Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Menina Má.com

Quando vou assistir a um filme esperando nada e acabo me deparando com o contrário, fico realmente feliz. Por outro lado, infelizmente, há aquelas vezes que vou assistir ao filme esperando coisa ruim e realmente recebo coisa ruim, mas com "Menina Má.com" não foi assim. Veja por quê.

O que decreta o insucesso de certos filmes nas bilheterias (alguns nem chegam aos cinemas em determinados locais) são, às vezes, decisões mal tomadas. Assistindo ao trailer de "Menina Má.com" e lendo esse título, ele, com toda certeza, não fica na toplist dos filmes que eu estou com vontade de logo assistir. Para ser mais sincero, ele fica como uma das últimas opções, atrás, inclusive, de filmes com títulos piores, trailers piores ainda, mas que tiveram boas jogadas de marketing, como "Serpentes a Bordo", por exemplo. Porém, muitas vezes, acabo sendo enganado por essas falsas premissas e termino o filme completamente satisfeito. Foi assim com "Menina Má.com" – por obséquio, daqui pra frente, irei tirar esse ".com" e me reter somente à "Menina Má", é menos ruim.

Nessa época de Internet, comunidade virtual, chat, messengers, me surpreendo como não virou uma moda gigantesca fazer roteiro de filmes com esses elementos em foco principal. Também não foi dessa vez em "Menina Má", mas ele até que se utiliza desse "mundo" para dar lógica a seu roteiro e fazer dele bem aceitável, por mais que existam alguns pequenos erros.

A trama gira em torno de duas personagens: Hayley (Ellen Page, de "X-Men: O Confronto Final") e Jeff Kohlver (Patrick Wilson, de "O Fantasma da Ópera"). Hayley, uma garota de 14 anos nada inocente, conhece o fotógrafo Jeff em uma dessas salas de bate-papo na Internet. Conversa vai, conversa vem, acabam decidindo se encontrar em um local determinado pela garota. Jeff, bem mais velho do que ela, acaba envolvido no papo cheio de esperteza da garota. Hayley demonstra muita vontade de curtir – convenhamos, menininha dá valor a um tipão mais velho, no mínimo, para se mostrar perante as amigas – e ele vai aceitando as demonstrações da garota, até que ela o convence a levá-la à sua casa. Lá, eles batem um papo, ela demonstra ser mais madura do que sua idade, até que ele oferece tirar fotos da garota, porém, se Jeff tivesse lido o título do filme, com certeza não cairia no papo da garotinha que, após drogá-lo facilmente, vira a mesa e dita as regras do jogo, acusando-o de várias coisas que eu, para seu bem, não vou ficar comentando aqui.

Parece um roteiro raso, mas não é bem assim. Ele é muito bem filmado e não deixa lacunas a serem preenchidas. Porém apresenta o defeito de não se aprofundar muito nos personagens e, isso sim, fica bastante raso, visto que só precisava ter feito isso com dois personagens, afinal toda a estória parte dos dois protagonistas e os outros que aparecem servem para que o filme não fique artificial. Realmente, essa falta de profundidade não é algo que afete o resultado final do filme, mas para os mais exigentes isso acaba pesando.

Por falar em exigência, vou logo avisando que, se você for daqueles que precisa de algo sempre chamando sua atenção para a tela, nem assista à "Menina Má" com muitas esperanças disso, pois nem acompanhado de uma trilha sonora para impor suspense ou coisas do tipo ele é. Entretanto, para muitos, essa de não colocar trilha sonora, tomadas bem fechadas, diálogos longos e destrinchados, funciona bem e o que você está a assistir soa como bem realista. Algo para deixar mais realista ainda é, com certeza, a delicadeza imposta pelo diretor David Slade e toda sua equipe, sobretudo, o responsável pela fotografia do filme.

Algumas coisas no filme é que acabam não funcionando. Por exemplo, o excesso de vermelho. Era tom de vermelho nas roupas, nas paredes, pinturas e em várias outras coisas, é só observar direitinho. Por que? Talvez um dia, revendo ao filme, eu descubra, mas não foi dessa vez. Caso alguém tenha se tocado, convido até a me dizer, pois eu realmente não consegui saber, me desculpem. Outro fator que me causou frisson de indagações é a dúvida a respeito de como uma menina, tão magrinha, arranjou tanta força para arrastar para cima e para baixo uma pessoa desmaiada, ou melhor, um homem, bem maior, conseqüentemente mais pesado, do que ela. Enfim, furos que aparecem e que eu, infelizmente, devo comentar.

Afora roteiro, fotografia, figurino, condução e essas coisas todas, o que mais me chamou atenção foi uma atriz chamada Ellen Page. Atualmente com 19 anos (ela nasceu em 21 de fevereiro de 1987), ela se encaixa bem na personagem de Hayley de 14 anos, até porque ela mede apenas 1,52 de altura e esteve com um corte de cabelo perfeito para o trabalho. Mas o que chama atenção não é nem esse belo encaixe, mas a própria atuação de Ellen. São 103 minutos de show (o melhor nome para definir o trabalho da moça). Ainda com pouquíssimos filmes na carreira, ficou claro que, em um possível próximo trabalho, ela ganhe notório destaque. Irei observar com muita atenção a carreira dessa moça. Ellen Page o nome dela! Em contraponto, o outro protagonista, Patrick Wilson, acaba vacilando várias vezes e, principalmente, quando mais se precisou dele, mas, de maneira geral, ele teve uma atuação trivial, salva pelo espetáculo feito pela garota.

O filme é realmente bom, mas talvez não funcione para todas as pessoas. Espero que funcione para você, caso contrário, faça uma forcinha para captar as coisas boas do filme, pois ele está cheio delas. Ele é, com certeza, uma boa pedida, melhor para DVD do que para cinema, creio eu.

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe

Saiba mais sobre