Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 21 de maio de 2006

X-Men – O Filme (2000): longa merece palmas do começo ao fim

Sem decepcionar diversos tipos de público, o filme abre uma franquia da qual, no mínimo, esperam-se detalhes bem acabados e um carinho imenso para com um mar de fãs que vão desde os gibis ao desenho animado X-Men.

Quando começam a noticiar sobre uma nova adaptação de HQ’s para o cinema eu tremo. Tremo mesmo! Muito fã de revistas em quadrinhos, sempre leitor de Batman, Super-Homem, Motoqueiro Fantasma, dentre outras, tenho medo quando falam em adaptar meus queridos super-heróis das revistinhas. Nessa pequena lista que apresentei agora, destaco minha predileção por X-Men. Uma franquia que, em vez de um único herói andando pelas noites de Gothan City ou voando com Lois Lane por Metrópoles, apresenta diversos heróis e seus dilemas de convivência com os seres humanos do mundo todo. Tal como os homossexuais são chamados preconceituosamente de ‘bichas’ (só um exemplo, gente, calma!), tais super-heróis são chamados de mutantes. Seres que em hipótese alguma podem conviver com seres humanos por apresentarem-se como uma ameaça.

Enfim, chegou “X-Men – O Filme” e meu medo foi embora quando, logo de início, os diálogos demonstravam que a linha dos quadrinhos ia ser seguida. Políticos falavam contra a raça mutante e demonstravam muito preconceito. Enquanto isso, do lado “atingido”, via-se uma luta para proteger humanos indefesos, bem como sua raça mutante, e lutar contra a vontade de ir contra esses políticos preconceituosos. Porém, os mutantes apresentam-se de duas formas diferentes. Alguns, liderados pelo poderoso manipulador de energia, o Magneto (Ian McKellen), vêem os humanos como uma raça a ser exterminada, para que assim os mutantes tenham uma evolução tranqüila. Outros, liderados pelo inteligente Professor Xavier (Patrick Stewart), acreditam que a conversa e o sentido de paz entre as duas partes vingará em um mundo melhor tanto para os humanos quanto para os mutantes, eles são os X-Men.

O filme apresenta justamente esse triângulo de divergências. Algo que, entre nós, é uma analogia a nosso mundinho imundo. Revolução pacífica?! Revolução armada?! Morte aos revolucionários?! Logo, por ter esse tema mais interessante do que só um super-herói mocinho salvando os indefesos, X-Men consegue fazer fãs de várias idades. Adultos recorrem ao desenho animado e agora ao filme, enquanto os adolescentes e crianças vão além, engolem os gibis dos queridos super-heróis. É assim que X-Men chega. Levando do mais novo ao mais velho ao cinema e todos, contentíssimos, saem juntos a comentar sobre o filme.

Como não poderia ser diferente, o elenco foi muito bem escolhido. É incrível a semelhança tanto física quanto na atuação do Patrick Stewart para com o Professor Xavier. Já Ian McKellen, mesmo não tendo o porte físico de Magneto nos quadrinhos, encarna plenamente bem o personagem, dando o tom excêntrico e calculista na medida certa para nenhum fã falar mal. Um pouco desconfortável no papel e demorando a ser aceita por alguns espectadores, talvez Halle Berry (“007 – Um Novo Dia Para Morrer“) seja a menos cativante, mas depois da metade da projeção ela entra de uma vez por todas no personagem Tempestade e não decepciona. James Marsden (Intrigas) é Ciclope, um dos queridinhos do grupo. O ator se apresenta bem no jeito mauricinho do líder dos X-Men.

Para delírio geral dos admiradores do personagem e sua história – e um desses sou eu, por isso um parágrafo para ele -, o personagem Wolverine é o melhor abordado dentre todos os personagens da trama. Eu não sei de onde saiu Hugh Jackman, mas o ator nasceu para ser o ex-agente secreto do governo canadense, Logan, ou mais conhecido como Wolverine. O dono das violentas garras de adamantium e um esqueleto impagável que se reconstitui naturalmente, provocam cenas de arrepiar fãs. Logo de início, dividindo cenas com a Vampira (Anna Paquin, de Quase Famosos), o personagem ganha o público. É um trabalho inenarrável de Hugh Jackman. Melhor mesmo, só quando assisti à versão dublada do filme, na qual a dublagem do personagem foi a mesma espetacular dos desenhos animados.

Como não poderia ser diferente, a trilha sonora original dos desenhos fora mantida, porém com uma leve melhora em sua qualidade e alongada para não se tornar repetitiva demais durante a projeção do filme. É o tipo de trilha sonora que te leva para dentro da película e não deixa nada a desejar. Frenética, calma, ascendente, enfim… todos os ingredientes que devem ser usados na confecção de uma trilha sonora.

Eu só não darei um 10, por que espero fazer isso nas continuações desse filme. Afinal, ainda reina em Hollywood e, principalmente nos filmes adaptados a máxima de que o primeiro é sempre melhor do que o segundo (e terceiro, e quarto, e quinto…). Todavia, “X-Men – O Filme” merece mil aplausos. Aplausos de pé, deitado, correndo, de costas, rolando na areia quente do sol de meio-dia, ou até mesmo dos cegos que só puderam ouvi-lo. Exagero? Pode até ser, mas exagero de um fã dos quadrinhos, bem como dos desenhos animados é um tanto quanto valioso, não acham? Então, palmas para o filme.

Raphael PH Santos
@phsantos

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