãos de outro diretor que não fosse Courtney Solomon.

O filme começa nos tempos atuais, com uma mãe lendo uma carta deixada por um professor do século passado, relatando o caso de uma família que havia sofrido com uma possessão de espírito, fato sobre o qual o próprio professor se mantivera cético por um tempo. A carta relata algo que possivelmente estivesse acontecendo com a filha desta mulher e por isso ela continua a ler. Então somos arrebatados para o século XIX, onde conhecemos a família de um pastor, que por ter tentado enrolar financeiramente uma mulher que alguns na cidade acreditam ser bruxa, recebe uma maldição lançada por esta mulher sobre ele e sua filha mais nova. Daí para frente, os casos já vistos anteriormente em um determinado filme da década de 70, que todos conhecem como "O Exorcista", se repetem durante o resto do longa.

O que esperar de um filme com Courtney Solomon na direção? Apesar de um trailer empolgante e cartazes bem produzidos, o filme não consegue passar um ar de veracidade nos cenários internos, deixando bem claro se tratar de um estúdio. Aliás, o mesmo defeito aconteceu nas mãos deste diretor em "Dungeous & Dragons" que, por coincidência, ele dirigiu.

Solomon infelizmente prova sua ineficiência em direção em ambientes fechados como estúdios e falta de pulso para guiar a atuação dos atores. Porém prova ser muito bom em alguns efeitos especiais, como é o caso da charrete que em determinado momento do filme vira no ar (imagem vista no trailer!). Momentos que foram marcantes em "O Exorcista", como a cama que batia no chão, ou o momento em que a menina se levantava e novamente caia na cama com violência, simplesmente neste "Maldição" conseguem se tornar dignos de boas gargalhadas, como o momento em que o espírito puxa o cabelo da personagem vivida por Rachel Hurd-Wood, onde é quase possível ver a corda amarrada no cabelo da atriz.

Sissy Spacek, a mãe que é atormentada por determinados fatos que aqui não é válido revelar, é a única que ainda tenta dar uma profundidade maior ao seu personagem, e, mesmo assim, com certeza, foi sem a ajuda do diretor, que simplesmente deve ter dito para ela: "Ei, mulher, você faz uma cara assim nessa cena, tá?". Donald Sutherland, não sei como embarcou nesse projeto, já que um ator de peso como ele simplesmente se tornar dispensável é difícil. E apesar de tentar fazer o máximo que pôde, seu personagem ficou raso e comedido a outros pais que sofrem por ver suas filhas sofrerem. Rachel, que havia se saído muito bem em 2003, na versão cinematográfica de "Peter Pan", se deixou perder e sua atuação, apesar de dentro dos padrões, fica risível em determinados momentos (preste atenção às cenas da cama, onde ela tenta descer, mas não consegue). Cenas do estilo em "O Exorcismo de Emily Rose" ficaram muito mais apavorantes do que nesse filme. E tudo por causa do diretor.

Aliás, é notável a qualidade e o tom que o filme será guiado logo pelos créditos iniciais, ao melhor estilo das navalhas da guerra de Freddy Krueger, ao cortar o nome do filme na tela. A trilha sonora, apesar de um pouco exagerada as vezes e muito mal colocada, ainda consegue se salvar, e Caine Davidson consegue seus créditos por esse feito.

Outro ponto que ainda merece um leve destaque é o roteiro, que apesar de ser guiado de forma fraca e com um final digamos que chato e fraco, consegue colocar elementos que o público não esperava e por isso ele merece as duas estrelas do filme. Mas só isso.

Então, se você tem dinheiro para esbanjar, pode ir assistir ao filme nos cinemas, caso contrário, melhor escolher outra opção, porque eu sei que, pelo menos em cartaz, existem filmes bons, ou pelo menos que não o deixarão com um sentimento de culpa por ter jogado dinheiro fora. A Califórnia Filmes bem que poderia ter deixado para lançar esse filme direto em DVD.

Leonardo Heffer
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