Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Abraço Partido, O

Uma das razões de eu não ter gostado do filme talvez tenha sido o fato de eu esperar ver um filme sobre alguém que vai viajar para a Europa, para tentar a vida, transformar a sua rotina em algo novo e excitante.

O novo cinema argentino tem quase sempre me dado prazer. Mas mais cedo ou mais tarde, esse cinema também poderia a vir me aborrecer. Foi o que aconteceu com “O Abraço Partido” (2004), de Daniel Burman. Pra mim, foi realmente uma surpresa, já que eu esperava gostar bastante do filme, que até ganhou dois prêmios importantes no Festival de Berlim.

No filme, Daniel Hendler é um rapaz argentino e descendente de poloneses que espera melhorar de vida se conseguir uma cidadania polonesa e assim se dar bem na comunidade européia. Ele trabalha numa galeria, formada por várias mini-lojas. Interessante como a
maioria dos filmes argentinos mostra a dificuldade econômica que o país está passando. Pudemos ver isso, por exemplo, em “Nove Rainhas”, “O Filho da Noiva” e ”Lugares Comuns”. Nessa galeria comercial de “O Abraço Partido”, as dificuldades para pagar as contas também é objeto de preocupação de todos.

Uma das razões de eu não ter gostado do filme talvez tenha sido o fato de eu esperar ver um filme sobre alguém que vai viajar para a Europa, para tentar a vida, transformar a sua rotina em algo novo e excitante. E o que eu vi foi um filme centrado num lugar chato, com pessoas pouco interessantes e um protagonista meio perturbado. De tanto correr feito
doido, ele mais parecia uma versão masculina da personagem de Cléo Pires em “Benjamim”.

Outra coisa que me fez ficar aborrecido com o filme foi o uso da câmera na mão, quase sempre muito próxima dos atores, com poucos planos gerais, deixando uma sensação de claustrofobia. A câmera não está tão próxima como em “O Filho”, dos irmãos Dardenne, mas no que o filme belga tinha de intrigante, o filme argentino tem de tedioso. Nem mesmo a loirinha que trai o marido idoso e que é a aventura amorosa do rapaz chega a esquentar o filme. Ou a ex-namorada que ele encontra grávida por acaso. Ou mesmo o mais importante de todos os coadjuvantes: o pai do rapaz, que aparece ferido de guerra, justificando o título do filme. Nem amigos legais ele tinha. Então, porque diabos ele não se mandava logo do lugar?

O ator Daniel Hendler trabalhou pela terceira vez com o diretor Daniel Burman. Anteriormente, os dois trabalharam em “Esperando o Messias” (2000) e “Todas as Aeromoças Merecem o Céu” (2002), dois filmes que não me lembro se foram exibidos comercialmente no Brasil.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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