Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 07 de julho de 2006

Carros (2006): Pixar animando o inanimável de forma brilhante

Será que "Carros" vai realmente reproduzir bons momentos da parceria Disney/Pixar?

Quando vejo que o filme é de animação, vou logo atrás de saber quem é a produtora e, logo em seguida, procuro saber do diretor. Não poderia encontrar algo que me deixasse mais animado. Disney e Pixar juntas mais uma vez, e John Lasseter assinando o roteiro e a direção. Para quem não sabe, esse trio (Disney/Pixar/Jonh Lasseter) foi responsável por obras-primas da animação, como os dois “Toy Story”, “Vida de Inseto”, “Procurando Nemo”, “Os Incríveis” e “Monstros S.A.”, sendo que, nos dois primeiros, John foi diretor, já nos três últimos, produtor. Lógico, com um currículo invejável como esse, é de se esperar muita coerência em “Carros”. E aconteceu, mas, para a minha tristeza e a de outros, não 100%, mesmo chegando perto.

A idéia central do filme é novamente animar um mundo inanimável. Depois de peixinhos, brinquedos e coisas do gênero, chegou a vez de carros. “Mas carros!”, você pode pensar. Pois bem, um mundo animado foi criado para tais automóveis e, diga-se de passagem, competentemente bem. Em cima desse mundo, o ponto fraco das últimas animações da parceria Disney/Pixar volta a acontecer. Toda aquela infantilidade com que o roteiro é tratado está lá. Mais uma vez, aquela historinha batida do mocinho e da mocinha contra os caras maus e como pano de fundo uma mensagem para a criançada. Por outro lado, o ponto forte dos outros filmes está também presente, que são as boas piadas e a qualidade dos efeitos, o que acaba agradando todas as idades. E vale ressaltar que hoje não são só as crianças que vão para dentro das salas de projeção assistirem a filmes desse gênero, os marmanjões estão lá e saem elogiando à torta e direita.

Os personagens são fascinantes. Sempre por trás do dito mocinho, têm aqueles que causam muitas risadas e que, na verdade, satisfazem até mais do que o protagonista. Relâmpago McQueen é esse protagonista, mas quem rouba as cenas é Mater. Não pára por aí. Os que se fascinam por Fórmula-1 vão rir muito, mas muito, das piadas da dupla Luigi e Guido. Mater empolga, mas não tanto quanto a dupla de carros italianos. É muito engraçado eles tratarem do amor italiano por corrida e, principalmente, pela Ferrari, conseqüentemente também pelo piloto Michael Schumacher. Para quem é mais conhecedor de Fórmula-1, as tiradas são deveras valorosas e já pagam a entrada. Pelo menos para mim, fã fervoroso de corridas e admirador da paixão italiana pela Ferrari.

A dublagem no original está muito boa. Não assisti ainda com a dublagem em português, mas a em inglês me agradou bastante. Apesar de Owen Wilson não ser especialista na área, ele deu voz competentemente a Relâmpago McQueen, tunando deveras bem o carro (se me permitem o trocadilho). Gostei também de Paul Newman trabalhando no personagem Doc Hudson (o xerife da cidadela). Tony Shalhoub, dublando Luigi com um inglês cheio de sotaque italiano, foi quem me chamou mais atenção. Talvez o carisma do personagem tenha me deixado muito encantado, mas é visível o belo trabalho. A parte mais falha do time de dubladores foi Bonnie Hunt como Sally (uma Porsche modelo 2002). Além da voz não estar muito complacente, também não notei uma dramaticidade necessária para deixar a personagem com o tom de carisma fundamental, a fim de cativar os espectadores. Por fim, Larry The Cable Guy, dublando o simpático Mater, faz o essencial do que se espera de um trabalho desses. Mater é outro personagem tão bem feito que sobrepõe a voz ou qualquer outra coisa que remete a ele.

Como a Disney não deixa de lado, a trilha sonora não passa batida. Notei uma pequena mudança, mas nada demais, de estilo do vencedor do Oscar, Randy Newman. Ele fabrica uma trilha sonora juntamente com desempenhos originais de artistas como Sheryl Crow, James Taylor, Brad Paisley, Rascal Flatts e John Mayer. Está bem engajada, deixando o cinema com o clima perfeito para ver as seqüências do filme.

Sucesso é uma palavra que combina bem com “Carros”. Como discorri no início do texto, o filme demonstrou todos os elementos necessários para quem gosta e acompanha os longas de animação ficar com as expectativas em alta. Sim, elas foram atingidas, porém, como já disse, não 100%, pois o mesmo marasmo no roteiro da Disney foi apresentado e alguns errinhos básicos, deixando a animação em um patamar um pouco a baixo do escalão onde se encontram “Procurando Nemo”, “Toy Story” e “Os Incríveis”.

Raphael PH Santos
@phsantos

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