Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 21 de maio de 2006

O Código Da Vinci (2006): longe de ser impecável, filme fica na média

Embora seja uma das produções mais aguardadas do ano, O Código Da Vinci não traz a satisfação desejada por todos os leitores do best-seller de Dan Brown. Com um elenco repleto de bons atores, porém ofuscado, o filme vem para reafirmar que nem sempre boas histórias podem ser abordadas da melhor forma possível nos cinemas.

Inúmeras adaptações – não somente de livros, como também de games, quadrinhos, entre outros – para os cinemas estão surgindo. Agora foi a vez de O Código da Vinci, best-seller de Dan Brown que, desde o seu lançamento e ascensão, vem sendo marcado por tratar de temas polêmicos responsáveis por questionar algumas idéias defendidas pelo cristianismo.

A trama tem início com a morte de Jacques Saunière (Jean-Pierre Marielle), curador do Museu do Louvre. Coincidentemente, na mesma noite, Robert Langdon (Tom Hanks), professor de Simbologia da Universidade de Harvard, estava em Paris a trabalho. Então Bezu Fache (Jean Reno), chefe da polícia, o convoca a comparecer ao Museu do Louvre, local onde o assassinato aconteceu. A partir daí, Langdon e a agente e criptógrafa da polícia Sophie Neveu (Audrey Tautou) embarcam em uma perigosa fuga, enquanto precisam decifrar pistas e símbolos misteriosos deixados por Saunière, que era grã-mestre do Priorado de Sião, sociedade secreta cuja missão é proteger um segredo que permanece guardado há dois mil anos.

Uma versão cinematográfica de um livro de tamanha vendagem – mais de 40 milhões de exemplares foram vendidos – é impossível não acarretar expectativas, até mesmo em quem não leu a obra. Para as pessoas que estavam familiarizadas com os escritos de Dan Brown, será difícil desvincular a imagem do livro, porém, se estas pretendem apreciar um pouco o filme, isso é altamente necessário.

Dado o conteúdo do livro, o roteiro de Akiva Goldsman não foi dos melhores, já que poderia ter abordado assuntos mais importantes e não se limitado ao básico, que, algumas vezes, até soou um pouco confuso. O que se torna sem nexo é o fato de determinadas pessoas se aterem a detalhes ínfimos do livro apenas para dizer que o filme não conseguiu manter a verdadeira essência da obra literária. Realmente, alterações sem importância foram feitas, como, por exemplo, a cor do carro da Sophie Neveu, ou, então, modificações em cenas, como a que Langdon é abordado por Fache em uma sessão de autógrafos e não no quarto do hotel. São pequenos detalhes que não alteram o decorrer da trama, todavia há aqueles que insistem em se limitar a fatos sem importância somente para colocar defeito onde não existe. É praticamente impossível uma adaptação ser 100% fiel.

A direção de Ron Howard está razoável. Algumas vezes, a câmera, ao acompanhar os movimentos dos atores, dá uma noção de querer que o espectador sinta-se realmente no local, presenciando as cenas e compartilhando das mesmas sensações que os personagens. Howard também acerta ao colocar alguns aspectos vistos em outro filme seu, Uma Mente Brilhante. É notável o momento em que o espectador é levado a ver, por intermédio de destaque de letras ou disposição de pessoas do passado, o professor Langdon usufruindo da sua imaginação e raciocínio ao desvendar alguns enigmas e explicar fatos.

Outro aspecto favorável ao filme é o uso de flashbacks dispostos na narrativa. Esses efeitos servem para esclarecer fatos da história, fazendo com que você retroaja ao passado juntamente com o personagem e compreenda o que aconteceu com ele no período retratado, os seus problemas e seus medos. Ainda há aqueles flashbacks que buscam explicar a trama, trazendo explicações diretas da história, embora bem básicas, e fazendo com que o espectador entenda por cima alguns fatos, como a origem dos Templários.

Porém nem tudo são flores. Para uma produção do porte de O Código da Vinci, são perceptíveis alguns cortes mal feitos que realmente chegam a incomodar quem está assistindo ao filme. O longa também peca ao não desenvolver o lado psicológico dos personagens. Depois de mais ou menos 2h30min de duração, ainda não sabemos ao certo quem é Robert Langdon ou Sophie Neveu. Cadê aquela Sophie inteligente do livro? Cadê aquele Robert Langdon companheiro e charmoso? Enfim, ninguém sabe onde eles foram parar. E isso não é culpa dos atores. Por sinal, as atuações não estão totalmente ruins. Audrey Tautou, mais conhecida no Brasil por protagonizar O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, ao interpretar a criptógrafa consegue ofuscar o seu companheiro de cena, Tom Hanks, mas, mesmo assim, não é capaz de trazer um tom de emoção à sua personagem. Ela aparenta ser sempre dura e ter uma postura impositiva, porém o que viria a ser seu sofrimento em alguns momentos do longa simplesmente não convence. De certa forma, o roteiro não foi caridoso com Tom Hanks, que não pôde sequer explorar uma parte de seu talento. Inexplicável como conseguiram apagar tanto o real protagonista do filme. Os pontos altos do elenco são Ian McKellen e Paul Bettany, responsáveis pelos papéis de Sir Leigh Teabing e Silas, respectivamente. McKellen consegue mudar o tom do seu personagem de uma hora para a outra, quando este de amigo passa a ser vilão. Já Bettany chega a ser, de certa forma, indescritível. Sinceramente, melhor ator para interpretar o Silas é inimaginável. As cenas de mortificação, que retratam, em parte, um sofrimento do albino, são tocantes. Ao mesmo tempo em que você desenvolve um certo ódio pelo problemático homem, ainda consegue sentir pena dele.

A versão cinematográfica de O Código da Vinci não chega a ser uma produção impecável, pelo contrário. Toda a atmosfera de suspense presenciada no livro não consegue ser repassada ao longa. Se você for um leitor entusiasta das obras do Dan Brown, provavelmente não gostará a adaptação, porém, se procura apenas diversão, o filme poderá proporcioná-lo isto. Em ambos os casos, não custa nada – a não ser dinheiro e tempo, claro – assistir e desenvolver suas próprias opiniões.

Andreisa Caminha
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