Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 21 de agosto de 2005

Água Negra

Neste mundo globalizado, até o cinema entrou na onda. Uma história japonesa, estrelada por atores norte-americanos e dirigida por um brasileiro. E, quem diria, saiu algo muito interessante!

Mais um diretor brasileiro conseguiu adentrar no mundinho-fechado-apenas-para-
estadunienses chamado Hollywood. Para alguns pode ser que isso não seja necessariamente algo a se vangloriar, mas, querendo ou não, é sempre bom ver gente brasileira mostrando seu talento em outras terras. E, não é que dessa vez o resultado saiu bom! Aliás, ótimo até! :o)

Esse novo rebento que resolveu ir galgar novos ares atente pelo nome de Walter Salles, um dos diretores brasileiros mais premiados e conhecidos por todo esse mundão.

Que Salles é perito em falar sobre emoções, isso não é novidade; basta assistirmos aos maravilhosos “Central do Brasil”, “Abril Despedaçado” e “Diários de Motocicleta” (parêntese para uma informação inútil que acabei de ver: com exceção do “O Primeiro Dia”, nenhum filme dele tem artigo antes dos nomes; agora voltamos à nossa programação normal) para constatarmos tal afirmação. Agora, olha o tamanho do abacaxi que Salles pegou para si: uma história japonesa, estrelada por atores norte-americanos e dirigida por um brasileiro. Isso que é globalização! :oD

Entretanto, como disse no primeiro parágrafo, graças aos deuses do cinema, ele se saiu muito bem. Mas calma, não espere ver um suspense de tirar o fôlego como vimos em “Os Outros” ou “A Bruxa de Blair”. Nesta nova adaptação de um filme de horror japonês – olha o nome da criança: Honogurai Mizu No Soko Kara (!) -, não vemos garotas-mórbidas-com-cabelos-molhados-no-rosto, imagens aceleradas, flashes com imagens impactantes e bizarras ou algo do gênero. No filme de Salles, tudo é construído pouco a pouco; a tensão vai crescendo vagarosamente, até culminar em um final interessante, mas parecido com outra produção cujo nome não irei revelar (qualquer coisa me mandem um e-mail que eu digo :oD).

Contudo, o pequeno problema está ai: a tal tensão ela cresce tão devagar, mas tão devagar, que a primeira hora está mais para um drama do que qualquer outra coisa. Nunca fica explícito, de início, que existe algo sobrenatural no ar pois até então a tal ‘água negra’ é apenas uma infiltração no apartamento – na verdade, um quitinete – de Dhalia (Jennifer Connely, de Réquiem Para Um Sonho).

Já que citamos coisas propriamente ditas do filme, vamos à história: Dhalia é uma mulher que está passando por dificuldades em relação à sua financeira e seu casamento. O filme se inicia já com o processo de divórcio correndo e a questão sobre quem irá ficar com a filha do casal gerando discussões. Como normal e até uma segunda ordem, Cecília (Ariel Gade, de “A Inveja Mata”, seu primeiro trabalho para o cinema) vai morar com sua mãe no tal apartamento onde tem a famigerada água negra do título. Pronto. Se eu falar mais estraga.

Pois bem, o único problema do filme é essa relativa lentidão que as pessoas podem sentir ao ir vê-lo esperando um suspense. Porém, depois de uma hora de projeção e quando as coisas vão tomando tons sobrenaturais, o bixo pega! Admito que não tomei sustos de pular da cadeira como no “O Massacre da Serra Elétrica” de 2003, mas o clima se torna tão tenso, com aquele grande ponto de interrogação na sua cabeça sobre como a história irá terminar, que, no final, o saldo saiu bem satisfatório.

Para variar, Walter Salles demonstrou muita competência ao tratar de um assunto que não era a sua área. Não se entregando aos clichês – citados no terceiro parágrafo – que têm em 9 entre 10 adaptações de filmes japoneses, ele usou e abusou de sua experiência em dar tons poéticos a qualquer coisa e acabou criando um filme híbrido em seu gênero, mas único em direção.

Seguindo o bonde, Jennifer Conelly ficou muito bem no papel de uma mãe que tenta suprir com carinho e atenção a formação de sua filha; coisas que sua mãe não o fez. Outra intérprete que chamou atenção foi a pequena Ariel. Pode ser que tenha sido a minha afeição que tenho por crianças, mas ô meninazinha bonitinha e simpática; à cada fala dela eu abria um sorrizão! :oD

No mais, “Água Negra” pode parecer mais uma adaptação, entretanto, não é filme para os tão famosos ‘verões americanos’ do país do Tio Sam e/ou para as ‘férias estudantis’ do país do segundo maior roubo do mundo (pense…) e não é à toa que ele não está indo muito bem nas bilheterias. Vá sem esperar um excelente suspense e com certeza você irá gostar e, quem sabe, pode até derramar uma pequena lágrima no final.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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