Com doses de realismo e com um elenco de primeira, Roberto Moreira chega aos espectadores do cinema nacional - sedentos por uma boa programação como a que tivemos no ano passado - com um simples, mas excelente filme. Vale a pena dar uma conferida!
“Cada um por si e Deus contra todos”, disse o modernista Mário de Andrade em seu romance Macunaíma. O primeiro longa-metragem de Roberto Moreira, professor de Dramaturgia da USP, desmembra a frase em diversas situações paralelas, mas que levam a uma só realidade, sugerida pelo mar vermelho no começo e ao término do filme.
Essas situações são vividas por Cláudia, mulher frustrada que, ao perder o amante, destrói a própria casa e foge da família; Teodoro, homem demagogo, que mata por dinheiro e vai à Igreja Evangélica nas horas livres em busca de salvação e de cortejo à uma amiga de culto; Soninha, filha de Teodoro, enteada de Cláudia. Ela é moça inconseqüente, que passa a ter, em uma situação de carência, um caso com Waldomiro, “companheiro de trabalho” de seu pai.
Os personagens e dramas citados são a base do enredo e o estopim para o soco no estômago que levamos ao término da sessão. O filme é um misto de violências, das mais cruéis, físicas e morais. É bastante honesto, mostrando com realismo e naturalidade, uma família da periferia paulista.
Elementos que contribuíram para essa percepção objetiva da realidade foram os atores terem atuado tendo conhecimento apenas das cenas em que estavam gravando, vivenciando a trama mais profundamente; e a filmagem em câmera digital, que garante um aspecto de documentário, como se os espectadores estivessem observando as desavenças daquela família.
Podemos dizer que o ponto do filme é, indubitavelmente, o elenco. Leona Cavalli, ótima artista, conhecida por outros filmes fortes como “Amarelo Manga” e “Carandiru”, está em uma representação ainda mais dedicada. A jovem Sílvia Lourenço, em seu primeiro papel, já transborda charme e talento incríveis, conquistando a simpatia da crítica. Completam o time, os atores Giulio Lopes e Aílton Graça, também profissionais extremamente responsáveis.
Dentre os prêmios* conquistados por “Contra Todos”, estão o de Melhor diretor (Roberto Moreira), Melhor ator (Giulio Lopes), Melhor direção de arte e Melhor som no Cine PE; Troféu “Ver-o-peso”, no Festival de Belém, por Melhor atriz (Sílvia Lourenço), Melhor direção de arte e Melhor montagem; filme escolhido pelo Júri Oficial do Festival do Rio, e o prêmio de Melhor atriz para Sílvia Lourenço; Silver Firebird Award for Young Cinema, no Festival de Cinema de Hong Kong.
* Todas as premiações, em 2004.
