Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Cão de Briga

“Cão de Briga” chega para queimar a língua de quem fez uma pré-critica do filme, julgando-o pelo marketing ou pelo que conhecia dos filmes anteriores de Jet Li. Mas também não chega a ser um espetáculo.

Alguns filmes são ruins, pois não tem uma boa filmagem ou péssimas atuações. Desses filmes, algumas vezes, podemos salvar o roteiro, que já o deixa mais vistoso. Outros têm um ótimo roteiro daqueles que passam uma mensagem, menor que seja, e uma parte técnica muito boa. Esses filmes são denominados de ótimo. Quando o filme tem metade de cada uma, ou seja, roteiro e estrutura medianos, então ele passa a ser bonzinho, não deixando de ser uma boa pedida, mas não sendo nada de novo.

É aí que entra “Cão de Briga”. O filme é bom e um pouco diferente dos outros que Jet Li fazia. Em vez de tudo acarretar a uma briga, a trama, em dados momentos estratégicos, almeja o contrário. Para os expectadores que gostam das seqüências de lutas, ele ficará devendo em algumas partes, que poderia levar a um combate e por causa de uma morosidade usada com o desenrolar da trama, mas logo volta satisfazer.

Jet Li, é Danny. Em um dos nomes originais, o filme é “Danny the Dog” (Danny o Cachorro), o que já mostra quão será para trama esse personagem. Ele é uma pessoa treinada para matar sempre que seu chefe mandar. Com a mente completamente bloqueada ele se bitola a fazer sempre isso. Sempre que a coleira dele é tirada, é sinal que serão vistas seqüências de lutas que tiram o fôlego dos aficionados por elas. Em uma de suas missões ele entra em contato com o piano e com um velho cego que trabalha afinando-os, no caso Sam (Morgam Freeman, de “Menina de Ouro”). O encontro não dura muito, pois logo ele tem que voltar para sua vida de matança. Entretanto, quando Bart (seu chefe) sofre um acidente e fica em coma, Danny retorna imediatamente para o reencontro com Sam, fazendo aí o desenrolar da trama toda.

O primeiro contato da dupla é muito interessante de se ver, nos mostrando que Jet Li está muito bem no papel. Seu personagem tem jeitão de menino novo, pois com a mente travada somente para ensinamentos de violência, ele nunca foi ao mundo aprender o que de fato é a vida. Por incrível que pareça, nós notamos sim esse tom jovem nos olhos e na interpretação de Jet Li. Só não gostei muito em algumas horas que ele exagerou um pouco nas caras e bocas, mas nada que apague o resultado final. As lutas estão no nível de sempre. Como grande lutador que ele é, não deixa Jackie Chan para trás de forma alguma.

Morgan Freeman, o eterno coadjuvante? Não, ele tem uma grande missão no filme, que podemos dá-lo status de protagonista (mesmo não sendo ao pé da letra). Não somente pela missão, mas pelo quase perfeito trabalho. O cego Sam consegue convencer com a franqueza que transmite Freeman aos seus personagens. Não teve nada de inovador na interpretação do senhor, entretanto é complicado manter uma linha tão boa, tanto tempo quanto a que Freeman vem mantendo. Lembrando que ele vinha de um excelente papel em “Menina de Ouro”, o que ficaria difícil manter o nível, mas conseguiu faze-lo.

Bob Hoskins, o tio Bart, que faz toda a barbaridade, fará você sentir nojo de tal personagem. Mas, quando é pra você sentir o contrário, ele não consegue transmitir isso bem, deixando seu trabalho final desfigurado e incompleto. Foram exigidos dois tipos de personalidades do ator, porém ele só consegue se sobressair em uma. Outro ator, no caso atriz, também com bastante limite é Kerry Condon. Com pouca experiência, ela se perde nas interpretações triviais e, quando em dupla com Jet Li, vemos mais ainda o quão à vontade o lutador está. Kerry faz Victori, filha adotiva de Sam que ajuda Danny, o cachorro, nessa transição de vidas.

Um filme com ares suburbanos, não deixa bem claro sua real intenção de cenário. Outro erro, mas que não pode ser considerado besta. Um tom meio fúnebre e nublado não transmite o real sentido que era pra ser transmitido da cidade onde o gangster Bart faz suas cobranças violentamente. E cadê a polícia local? Ela não aparece em sequer um momento. Seria essa uma cidade sem lei? Fica um pouco difícil de aceitar os acontecimentos, tendo em vista que me pareceu mais uma penca de idéias jogada em um cenário, esquecendo-se de dar realidade a isso tudo.

Outro erro feroz foi quando se precisou dos famosos e bastante usados flashbacks. Ele foi muito ruim, pois, além de ter dado tudo de bandeja para quem o assistia, foi simplesmente jorrado na tela, sem deixar nenhum ar de suspense. Também não senti nenhuma pena do personagem que se servia das lembranças passadas, mesmo sabendo que era esse o objetivo. Talvez um clima mais bem estruturado, com os flashbacks detalhados e apresentados na hora certa, causaria isso. Além do mais, precisar-se-ia de uma boa trilha sonora, coisa que o filme não tem. São as músicas de sempre usadas para esquentar o clima da briga.

Como falei no início, alguns filmes transmitem coisas legais, por mais que sejam bestinhas. É isso que faz “Cão de Briga”. Uma mensagem de que não se deve desfazer-se do passado e certas vezes usa-lo para um futuro melhor, poderá agradar aqueles que buscam além das brigas. Por falar em briga, uma cena muito boa de luta foi feita quando Danny disputa seus golpes em um quartículo contra outro bom lutador. Apesar da rapidez, observei bastante a perícia de Jet Li com as artes maciais. Ótima seqüência de luta, mas nada de vibrar com ela, pega mal. Haha!

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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