Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Alexandre

A crítica e seus excessos. Os estadunidenses destruíram o filme. Sim, ele tem defeitos. Afinal, qual filme que não tem? O principal problema está no perseguido Oliver Stone. Depois dos seus dois filmes sobre Fidel Castro ("Comandante" e "Looking for Fidel") tudo mudou! Mas no final das contas, o filme é cansativo. Às vezes, até chato, mas é como uma aula de História: você pode até não gostar da matéria, mas algo vai te atrair e ensinar.

Há três lados da crítica do cinema. Em um lado, ela é feita para os meios de comunicação. São aqueles que usam do seu poder de mídia para colocar suas frases de efeito no cartaz do filme, por exemplo: "O melhor filme do ano"; "Majestoso e grandioso, como não se via há anos"; etc. No final das contas, são pagos pelas distribuidoras dos filmes para elogiarem. Mídia manipulada. Crítica manipulada (algo que você nunca vai ver no CCR). Por outro lado, há aquela crítica conservadora. Não se pode mexer nos padrões éticos da história e/ou sociedade. São aqueles velhos (as) chatos, rabugentos e frios (praticamente sem vida). No último lado, e mais escasso, estão os críticos como os do CCR. Jovens (ou não), pensamentos modernos, que procuram sempre o aprendizado. Não são manipulados e não temem nada que possa vir a contrariar a sua opinião (temos exemplos na mídia nacional, como Pablo Villaça do Cinema em Cena, que por sinal é um guerreiro, por conseguir superar as dificuldades do setor e continuar ativo).

Certo, você deve estar se perguntando: "Sim, e o Quico?". Pois é, a crítica estadunidense é a do meio, a conservadora. Está explicado porque o filme foi tão mal recebido por aquelas bandas. E se você for pesquisar, eles pegaram no pé do diretor Oliver Stone porque o filme fala, além das demais coisas, da vida sexual de Alexandre. Peraí! Tá certo, todo mundo tem o direito de achar o que quiser, mas criticar o filme por causa desse tocante é, além de tudo, discriminação. O filme tem inúmeros defeitos, mas se o diretor quis abordar o lado sexual de Alexandre, qual o problema? Conservadores! Esse é o problema. Eu já não vejo dessa forma. Critico o filme pelos seus defeitos na produção, falhas no roteiro e na direção, não por não aceitar a opção sexual do herói do filme e tentar passar que aquela é uma imagem "errada" para meus filhos.

Todo diretor é elogiado ou crucificado por aquilo que ele faz (ou deixa de fazer). Oliver Stone tem que ser criticado pelas falhas na produção, na história ou até por causa da escolha do elenco, e não por mostrar o lado sexual de Alexandre. Peço desculpas aos leitores se prolonguei demais o início da crítica, mas eu precisava falar sobre essa critica fajuta que existe nos Estados Unidos e em muitos jornais nacionais. Vamos ao filme, primeiro, conhecendo um pouco da sua história.

Vindo da minúscula Macedônia, Alexandre (Colin Farrell) conquistou o Império Persa, o Egito e finalmente encontrou seu caminho à Índia. O filme mostra o trajeto do conquistador durante os seus anos de triunfo, bem como o relacionamento que ele mantinha com Hephaestion (Jared Leto). Alexandre, o Grande, um dos mais conhecidos conquistadores. Cruel e frio, ele criou o maior império que o mundo já viu, aos 32 anos. Ele foi muitas coisa para muita gente – um rei-guerreiro audacioso, cheio de ambição, de coragem e de arrogância da juventude, que comandou seus homens contra o temido exército persa. Enquanto aumenta seus domínios, Alexandre precisa lidar com seus pais, Felipe (Val Kilmer) e Olímpia (Angelina Jolie), sua esposa ambiciosa. Também com Roxane (Rosario Dawson); com o seu amigo de longa data Hephaestion (Jared Leto) e com o general Ptolomeu (Anthony Hopkins), seu homem de confiança.

É uma super-produção! Foram gastos US$ 150 milhões, mas infelizmente o resultado não é muito agradável. Podemos dizer que "Alexandre" é infinitamente superior a "Tróia" (com Brad Pitt). Se bem que isso não é grande mérito, mas enfim… Infelizmente existem muito defeitos. Defeitos feios, como confundir a cabeça do espectador com flashs mal elaborados e misturas intensas na história. Além do filme de ser cansativo demais, pois são três horas de duração. Né brincadeira não! A história do filme é interessante pra caramba, mas aceitar um filme de três horas com um desenrolar tão complicado (caso que não aconteceu com a fantástica trilogia "O Senhor dos Anéis"), é muito difícil. O filme é historicamente perfeito! Retrata de uma maneira intensa a vida do gigante "Alexandre". A biografia de Alexandre, o Grande, escrita por Robin Lane Fox serviu de inspiração e fonte de informação para o diretor Oliver Stone.

