Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Albergue Espanhol

"Albergue Espanhol" é muito mais do que uma simples diversão, uma descontração. É um passeio por toda Europa, uma maneira de viver.

Ao ver esse filme, eu tive a mesma sensação que tive ao ver "Quase Famosos". Ok, não exatamente a mesma, eu não fiquei com vontade de montar uma banda e sair em turnê, mas meu próximo plano é ir para Europa e morar num "albergue espanhol". E mudar, refletir e me tornar uma nova pessoa. Eu não gosto de viajar, prefiro ficar aqui, na minha cidade natal, onde tem tudo. Em fato, eu não me importaria em viajar para o exterior, principalmente se eu não tiver que voltar. Mas, a sensação que tive com "Albergue Espanhol" foi de sair por aí e querer conhecer o mundo e aprender com isso.

Xavier é um estudante francês de economia que tem a pportunidade de trabalhar no Ministério da Fazenda, mas para isso, é necessário o domínio da língua espanhola. Resolve então estudar na Espanha por um ano, e vai morar com outros sete estudantes de diversas nacionalidades.

Eu diria que o filme lembra um pouco "E Sua Mãe Também", na descoberta da sexualidade, na mudança de atitude e na concepção do mundo. Mas "Albergue Espanhol" é mais profundo, ele não pára por aí e faz uma análise da cultura e da Europa atual (não existe uma só cultura devido a globalização, mas sim, um agregado de culturas em diferentes fronteiras) – o que também pode servir de parâmetro com "E Sua Mãe Também" que visualiza a contextualização da história do México.

Acho que o filme me agradou tanto porque eu me identifiquei com ele. Sabe o sentimento de querer mudar? evoluir? e viver novas experiências? Exato, eu quero tudo isso. Cansei de ser quem eu sou, e viver onde vivo, e ter de viver sob as condições que vivo. Quero conhecer o mundo, viajar, conhecer novas pessoas, novas ideologias. Quero ir para França, Itália, Espanha, Alemanha, Chile… Eu quero descobrir o mundo e me descobrir. Eu quero viver experiências da qual nunca vou esquecer e vou poder contar e contar e contar. Eu quero tantas coisas, posso até parecer ingrato por tudo que tenho (e sinceramente dou graças por tudo que tenho, disso não tenho o que reclamar), mas quero mudar. Eu atualmente não conseguiria fazer isso, e não é pelos estudos ou pelo dinheiro que não tenho, mas há coisas imprescindíveis para minha sanidade que eu não conseguiria deixar para trás.

Acho que esse texto, passou um pouco da barreira analítica e beirou mais a pessoal, mas essa toda minha vontade implodiu quando eu vi a celulóide. Xavier faz exatamente isso, ele se descobre num novo mundo, ele conhece pessoas e lugares, ele passa momentos que nunca vai se esquecer, ele se torna tudo aquilo que ele queria ser e não sabia. Ele ama aquelas pessoas, coisa que nunca tinha acontecido com ele. Por isso me identifico tanto com ele, porque ele se sente preso no próprio mundo de incertezas e conveniências. Eu não amo muitas pessoas e nunca amei, nunca prestigiei um número tão grande de pessoas. Eu quero isso.

Romain Duris, o Xavier, é um ator excepional. O elenco todo está muito bom. O roteiro é simplesmente a história do que eu gostaria de viver, a direção é exatamente como eu gostaria de dirigir. Vou ainda dizer que esse é o melhor filme de 2002 e que eu não vejo a hora de adquirí-lo e revê-lo. Porque eu sinto a necessidade de me descobrir e descobrir o mundo, e como o meu plano de ir para Chile (ou fazer algo como Xavier) não chega, aos poucos eu concretizo isso com a lição de vida que o filme se tornou na minha singela visão de vida e mundo.

Eu acho que mais nada será o mesmo depois desse filme. Nem fiz uma jornada inesquecível e já estou nostálgico. Mas ainda quero concretizar isso sem deixar o imprescidível para trás. E espero que logo.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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