Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Aeon Flux: Operação Terminus

Vou logo adiantando que o filme é ruim. Realmente péssimo. Digno de Framboesas de Ouro (prêmio contrário ao Oscar). Ele chega sem muita força aos cinemas depois de ser massacrado pela crítica estrangeira e acaba confirmando o porque da falta de elogios. Na verdade, ele tem quase nada que se possa elogiar.

Sempre me surpreendi com as chamadas totalmente sem sentido da MTV. Elas vão de bastante incompreensíveis a nojentas, mas nem por isso são ruins. De vez em quando você capta o assunto e vê que de fato são deveras inteligentes. Quem acompanhou os primeiros passos da MTV no Brasil deve se lembrar de Aeon Flux, um desenho tão curioso quanto essas chamadas que só esse canal possui. À época, diferente demais de hoje, a emissora se propunha a uma grade bastante alternativa. Hoje, muitas pessoas comentam e sentem falta dessa antiga programação. Mas, esse assunto, é só para mostrar um pouco o clima que o filme nos transmite: frio e opaco, onde as cores não prevalecem e o branco se destaca em um preto forçado, pois ele representa a morbidade da época em que o filme se passa.

Essa época é 400 anos além da nossa. Onde um imperador impõe sua ideologia sobre uma sociedade de forma ditatorial. Pessoas que vão de encontro a seus pensamentos ou formas de agir acabam desaparecendo ou assassinadas de forma bastante silênciosa. Contra essa organização há um grupo altamente treinado cuja missão é simplesmente destronar toda essa façanha ditatorial. Nesse grupo, Aeon (Charlize Theron) se mostra como a melhor e mais bem treinada integrante e logo no início do filme já é labutada de aniquilar de vez esse temível imperador. No entanto, por mais inexplicável que possa parecer, ela tem um estranho laço amoroso com ele, o que, inclusive, a deixa um pouco livre da repressão.

O filme nos mostra um roteiro confuso e mal explorado. Para quem não assistiu Aeon Flux em desenho, como eu, tudo fica chato e logo dá uma sincera vontade de sair da sala de cinema. Esse meu sentimento foi um reflexo exato do que o filme passava; desgosto. O que vem acontecendo freqüentemente aconteceu mais uma vez nesse longa. O trailer é maravilhoso e causa uma sensação de que o filme vai agradar bem, mas na hora do vamos ver, não é nada aquilo que o trailer demonstrou. É só um filme, que nem pode ser considerado como pipoca, pois o termo é mais familiar, que não vem a acrescentar nada aos cinemas. Talvez para a performance em um próximo filme de ação em que se precise usar bastante da agilidade, o filme tenha adicionado isso no currículo de Charlize Theron, afinal, ela deve ter gastado algumas horas treinando para ter a mobilidade que foi apresentada por sua personagem.

Em um roteiro que se passa a 400 anos do que estamos vivendo devia-se ter, no mínimo, uma boa ambientação para nos sentirmos mais a vontade caso as cenas de ação não empolgassem, como no caso aconteceu, elas não empolgaram mesmo. A ambientação é péssima. Não entendi nada daquela época. Nenhuma daquelas parafernálias também foram aceitas por mim e, finalmente, é um dos maiores erros do filme.

Nas cenas de ação, que poderiam dar um gostinho a mais ao que víamos, acabou sendo a pior parte do filme. Só isso! Nada daquela sensação: “ô mentira grande”, mas sim uma mostra de algo muito mal feito. Quando nas lutas, as câmeras encobriam as partes do corpo da protagonista em que os movimentos são despejados. Como o soco, os chutes e todos aqueles movimentos circenses. Ela corre em direção a vitima, dá um pulo ou uma cambalhota, vemos que vai acertá-la e pronto, a câmera da um close em algo não tão importante e quando o plano se abre a vítima já está com o corpo esparramado no chão.

Uma façanha chata do filme é que ele não explica nada ou quase nada. Não vou a um cinema tendo que aceitar o que as imagens me transmitem, mas um roteiro cabível a elogios deve, por si só, salvar a trama fazendo com que aceitemos mais as sensações futuristas e totalmente avassaladoras a que o filme nos submete. Aí lá vem novamente aquela vontade de abandonar a sala de projeção com alguns minutos de filme. Sinceramente, se o primeiro sai, muitas pessoas sairiam também. Eu aposto!

Elogios para a beleza de Charlize Theron. Ela demonstra uma personagem leve e sutil, mas com bastante capacidade de executar suas missões. Porém, sua interpretação quanto a passar uma concepção de um personagem bem a quem do que estamos acostumados, não agrada muito. Creio que qualquer outra atriz com o treinamento que ela teve, poderia ocupar facilmente seu papel, entretanto, por função de marketing, o nome dela é importante no elenco. Por outro lado, o resto do elenco é totalmente desprezível. Sem meias palavras, não se salva um. Ao contrário de trilha sonora que dá um “tchan” legal na cena de ação. Bem frenética, justifica o momento alvoroçado em que as personagens estão sendo submetidas. Mesmo sendo uma coisa fácil de ser feita, vale a pena elogiar isso.

Vale ressaltar que o filme é uma criação do animador coreano Peter Chung, que, entre outros trabalhos, é responsável pelo curta-metragem “Matriculated” do projeto “Animatrix” . Traduzindo: ele tem categoria para ser melhor do que mostrou ser nesse filme. O foco principal dele era unir concepções visuais futurísticas pop, no melhor estilo que se tenha de algo nonsense, mas sem deixar de lado a sutileza susceptível a elogios da animação oriental. Pensando comigo, o resultado seria algo deveras hermético e violento que representaria a trama de forma fidedigna a que se propunha se o filme tivesse uma boa ambientação. Porém, não aconteceu de forma alguma!

O filme poderia ter sido um fator para alguém vir a reviver a antiga série da MTV e apresentá-la a geração presente, mas com o que foi mostrado, dificilmente isso vai acontecer. O que de fato o filme trás é uma pá para cavar bem fundo a cova da pobre coitada (a série). Nada contra a série. Na verdade, o filme pode até ter exterminado as chances que uma boa série em desenho ou animação gráfica teria de chegar à tona na programação de algum canal.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre