Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Casa do Lago, A

Com o roteiro que possui falhas e acertos, A Casa do Lago obtém, sem dúvida alguma, um bom resultado final. Entre as diversas produções presentes nos cinemas, este filme, que conta com Keanu Reeves e Sandra Bullock no elenco, atualmente, é uma das melhores opções em cartaz.

Refilmagem de Siworae (Coreia do Sul – 2000), a Casa do Lago nos apresenta a duas pessoas que se apaixonam (rápido demais) e descobrem (mais rápido ainda) que seu amor é impossível, pois vivem em uma diferença temporal de 2 anos. Kate (Sandra Bullock) vive em 2006, e Alex (Keanu Reeves) em 2004. Está montada a base para um roteiro que, entre suas falhas e acertos, consegue obter um bom resultado final.

É sempre uma brincadeira com fogo mexer com "viagem temporal", afinal, sendo este o termo correto ou não a ser empregado neste caso, é isso que A Casa do Lago nos proporciona, uma longa viagem de muitas idas e voltas entre 2004 e 2006. Em alguns casos, o resultado é satisfatório, mas é muito fácil cometer erros graves quando se está brincando com o "tempo". A Casa do Lago optou pela forma mais segura de se abordar o assunto, o looping (Alex se mudou da casa porque Kate o deixou, Alex só conheceu Kate porque ela morava na casa, Kate só morou na casa porque Alex se mudou).

O roteiro bem elaborado de David Auburn ("A Prova") não faz questão de manter mistério algum na narrativa, em pouquíssimo tempo de projeção, ele já nos deixa bem claro qual será o destino dos protagonistas, ao mesmo tempo que, se utilizando de acontecimentos marcantes e muitos clichês do gênero, tenta nos afastar ao máximo deste final, para que possamos ser surpreendidos pelo desfecho, sem ficar aquele ar de "eu já sabia".

De todos os acertos do roteiro, dois pontos merecem destaque especial. A insinuada metáfora ao relacionamento à distância talvez seja o maior deles. Em certo momento do filme, a protagonista conta a uma amiga sobre o seu relacionamento à distância (de tempo), e esta, por sua vez, pensa que trata-se de um relacionamento à distância geográfica, essa cena merece aplausos por criar esta conexão entre as duas situações. Outro ponto bastante positivo são os diálogos criados entre os protagonistas. Mesmo sem se encontrarem, as cenas em que eles literalmente dialogam (em determinado momento frente a frente, olho no olho) são muito bem elaboradas. É um diálogo que fica percorrendo interminavelmente este caminho de ida e volta entre 2004 e 2006, nos deixando sempre maravilhados a cada frase proferida pelos personagens.

Outro ponto bastante positivo do roteiro é o fato de ele ser bem-humorado. Dramas românticos são constantemente envolvidos nos mesmos clichês, sempre deixando aquele ar triste e pesado na história, em A Casa do Lago tudo isso é feito com um sutil toque de humor, deixando a história mais leve, mais fácil de ser digerida, e até aceita. A cena em que eles "descobrem" a distância temporal que existe entre eles é uma das mais bem-humoradas da projeção, tornando tudo mais… real, eu diria.

De nada adiantaria um roteiro bem montado sem um elenco que pudesse trabalhá-lo bem, e é aí que está o ponto mais forte do filme, no elenco. Sandra Bullock e Keanu Reeves têm muita sintonia juntos. Eles já trabalharam juntos em Velocidade Máxima e agora repetem a parceria, fazendo sempre você acreditar que eles são um casal perfeito e torcer para que fiquem juntos no final. Mas, apesar de carregarem o peso do filme nas costas, o filme não seria o mesmo sem as participações super especiais de Christopher Plummer, como o pai (mau? incompreendido?) de Alex, e Shohreh Aghdashloo como a companheira de trabalho, e grande amiga de Kate. Personagens secundários, mas de grande importância para o bom desenvolvimento da história.

Deixando o roteiro de lado e partindo para um ponto de vista mais técnico, o filme alcança a perfeição na maravilhosa fotografia de David Tattersall ("À Espera de um Milagre") e na oportuna trilha sonora de Paul M. van Brugge, sem esquecer, é claro, do excelente trabalho de direção. Responsável por filmes como Valentin e Um Mundo Menos Pior, o diretor argentino Alejandro Agresti em boa parte da produção aposta na fórmula de maior sucesso de filmes que exploram dois tempos distintos: a mutação repentina do cenário. Mas o faz com muito mais sutileza do que qualquer outro longa do gênero, proporcionando cenas incríveis, como a em que os protagonistas travam um de seus "diálogos" temporais em uma praça, separados por uma árvore que corta a tela em duas, e é simplesmente magnífico o efeito que ele produz, transformando duas épocas distintas em uma única coisa.

Mas nem só de acertos vive um bom filme. E A Casa do Lago, apesar de parecer infalível em um primeiro momento, apresenta sutis falhas. Uma delas é "arquitetônica" (se é essa a palavra a ser usada no caso), pois reparem que a casa em questão, quando vista de fora, não parece apresentar um local onde se alojaria um sótão (cômodo este de grande importância no filme), mas isso talvez seja apenas um pequeno detalhe. Outro erro considerável da projeção é difícil dizer sem contar o final da história, então tudo que eu posso dizer no caso é… dois anos é relativamente pouco tempo para se esquecer o rosto de uma pessoa, e este fato causa algumas situações mal encaixadas, deixando um clima estranho em alguns momentos da história.

Mas, como já dito, são erros muito sutis, que não atrapalham o bom desenvolvimento da trama. Em um balanço de erros e acertos, o filme consegue sufocar suas pequenas falhas com a grandiosidade de seu desenvolvimento, e, talvez seja um pouco cedo demais, ou até ousado demais chamá-lo de "melhor filme do ano", mas o conjunto da obra faz de A Casa do Lago, sem dúvida nenhuma, um grande filme.

Angelo Mota
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