Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de setembro de 2006

Ela é o Cara

Trazendo mais uma vez a fórmula geral das comédias adolescentes descartáveis, "Ela é o Cara" acaba conseguindo ir um pouco além. Apesar dos clichês e da trama superficial, a produção cumpre seu papel como diversão ao melhor estilo "pipocão".

Por incrível que pareça, sair do nível da mediocridade quando se trata de comédias adolescentes é algo extremamente difícil. Geralmente, o humor dessas tramas se concentra em piadinhas sem graça e apelação para o lado sexual. "Ela é o Cara" difere dessa fórmula, trazendo uma história simples, é verdade, mas explorada de modo a agradar o espectador que está apenas atrás de um bom passatempo no cinema.

Com o roteiro baseado (e bastante adaptado) na peça "Noite de Reis – Ou O Que Quiseres", de Shakespeare, tudo gira em torno de Viola, uma garota que gosta de jogar futebol, mas vê seu hobby comprometido quando o time feminino da escola é cortado. Para completar, ela ainda termina o namoro com um dos jogadores do time masculino por ele não apoiar seu pedido de jogar com os meninos. Enquanto isso, Sebastian, irmão gêmeo de Viola, decide fugir para se apresentar com sua banda em vez de ir à escola onde está matriculado. Bingo! Tudo parece se encaixar para a protagonista. Com a ajuda do amigo cabelereiro, ela assume o lugar do irmão na escola para poder entrar no time de futebol e provar que é boa na coisa. Conseqüentemente, como já dá para prever, muitos enganos e confusões acontecem, entre eles, ciclos de paixões pelas pessoas erradas e muitos mal-entendidos.

Primeiro ponto positivo da maneira pela qual o filme é conduzido é justamente não cair nos estereótipos. Viola, apesar de gostar de futebol e estar longe de ser a dama que sua mãe desejaria, não é desenvolvida como um personagem masculinizado, ainda que esteja constantemente caracterizada como seu irmão. Duke, o colega de quarto de Viola/Sebastian, também não é mostrado como os acéfalos jogadores de time de colégio que costumamos ver nesse tipo de filmes. Até mesmo a clássica personagem "nerd", aqui personificada por Eunice, consegue despertar atração em um dos garotos populares da escola. Não é que o filme inove propriamente, mas consegue trabalhar de uma maneira diferente dentro dos clichês relacionados aos personagens.

A protagonista Amanda Bynes, apesar de pouco experiente – fora o seriado de TV que a tornou conhecida, "What I Like About You", sua carreira cinematográfica ainda não tem maturidade – mostra que dá conta do recado e está no caminho certo. Embora tenha performances por vezes um tanto exageradas, a jovem atriz tem carisma e parece prometer ser mais um dos rostinhos conhecidos em produções desse tipo. O resto do elenco é composto de nomes também oriundos de séries de TV ou de outras produções de menos destaque, sem figuras exatamente destacáveis, mas ninguém que deixe margem a críticas severas.

Andy Fickman não dá indícios explícitos de ser um iniciante no ramo cinematográfico. Apesar de ter uma filmografia ainda restrita, esse é um nome que talvez figure na lista não tão seleta, mas bem solicitada, de diretores especializados em produções comercialmente interessantes. Não se pode dizer que o diretor fez um trabalho primoroso, até porque não é possível fazer tal avaliação baseada numa produção como esta, mas dentro do que se propõe, "Ela é o Cara" está bem conduzido.

Os demais aspectos técnicos como trilha sonora ou fotografia não dão margens a comentários destacáveis. Vale ressaltar que a produção cumpre bem sua proposta, mas não chega a ser um filme notável. O que a torna diga de elogios é o fato de conseguir se diferenciar da mediocridade sem propósito que vem invadindo nossas salas de cinema ultimamente sob a classificação de comédia.

Para quem nutre preconceito pelo fato de o filme não trazer nenhum nome de pessoa conhecida em seu elenco e produção, esse é um detalhe que passa despercebido. Se a pedida é diversão leve e sem compromisso, "Ela é o Cara" pode certamente entrar na lista das opções.

Amanda Pontes
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