Historicamente falando, não podemos questionar a veracidade de alguns fatos mostrados no filme, devido ao desconhecimento da história de Alexandre. Mas como Oliver Stone decidiu usar a metodologia natural de uma adaptação de herói/mito da humanidade que todos conhecem, a chance de criação de algo além do que conhecemos (ou podemos chegar a conhecer pelos livros) é descartada pelo próprio diretor. Ele mesmo disse que não usou a imaginação para deixar o filme excitante ou atraente. Talvez esse seja o principal problema do filme. A falta do "cinema atraente", deixando-o no estilo "cinema monótono". Aula de História no primeiro horário de segunda-feira de manhã. O filme é isso! Um saco! Para compreender a mensagem do diretor é necessário se abstrair de tudo que possa atrapalhar sua concentração (amigos falando no cinema, celular, relógio que bipa, etc), e fixar os olhares nas legendas (porque se depender do sotaque bizarro dos atores, você está frito).

A escolha de Colin Farrell para protagonizar Alexandre pode parecer um pouco equivocada, mas o bad boy consegue sair-se bem. Além de ser talentoso ("Por Um Fio" que o diga), ele é muito carismático. Infelizmente ele teve um fardo para carregar esse filme nas costas. Isso comprometeu e muito a atuação dos demais atores (e a sua também). Angelina Jolie, que faz sua mãe, aparece pouco. Ela está se especializando em pontas nos seus últimos filmes ("Capitão Sky"). Anthony Hopkins, que faz Ptolomeu, é o famoso tapa-buraco do filme. É ele que narra toda a história. É impressionante ver como ele envelheceu. Val Kilmer, que faz o rei Felipe, está com 14 quilos a mais do que o normal, mas não compromete. Os demais atores não merecem tanto destaque.

Oliver Stone é conhecido por ser provocador. Neste longa, ele faz isso quando mostra várias vezes algumas cenas homossexuais do Alexandre com seu amigo de infância, Hephaestion (Jared Leto). A relação ardente dos dois deve ter causado a seguinte "indignação" nos críticos conservadores: "Como um rei da Macedônia, que, aos 25 anos, já havia conquistado 90% do mundo conhecido, há 2.300 anos, poderia ter sido … gay?". Preconceito! Enfim, Stone consegue provocar isso no filme. Alexandre também teve relações com uma mulher (a linda Rosario Dawson). Tanto que casou com ela, com o objetivo de unificar o império e gerar um herdeiro. Mas isso nada impede dele flertar com Hephaestion e com um dançarino que se veste como mulher.

As lutas entre exércitos são perfeitamente reproduzidas. Algo semelhante a "Coração Valente" ou "O Senhor dos Anéis", só que mais escuro, por debaixo de uma neblina do deserto de Gaugamela e da mata na batalha sangrenta da Índia. Às vezes, você pode se perder, tentando adivinhar qual é o exército do Alexandre e qual o inimigo. É confuso, a câmera treme muito. O figurino (e que espetáculo de figurino!) tem que ser comentado. Os exércitos estão altamente caracterizados. Roupas perfeitas para as batalhas, fora aquele capacete horrendo do Alexandre.

O filme cansa. Pode parecer chato, às vezes, mas é temos que dar mérito a Stone e ao elenco. Mesmo que a ajuda desse último seja bem pequena, o filme não pode deixar ser visto. Quem sabe você não assimila algo interessante como eu fiz. Aprendi o seguinte: quando você esta lutando por algo na sua vida, seja no trabalho, em casa ou na rua, nunca hesite em atacar, pois, ao hesitar, você será atacado. Foi uma das lições que Alexandre aprendeu, e foi dessa forma que ele se tornou o maior general que o mundo já viu, reconhecido como tal até mesmo por Napoleão. Se o filme não consegue juntar tudo isso que ele foi, pelo menos deve servir como um ótimo entretenimento ou um sonífero, afinal, dormir no cinema com um ar-condicionadozinho geladinho, abraçado com sua namorada ao lado, não é nada ruim.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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