Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de março de 2005

Casamento de Romeu e Julieta, O

Cada país possui a sua paixão. Alguns países são loucos por cinema, outros por baseball. Alguns países são loucos por música, outros por dança. O nosso amado Brasil é o país do futebol. "Nada melhor" do que retratar essa nossa paixão com uma paródia à Shakespeare.

Para entender o significado do filme, você necessita saber porque existe tanta paixão relacionada ao futebol. Por que quando o time para o qual você torce perde, as lágrimas escorrem? Por que quando o juiz deixa de marcar um pênalti, você só falta destruir as cadeiras dos estádios de tanta raiva? Por que quando acontece o gol, você vibra mais do que o nascimento de um filho? Emoções. Paixões. A paixão faz com que seu sentimento aflore e fique tão visível, que é impossível esconder qualquer reação da sua face ou movimentos. Em nosso país, o futebol é o dominador dessa paixão. Paixão tanta, que torcer pelo time rival ao que você ama é quase crime. É pior do que falar mal da sua própria mãe.

Não é difícil explicar porque há tanta violência nos estádios brasileiros. Além de o nosso povo ser mal educado (sem generalizar), a paixão e a cultura nacional fazem com que se você torce por um time rival ao de fulano, ele torna-se seu inimigo mortal. Mesmo que seja irmão ou amigo. É quase crime ver um individuo usando uma camisa do time contrário ao seu. Dá vontade de bater, espancar, arrancar a camisa e queimar. Infantilidade? Sim. Mongolice? Sim. Coisa de doente mental? Sim. Paixão? Sim. O filme em si gira em torno da paixão por Palmeiras e Corinthians. Você pode substituir esses times por Fortaleza e Ceará, Grêmio e Internacional, Atlético Mineiro e Cruzeiro, Flamengo e Vasco, e assim por diante. Tudo que é mostrando no filme acontece na vida real, independente do estado ou cidade.

Julieta (Luana Piovani) é atacante do time feminino do Palmeiras. Seu pai, Alfredo Baragatti (interpretado pelo ótimo Luis Gustavo), é palmeirense doente e membro do Conselho Deliberativo do Clube. Ele criou sua filha para ser mais uma apaixonada pelo time do coração. Romeu (Marco Ricca, num bom momento), é oftalmologista, viúvo e corintiano roxo. Ele se apaixona por Julieta e, por amor, não só finge ser Palmeirense, como se faz passar por torcedor fanático do Verdão. Tudo isso para não causar conflito com Baragatti. Através da mentira, Romeu conquista fácil o coração do sogrão, mas começa a arranjar problemas com sua fanática família corintiana, que é formada por Zilinho (Leonardo Miggiorin), filho de 22 anos, e pela avó Nenzica (Berta Zemel). Não demora muito e o inevitável acontece.

Quando Baragatti descobre a verdade sobre Romeu, Julieta terá que optar entre o amor que sente pelo pai ou a paixão de sua vida. Conflitos pessoais e familiares eclodem em uma trama apaixonada que mistura drama e humor rumo a um desfecho em que o amor sagra-se o grande vitorioso do confronto entre as famílias rivais.

Décimo sexto longa metragem de Bruno Barreto, "O Casamento de Romeu e Julieta" é um filme sobre paixões que envolvem Romeu e Julieta, e também pai e filha, avó e neto, baseado no conto "Palmeiras, um Caso de Amor", de Mário Prata. Barreto, depois alçar vôos por Hollywood em "Voando alto" (2003), colocou o rabo entre as pernas e voltou para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Desta vez, Barreto acerta em cheio na história, apesar de não saber conduzir bem o desenrolar dela. O começo meio babacão pode ficar de lado. O que realmente reflete a realidade é quando Romeu começa a conhecer a família de Julieta. Hilário!

Luís Gustavo dá um show. Ele é o único do elenco que mostra competência para levar nas costas esse filme. Tanto nos momentos engraçados, como nos momentos de "emoção". Eu sempre gostei muito do ator, desde a época do saudoso "Sai de Baixo". Matei as saudades nesse filme. Luana Piovani mostra que é mais bonita do que talentosa, mais uma vez. Marco Ricca cumpre bem o seu papel de Romeu, mas ele mostra que a comédia não é o seu forte. Sem falar na falta de química entre os pombinhos.

Fazendo uma analogia a "Bossa Nova", Bruno Barreto é daqueles que fica sempre em cima do muro. Não caga, nem limpa. O filme vai agradar a quem gosta e conhece um pouco de futebol. Se você possui paixão pelo esporte, vai identificar-se demais com o filme. Pelo menos dessa vez não fizeram uma novela para o cinema. Eu até que gostei, apesar de não ser essas coisas todas. O que deixa um nó na garganta são as cenas das partidas que acontecem no estádio. Os jogadores parecem até marionetes. Mal-feito. Se eles tivessem contratado jogadores profissionais, talvez isso não tivesse acontecido.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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